O sequestro do Menino Jesus
Valéria Gurgel
Era mês de novembro e a avó da pequena Stephanie, como de costume, todos os anos, montava seu presépio na sala de visitas. Estava mesmo lindo e isso enchia os olhinhos da neta de curiosidades e perguntas.
- Vovó, porque a senhora não vai deitar o menino Jesus na manjedoura?
- Porque ele vai nascer somente na madrugada de 24 para 25 de dezembro, conforme rege a tradição, minha menina.
- Mas, vovó! Tadinho dele! Ele está muito sujo e vai ficar cansado de esperar ai dentro dessa caixinha de sapato para nascer? - A garotinha estava mesmo inconformada.
Bastou a avó sair para a missa dominical numa manhã de domingo, para ela colocar uma cadeira em cima da mesa, subir e conseguir retirar a imagem do menino Jesus que ficava muito bem guardada dentro da caixa, no armário da sala, bem no alto, no maleiro da estante. Ela encheu sua banheira de água quente, organizou tudo, shampoo, sabonetes, óleos de banho, cremes hidratantes, toalha, perfume, cotonetes e deu aquele banho no menino. O enrolou em uma mantilha de sua boneca e ficou com ele no colo. Deu mamadeira, cantou cantigas de ninar fazendo-o dormir. Antes da avó chegar ela subiu novamente no banquinho em cima da mesa e o guardou dentro da caixinha.
Isso aconteceu por várias vezes durante os meses de novembro e dezembro, por todas os dias que sua avó tinha que sair por algum motivo.
Nas vésperas do natal sua avó, a dona Terezinha, enfim foi buscar o menino para deitar na manjedoura, mas ele havia desaparecido.
- Stephaninha! - a avó muito triste e decepcionada, chamou a menina para contar o desaparecimento do menino.
Stephanie de bochechas vermelhinhas de desespero, não conseguiu disfarçar e contou o que aconteceu.
- Vovó, me perdoe, mas eu tive pena do menino e o peguei para dar banho, mamadeiras e cuidei dele todos esses dias, com muito carinho, para nascer forte e cheiroso.
A avó caiu na gargalhada abraçou a netinha e disse:
- Ah, meu Deus! E onde ele está agora?
- No carrinho de minha boneca, vovó!
Quando foram buscá-lo, ele também não estava lá. Haveria sido sequestrado? Será que Herodes o teria encontrado?
O coração de avó e neta estavam em pedaços. Agora, a manjedoura do presépio seguiria vazia. Não mais seria um Natal de verdade entre família, sem a presença do menino Jesus.
Anos depois, a imagem do menino enfim foi encontrada.
Quase todo dissolvido, já sem viço, sem cor, na casa da outra neta.