Mãe É Bicho Estanho

Esse artigo está sendo escrito por culpa ou mérito de meu neto Murilo, hoje com quatro anos e traquinices de seis. Esse acontecimento não nos é estranho, pois meu filho Bill tinha cinco anos e idade mental de sete. Os médicos de doidos e de bons conseguiram atrasar o relógio biológico do menino, que mais parecia um capeta, só que atrasaram demais...

Murilo começou a ir para a igreja ainda mamando e quando começo a falar disse que queria ser padre. Ora, para uma família católica isso era uma bênção. As vocações sacerdotais nem sempre são esperadas, quando deveriam ser normais. Até ai tudo bem, até que um dia, o menino sabe-se lá porque, começou a mudar o rumo da prosa e disse que agora queria ser vaqueiro... Nossa, uma reviravolta sem tamanho, embora haja algumas similaridades! Verdade que já se notara nele uma preferência por bois, cavalos, vaquejadas, camisas quadriculadas, carroças, mas uma guinada dessa não estava nas minhas perspectivas. Aceitamos a ideia sem contradizê-lo, afinal ainda tem uma idade tenra.

Se mãe é um bicho estranho, avô e na maioria dos casos, de uma irresponsabilidade sem tamanho, pois não só estraga como concorda com tudo, como ainda ajuda nas traquinices. Assim, um dia eu falei que iria lhe comprar um cavalo e ele cuidou em colocar o nome de "Lâmpada" no animal. Seria rápido como a luz e suave como o vento. Verdade que isso foi como se diz, um tiro no pé. Todas às vezes eu que eu me arrumava para ir à rua, Murilo me perguntava:

-Vô, o senhor já vai comprar meu cavalo Lâmpada?

Para me livrar da incômoda pergunta que eu fomentara, respondia que sim e já pensava em engendrar uma desculpa para apresentar no retorno. Claro que eu não ia comprar cavalo algum e na volta eu notava que nem sempre ou nunca, minhas desculpas surtiam o efeito que eu queria. Murilo andava ressabiado, desconfiava de ser enrolado e algo me dizia que ele sabia que eu sabia de seus pensamentos. Até que um dia tive uma ideia das Arábias e falei que daquele dia não passava, eu iria desenrolar a história do cavalo. Na volta, sem cavalo e sabendo da expectativa falei:

-Meu moleque, o caso é esse: Eu comprei um cavalinho pra você, lindo que eu quero que você veja! Só que na hora de trazer, a mãe do cavalinho não gostou foi nada da prosa. Fez a maior confusão! Armou um barraco sem tamanho e disse que queria era ver qual era o macho pra tirar o filho dela de lá, que ela não tinha parido cavalinho pra ser vendido que nem carne na feira... Por isso eu não posso trazer mais o cavalinho.

Murilo me olhou um pouco espantado e saiu. Eu tive certeza que a história estava encerrada e que eu me livrara de uma arapuca que eu mesmo armara e caíra debaixo. Ele ficara convencido finalmente.

Tempos depois, minha filha mãe de Murilo, que mora em Propriá Sergipe, passa-me uma mensagem via WhatsApp neste teor:

- Painho o senhor nem vai acreditar! Hoje eu encontrei Murilo com outro coleguinha da mesma idade, os dois assentados ao batente da porta da rua conversando. Murilo disse: Meu Vô comprou um cavalinho Lâmpada pra mim, lindo que eu quero que você veja, só que na hora de trazer o cavalo, a mãe dele aprontou a maior confusão e disse que macho nenhum iria tirar o filho dela de lá... Que ela não tinha parido cavalinho pra cabra nenhum andar amontado... E concluiu:

-Tá vendo? Mãe é assim...!

Mãe é bicho esquisito, acaba com a alegria de qualquer um.

Um Piauiense Armengador de Versos
Enviado por Um Piauiense Armengador de Versos em 04/06/2016
Reeditado em 28/06/2020
Código do texto: T5656659
Classificação de conteúdo: seguro