OS PERDIDOS

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Travessas e vielas emboloradas, becos de desesperança se entrecruzando com espaços repletos de histórias de mágoas, rebeldes sem causa definida, batalhas inglórias, lutas travadas com passos ensimesmados em noites pardas e vazias.

Olhos opacos habituados à penumbra vasculham os despojos dos bares, a cata de restos de comida e moedas caídas, sobreviventes dos subúrbios das almas vagantes.

Tensão inoportuna, passos firmes em sons de saltos metálicos desarmonizam a habitualidade, seis pares de passos famintos se camuflam separados nos becos, só os ouvidos estão em alerta, as bocas mal se entreabrem.

Os solados metálicos eram de duas criaturas, vestidas de preto e em suas peles pálidas, olhos recobertos de maquiagem negra os transformava em mortos vivos encarnados de couro. Estas figuras não eram comuns naquela região, talvez seus passos metálicos estejam procurando apenas os portões do Cemitério das Lendas, gostavam de andar por aquele lugar sombrio. Não apresentavam perigo.

A busca por despojos noturnos seguiu seu curso sobrevivente. O que foi apurado foi levado para o partilhamento num trapiche próximo ao Rio Das Águas Escuras. Seis pequenas moedas, sobras de frango, partes de maçãs, sanduíches pela metade e fortuitamente três latas de refrigerantes lacradas, apenas amassadas, naquela madrugada haveria um banquete.

Nada muda nunca na rotina marcada pela escassez de futuro, onde inexplicavelmente a solidariedade e o amor fraterno, sobrevivem.



*Imagem - Fonte - Google
*scienceblogs.com.br
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 24/01/2020
Reeditado em 31/01/2020
Código do texto: T6849615
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