A mulher que gostava da morte.
Existe pessoas que vivem arriscando a vida escalando montanhas, malabarismo em cordas bambas ligando um edifício arranha céu ao outro, ao assistir uma proeza dessa causa calafrios, imaginem um salto de paraquedas a três mil metros de alturas, mergulhar em águas profunda do oceano correndo o risco de ser devorado por um bravio tubarão, com tudo isso eu vejo que se trata de ser um parceiro da morte, andar de mão dadas com o perigo, viver lado a lado com o sinistro.


Dona Filóca também era assim, quando mais jovenzinha viveu aventuras  emocionantes de tirar o folego, escalar penhasco, salto para mergulho de  alturas incontáveis em águas profundas de lagos e rios, Filóca pernoitava em caverna sombrias e desabitadas, morrer para ela era questão de segundo, verdade dona Filóca sempre deu chances para a morte, ela se encontra ainda com vida e alegre, quando perguntavam para dona Filóca se não tinha medo de morrer, respondia que gosta da morte e  sempre cutucou a morte com uma vara curta, mas a morte nunca interessou em  leva-la, adoraria ir embora dessa vida em um cortejo lindo cheio de coroas de flores e faixas mas ah... na sentinela um fundo musical com som bem suave do Bolero de Ravel, com tudo isso  a magnifica rainha das sombras não me quer, mas fico no aguardo.
Dona Filóca:


- Nos anos oitenta chegamos do México a fim de trabalhar e construir uma vida melhor aqui nessa região, trouxemos um bom capital que conseguimos poupar,  meu pai e minha mãe tinham em mente que a nova América seria bom pra melhorar nossas condições de vida, agora o que restava em mente trabalhar, trabalhar.                                  
Hoje tenho uma certa idade, não sou velha não, meu corpo é jovial e de bela estaturas, muitos me diz ter uns 28 anos, sempre gostei do atletísmo por isso tenho ainda esse belo corpinho que a terra há de comer.   Fiquei só, morreram todos irmãos, eu me classificaria entre as três filhas mulher, a casula, a última a nascer, adicionando um irmão de criação, meu pai o adotou de uma família indígenas da tribo dos Navajos ainda antes de mudarmos pra cá, a mim ele sempre foi meu irmão muito querido, mesmo que não tinha meu sangue. Agora vejo que sou a última a morrer, fico esperando ansiosamente por esse dia, acho a hora da morte um momento sublime, desejo o fim dessa minha vida o momento mais lindo, uma amiga que aprendeu com seu pai, que aprendeu também com seu, e isso já vem atravessando gerações e gerações, aí, ela me disse que esse derradeiro suspiro é um ato muito delirante. isso ela revelou e disse afirmando ter muita certeza mais uma razão para que eu adorasse essa fatalidade.


 A morte lá onde vivíamos no interior mexicano tinha uma celebração especial, quando menina assisti muito evento fúnebre, os enterros para mim sempre foram motivos de muitas alegrias e satisfação, nós morávamos em uma pequena estancia de propriedade da família de meus pais, cultivávamos melancias e muitas outras plantas de lavoura, mas as  nossas melancias ganhavam de todos agricultores que por ali tinhas suas lavouras, diziam no povoado que a mais doce e saborosa melancia da qualidade santa Barbara, a cobiça era muito grande por essas frutas, meu pai ganhou um bom dinheirinho com o comércio dessa deliciosa fruta, mas infelizmente tínhamos que repartir a renda com os outros herdeiros dessa propriedade, sempre a nossa parte era maior. Filomena ainda continua a relatar a saga, trabalho e vida de meu pai que hoje eu usufruo dos legados deixado pela nossa família.                                                           
A semana passada fui me despedir de uma grande amiga de longa data, erámos como irmãs, dês de quando eu cheguei do México, eu ainda não falava português, meu espanholes dificultava as minhas pronúncia, não me articulava com claresa, soava com pouco de dialetos indicifravel.
Fiquei emocionada quando vi minha amiga ali deitada e coberta de flores, aquele caixão a meu ver parecia uma embalagem das mais linda, fiquei invejada de minha amiga morta, via que aquele momento poderia ser eu, mas me conformo porque é minha intima amiga a qual eu revelava tantos segredos, segredos comprometedor que agora ela leva para o túmulo lógico que não revelaria para ninguém que eu e meu irmão de adoção vivíamos um caso amoroso dês de meninos, essa minha amiga levou isso com sigo  para sempre, Firmina era o nome dela, ainda bem, deixou uma família, filhos já casados e marido viúvo, agora jaz para sempre.
Depois do sepultamento senti uma sensação que fiquei sozinha nesse mundo, apesar de me sentir uma pessoa sempre solitária, mas a minha verdadeira amiga me virou as costas roubando a minha companheira morte.
Quando me arrumava para voltar para o povoado eis que não me deixei passar por esquecida, pedi que o motorista do carro de aluguel dirigisse a esse local, mostrei a anotação, o motorista antes de pôr  o carro em movimento firmou as vistas na letra do endereço e me chamou atenção dizendo com ar de que me estivesse me informando algo – moça esse endereça é o IML, a senhora vai reconhecer algum corpo lá? fiquei furiosa com aquela pergunta tão desnecessária, mas não engoli a seco dando uma resposta bem colocada – eu ter que reconhecer corpo nesse local, isso não é o único motivo, posso ter muitos outros compromissos em ir no IML. Disse aquele senhor que  apressasse, toque o carro. Quando chegamos nesse endereço fui pedir a liberação da entrada no ambiente, logo o rapaz que controlava a entrada das pessoas foi logo me dizendo – outra vez dona Filóca, esse mês veio aqui umas sete a oito vezes, a senhora gosta mesmo de ver cadáveres.


Mas na verdade eu gostava mesmo de ver aqueles presuntos todos engavetado na geladeira, me encantava com  tudo aquilo,  não me furtei da oportunidade de apertar com meus dedos aquela carne gelada e morta desse difunto tão simpático, muito satisfeita antes de me retirar do salão resolvi ir ao banheiro, a estrada é longa eu não pararia o carro para urinar em qual quer lugar no mato, deixei a bolsa do lado de fora em cima de um banquinho que tinha ali perto da porta desse toilete, entrei, olhei o local se dava pra encarar, o cheiro de podridão estava por demais, melhor fazer essa nessecidade a beira da estrada, já que estou aqui, aqui farei.  Fiquei surpresa quando percebi um pedaço de rim humano extraído de alguma autópsia jogado dentro do vaso sanitário, tentei acionar a descarga mais não funcionou, fiquei perplexa com aquela situação, estava me retorcendo de urgencia de me aliviar,  o que fazer agora, mas logo se da um jeito...

 

Nesse momento percebi pelo vão de baixo da porta do banheiro parece que vi  um vulto passar, não dei muita importância,    não quis nem saber a quem pertenceu aquele pedaço de gente, sai, peguei a bolsa e fui embora.


Chegamos ao povoado as três horas da tarde, paguei o motorista, cheguei ao portão quando abri a bolsa para pegar a chave do cadiado da chácara percebi algo estranho que não fui eu que coloquei ali junto de minhas coisas, peguei na mão para conferir senti, era um bilhete enrolado em quatro velas, li o bilhete e constatei, dizia que me encontraria amanhã as quatro horas da tarde, vou te presentear com aquilo que você tanto almeja, ah... sabe aquele rim, era meu, você me viu na gaveta da geladeira, até me tocou com as pontas dos dedos, lembra não?... amanhã nós veremos naquele local que você gosta de ir curtir sua solidão, sabe onde é né?


Naquela sexta feira fatídica, Filóca levantou de manhã, foi até o tanque que os animais bebiam água, molhou o rosto, andou por ali conferindo as criações, os gatos e os cachorros estavam todos no quintal, mas o ambiente meio funesto, os cachorros latiam muito, os gatos miavam alto com som tenebroso, os cavalos e bois, vacas todos agitados, Filóca procurava por todos os lugares, parece que tinha alguém escondidos por ali, não encontrou nenhum vestígio, já foi adiantando deixando bastante água nos bebedouros dos bichos, comida para os cachorros e gatos e quando chegou a hora dirigiu-se para o local de encontro já era quase quatro horas da tarde, seguiu a trilha e chegou bem lá na velha figueira centenária, como sempre dona Filóca sentou-se sobre as raízes dessa árvore, esperava por aquele momento mais sonhado, não estava de bem com a vida, sabia e tinha certeza que nesta história havia algo de sobre natural e dizia que não tenho medo das coisas do além, se for pode aparecer que eu gosto de vocês, quero ver.  O espírito encarnaria no cadáver que ela teve contato  no IML, lembrou que aquele bilhete e as quatros velas teria deixado dentro da bolsa por ele, quando estava no banheiro havia deixado a bolsa para o lado de fora, foi no momento que passou o vulto visto por debaixo da porta, subto!... com uma rapidez fenomenal caiu como fosse um raio, desceu de cima da árvore em frente da Filóca um mostro horrível, segurava uma espada afiadíssima e com um golpe diabólico desferiu  estocada no abdome de Filóca, foi um estrago enorme, as vísceras derramaram no chão, no momento derradeiro Filóca abriu um largo sorriso, parece que a defunta esperançosa agradecia por esse momento tão esperado, apesar do rasgo ser tão grande,  ainda Filóca conseguiu força para barulhar um grito horroroso.
Quando os populares deram por falta da Mexicana Filóca, foram a procura e encontraram o corpo todo retalhado debaixo da figueira centenário, quatro velas ainda estavam acesas.
Antherpor/21/01/2021*       

Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 21/01/2021
Reeditado em 26/03/2024
Código do texto: T7165418
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