A INDIGNAÇÃO DA TARTARUGUINHA
 
                    Certa vez um grupo de mais ou menos umas quinze tartarugas se reuniu e combinou que no dia seguinte fariam um piquenique num local bonito e aconchegante daquele bosque onde habitavam. Era um local pitoresco onde tinha um belo regato e uma paragem com muita areia onde podiam se divertir e descansar.
                    No horário aprazado todas chegaram porem veio também uma tartaruguinha [filhote], esta que não tinha sido convidada.
                    Imediatamente a tartaruga chefe e responsável pela organização do piquenique se contrapusera à presença daquela pequenina intrusa.
                    Justificou que ela era muito pequena e frágil e que não agüentaria a viagem longa, muito cansativa, sem ter ao seu lado uma outra tartaruga adulta para lhe assistir em caso de emergência.
                    Ponderou também que já não havia chamado outras tartarugas pequenas, filhas das integrantes do grupo, justamente porque não pretendiam ter preocupações. Assim pediu para as demais se manifestarem se podia ou não abrir uma exceção.
                     E todas, de certa forma, foram contra a participação da tartaruguinha intrusa no piquenique, pois não pretendiam ser babá da mesma. 
                     Mas também achavam que se a deixassem ali sozinha, ela poderia não sobreviver aos ataques dos diversos predadores.
                     Desta forma, depois de muita confabulação, chegaram à conclusão que a levariam, recomendando-lhe muito cuidado e atenção para não se distanciar e se perder do grupo.
                     Lá foram os bichinhos todos felizes, com suas mochilas nas costas, conversando e cantando a canção das tartarugas.
 
“Somos bichos cascas grossas”,
Somos duros de roer;
Adoramos estar nas roças,
Onde tem o que comer.
Não fazemos nenhum mal
A ninguém e nenhum ser,
Gostamos de todos os bichos
Eles conosco podem viver
Tartarugas bem grandotas
É o que ainda vamos ser
Comemos folhas e insetos
ASSIM ESTAMOS A VIVER
                    Chegando ao local, isto depois de uns dois dias de viagem, todas estavam extenuadas e com fome. Cada uma delas procurou uma pedra, um tronco de árvore, um açude onde instalaria seu acampamento.
Instaladas, a tartaruga chefe autorizou o inicio do piquenique. Todos poderiam comer suas refeições.
                     Eis que, a tartaruguinha intrusa anunciou e pediu:
                     Como eu não sabia se ia ser aceita ou não no grupo, não trouxe nada para comer. Alguém de vocês pode dividir seu lanche comigo?Eu sou pequena e como pouco. Uma folhinha de alface já é satisfaz.
                     Foi um alvoroço só. Ninguém queria dividir seu lanche Cada uma das tartarugas justificava:
- Só consegui pegar quatro minhoquinhas e é para passar o dia inteiro.
- Não posso dividir a couve com você porque só trouxe uma;
- Minhas alfaces já estão quase todos murchos, poucos estão em condições de comer.
- Você sabia que nós íamos te aceitar no grupo, porque não trouxe lanche?
                     Desta forma todos tinham lá suas razões para não dividir suas comidas.
                      Porem a tartaruga chefe, mas uma vez convocou as demais para decidirem o que fazer naquela circunstância. Cada uma daria à tartaruguinha alguma coisa para ela comer naquele momento, mas, para a refeição geral ela teria que voltar correndo buscar sua própria alimentação. Após todos concordarem lhe foi prometido:
- Pode ir sossegada que nós esperamos você voltar para comermos todos juntos.
                     Preocupada por ter que viajar de ida e volta novamente e ainda o fato de que iria comer sozinha quando voltasse, a tartaruguinha insistiu:
- Vocês vão me esperar mesmo? Posso confiar que não vou comer sozinha?
Todos responderam quase que uníssono: PODE.
                     Resolvido, cada tartaruga foi cuidar dos seus afazeres e a pequenina saiu buscar a sua alimentação.
                     Só que ela andou ai uns trinta metros e começou pensar:
Se eu for até a minha casa, vou demorar muito e as outras não vão me esperar. Tenho certeza disso. Além do que pode algum bicho maior me pegar e me comer. Hum!, Morro de medo de gaviões. Assim pensando teve uma idéia. Iria caçar por ali mesmo. Cataria uns mosquitos, umas minhocas e ia tentar achar uma horta pra buscar alguma verdura. Decidida sentou-se para descansar um pouco e ali adormeceu. Quando acordou aproximou-se do acampamento e viu que as suas amigas tartarugas estavam se movimentando pra lá e pra cá.
                     Procurou uma pedra entre os arbustos e ali ficou olhando o que acontecia. De onde estava ela via tudo, porem do acampamento ninguém podia vê-la, pois estava bem escondida.
                     No acampamento as tartarugas combinavam: Vamos comer nossa comida logo porque não estamos mais agüentando de fome. Afinal, já faz três dias que ela foi. Quando ela chegar à gente lhe faz companhia, mesmo que não estejamos comendo. Após muita relutância a chefe e coordenadora do grupo concordou. Iriam comer naquele momento.
                       Agruparam-se e cada uma pegou seu pratinho e começou a se servir das suas iguarias.
                       Indignada, a TARTARUGUINHA saiu do seu esconderijo e chegou bem próximo de onde todos estavam, pois as patinhas na cintura e falou bem alto:
ESTA VENDO SE EU FOSSE? SABIA QUE VOCES NÃO IAM ME ESPERAR. POR ISSO FIQUEI AQUI MESMO.
 
 
SÓ PARA LEMBRAR: 
 

                                               O ser animal [irracional ou não] tem muita dificuldade de raciocínio quando está com fome.
                     Por isso nem sempre se lembra de cumprir aquilo que prometeu, sem antes tratar de encher o vazio do seu estômago faminto.
                     Animais de grandes portes, poderosos, se arriscam perante outros mais fortes e poderosos ainda, esquecendo totalmente do perigo que correm, quando estão buscando alimentação no seu próprio território. 
                     O homem não consegue se concentrar nos estudos, no trabalho, na arte e em nenhuma atividade, se estiver carente de alimentação. 
                     Criança mal alimentada não aprende quase nada na escola. E o adulto nada produz se lhe faltar o sustento mínimo que lhe de força e coragem para enfrentar o dia-a-dia.

 
 
 

CLEMENTINO POETA E MÚSICO
Enviado por CLEMENTINO POETA E MÚSICO em 17/01/2011
Reeditado em 17/01/2011
Código do texto: T2735040
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