CINZENTA TEZ

 

O céu estava azulzinho, a claridade do Sol a tudo iluminava, mas, o rosto de Luna não tinha luz, sequer a sua habitual aparência enluarada, eu só enxergava uma tez cinzenta, imagem opaca d'um ser sem vida...depois de um tempo do relógio da emoção, ela me contou o que se passava. 

 

Ciente que ela namorava Jorge,  que nenhum dos amigos dela aprovava, simplesmente por não sentir verdade no sentimento dele por ela. Jorge era tóxico para Luna, perto dele ela não expressava vontades, parecia ter medo e muito pouco falava. O seu olhar estava sempre baixo, era uma figura apagada e visivelmente subjugada. Só que ela ou não percebia ou temia alguma reação dele. Eu, Lumah, Moacyr e Olavo, resolvemos colocá-la contra a parede, afinal que amigos seríamos nós, se não tomássemos alguma atitude 

 

À princípio ela titubeou, enrolou e até tentou inventar uma história falsa, mas, acabou se abrindo aos prantos, lágrimas doridas que puseram cor na tez cinzenta. Ouvimos em silêncio, respeitando o tempo do mormaço dela, era preciso.

 

Luna disse que respeitava Jorge demais, tinha consciência de que as decisões dele eram essenciais para o bem dela, que ele tinha um verbo tão perfeito, que perto dele ela não precisava acrescentar nenhum fonema a mais. Ele sempre estava ao seu lado e, ela nunca ia onde ele não pudesse estar presente, ele já tinha programado cada passo da vida deles. Sequer visitava mais a sua família, pois não sentia mais a necessidade dos conselhos deles. Até porque, nunca estavam de acordo com as opiniões de Jorge, era melhor não provocar confrontos, por este motivo se afastou. Já com eles,  Jorge não implicava, pois parecia sentir que o amor fraterno que existia entre eles, fazia com que ele acreditasse que os amigos, percebiam que ele só desejava o bem dela, pois nunca questionaram as suas atitudes, até agora.

 

Foi preciso que a mãe dela, inventasse uma situação de saúde e, que não queria que Luna tivesse conhecimento, então, ele foi encontrar com ela sozinho. Só mesmo com uma mentira do bem, eles puderam abordá-la sem a presença de Jorge...e como ela precisava daquela demonstração de amor.

 

Jorge encontrou com Lúcia e Moacir, pais de Luna num lugar distante o suficiente, para que os amigos pudessem ouví-la por mais tempo. O grupo fez ver à amiga, o quão prisioneira mental ela estava dele, seu lume se apagara e a sua aparência, era a de uma criatura pálida de filmes góticos, refém do medo por um homem que nunca sentiu amor por ela, apenas posse e jugo de um feitor. Ela tinha que se livrar das algemas sem marcas do seu algoz. Seus pais e eles, seus amigos, já estavam dando os primeiros passos, mas, dependia só dela romper as amarras. Foi cruel, doeu, desmontou cada célula dela, mas, o amor verdadeiro e acolhedor dos amigos e da família, acenderam de novo a sua luz, trouxeram de volta a sua alegria, fazendo com que ela retomasse posse de si.

 

Os meses foram passando, até que um rapaz muito carinhoso de nome Chico, cruzou o caminho de Luna e aos poucos, foi colando os cacos dela, com muita compreensão, até que a antiga cinzenta tez, se tornasse apenas uma vaga lembrança, num mar de simpáticos carinhos. Quanto a Jorge...quem quer saber?   Não é verdade?

 

 

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 06/07/2023
Reeditado em 06/07/2023
Código do texto: T7830614
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