O QUE MEREÇO


 
"Parte do poema
O Laço de Fita de Castro Alves

Não sabes, criança? 'Stou louco de amores...
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita."


 
 
Não era um laço de fita formosa, nem tão pouco tinha a cor lilás, era algema, algoz e corrosiva, que me unia a ti ontem e hoje e agora penso, que nunca mais. Tu saias com todas a góticas figuras, sem pouco te importares comigo, eu era apenas teu cachorro vadio, que recebia migalhas rápidas de carinho, carinho esse com sabor de rancores, fugidio e sem cores. Tu me procuravas nas névoas do desencanto, como que eu fosse a sobra de um péssimo dia. Sou mesmo uma tola de voz sempre embargada e a mente tolhida, mesmo vendo teus abusos e me deixando levar pela tua parda presença fria, continuo correndo atrás de ti como uma sombra pálida, como um pedaço de papel sujo que ficou grudado no sapato em teu caminho. Como me anulo, me apago. O que será de mim, nesse meu desvario insano, pois basta que tu surjas na minha frente, com teu sorriso sarcástico, impassível e com o olhar duro, para que eu me derreta inteira e esqueça tudo, me entregue muda, depois me afogue em dor profunda e simplesmente acredite que isso , é o que mereço chamar de amor. 
        
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 30/11/2016
Reeditado em 01/12/2016
Código do texto: T5839769
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