A VELHA ADORMECIDA

Era uma vez... num país bem distante...assim começam os contos de princesas ...e este também.

Ela era a menina mais bonita de todo o reino. Aos dezesseis anos estava costurando seu enxoval (naquela época não existiam lojas Riachuelo, M Martan, Americanas, Saara nem Rua 25 de Março e a noiva tinha que fazer seu próprio enxoval).

Acontece que a vizinha tinha umas filhas muito feias que queriam também se casar com o príncipe, e a mãe delas, aproveitando um descuido da mocinha, colocou em seu cesto uma agulha com algum tranquilizante ou veneno...sei lá... desses que só existem em contos de fadas.

Bem...como era de se esperar, a moça espetou o dedo e adormeceu.

Os pais dela ficaram sabendo que a única maneira de acordar a menina seria através do beijo de um príncipe.

Subornaram o guarda do palácio e conseguiram furar a fila para falar com o jovem herdeiro do trono.

Depois de muitas lamúrias dos pais, muitas promessas, e uma mentirinha, (que veremos depois) ele aceitou ir ao encontro daquela “pessoa adormecida”.

O príncipe chegou montado em seu cavalo branco, vestindo uma imaculada calça branca bem justinha, túnica azul celeste, cravejada de pedras preciosas, galhardões dourados e calçando uma reluzente bota.

Os cabelos eram da cor dos trigais do reino, parcialmente cobertos por um chapéu vermelho, cheio de penas de pavão; os olhos eram da mesma cor da túnica, com uma sobrancelha de fazer inveja à Malu Mader. As mãos eram macias como pétalas de rosas com unhas bem feitas. No pescoço tinha um lenço de seda pura estampado de flores.

Apeou e altaneiramente foi em direção da humilde choupana.

Os pais da moça vieram receber sua alteza na porta com um largo sorriso e cheio de esperanças contaram o sucedido.

Sua alteza entrou, olhou para a moça e disse:

- Não beijo nem moooortaaaa!!!!, cruuuzes!!!! eu entendi que era um filho e não uma filha, vocês mentiram pra mim, deveria mandar açoitá-los e jogá-los na masmorra.

Prefiro beijar um sapo – disse - (mas isso é outra história).

Saiu de lá ofendidíssimo, saltitando e gritando – Cadê meus sais???...cadê meus sais???... Vou ter um treco!!!...

A história correu todo o reino e também toda a Europa. Milhares de pessoas acorreram ao local para conhecer a adormecida.

Os pais, muito pobres, vislumbraram a oportunidade de ganhar alguns trocados com esse assédio e passaram a cobrar por visitante.

Isso já faz mais de cinquenta anos.

Hoje os pais já estão bem velhinhos, e a velha adormecida também.

Nesse meio tempo, os pais ganharam uma nota preta com a visitação e compraram até o castelo. (Se você for à Europa, o ingresso é de 3 euros).

Quanto ao príncipe...bem...ele fugiu com o cocheiro do castelo e hoje ganha a vida como travesti no Moulin Rouge de Paris.

Quem quiser que conte outra...

Wilson Pereira
Enviado por Wilson Pereira em 23/12/2009
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