LADRILHOS (miniconto gótico)

 

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Antenor era um vazio de aparência musculosa e semblante aquilino com olhos gélidos, mas, Nana simplesmente adorava respirar o ar à sua volta, ela não se importava com todos os sinais que revestiam aquelas paredes, tampouco ligava para a sensação de estar sem rejunte...descolada...não pertencendo a ele ou a nada. Ladrilho destoante numa parede estruturada.

 

Nana suspirava a cada olhar de soslaio de Antenor e em sua cabecinha apaixonada, era como se o céu a abraçasse e seu coração se acendia, na pele os poros suspiravam e o corpo ardia. Ele por sua vez a tinha como um ladrilho lascado, que às vezes tentava consertar, aliviava seus momentos sem outras opções e concluída a obra, sequer deixava um cartão de visitas para próximas edificações, se desse vontade a procurava pois sabia que ela tolinha, sempre estaria à sua disposição.

 

Antenor quando a via em algum lugar, com aquele olhar de presa assustada, tentava de tudo para se afastar, já Nana o seguia como um radar mudo, se esgueirando pelos cantos, mas, sem tirá-lo de sua visão. Bastava um olhar frio e esquecia tudo que o que sofria tendo a certeza que em algum momento, cansado dos novos prazeres ele a invadiria. A conexão carnal aconteceria, para ele só mais um momento, um desvio das noites vadias, para ela redenção de carnes e ilusão cega.

 

Nana nem se lembrava mais da última vez que ele a procurou, sequer soube mais por onde ele andava, mas, dentro dela permanecia um amor destroçado que se alimentava de pequenas migalhas, mas, que por mais que soubesse que era apenas usada, dele não se esquecia. Caco quebrado, descartado...sem serventia.    

 

 

 

 

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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 09/02/2022
Reeditado em 09/02/2022
Código do texto: T7448377
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