NÃO CHORE, É NATAL - CONCLUSÃO
No shopping uma enorme fila para que Ana Clara pudesse abraçar o Papai Noel. A menina, eufórica, nem quis escolher o presente primeiro antes de entrar na fila do Papai Noel.
— O que você vai pedir ao Papai Noel, Ana Clara? — perguntou Liana.
— Um segredo! Se eu contar, ele não traz pra gente — respondeu sua filha.
— Verdade! — exclamou Liana fingindo-se de ingênua — Eu não sabia!
— É sim! Eu vou pedir uma coisa muito legal, mamãe.
Enfim, a vez de Ana Clara. O Pai Noel a pegou no colo.
— Ah, que menina linda! Venha cá dá um beijinho aqui no Papai Noel.
Ana Clara beijou as barbas postiças do suposto velhinho. E, então, falou algo em seu ouvido. O bom velhinho olhou admirado para a mãe da menina. Seus olhos ficaram marejados de lágrimas. Ele a apertou contra o peito num gesto de ternura, como quem sente que não poderia atender ao seu pedido. Depois, sussurrou algumas palavras para a garotinha. Num gesto carinhoso, beijou a menina e lhe deu alguns bombons. Ana Clara correu feliz para os braços da mãe.
— Mamãe, agora nós podemos escolher o meu presente — ambas caminharam para uma loja de brinquedos. Presente comprado.
Liana leva Ana Clara para o playground, observa a filha brincar, enquanto seus pensamentos voltam ao passado fazendo-a dissimular as lágrimas. Não percebe que a alguns metros, escorado no gradil de proteção, um homem a observa. Vendo-a chorar, ele se aproxima.
— Com licença! Desculpe-me, mas não pude deixar de observá-la.
Liana disfarça um sorriso.
— Oh! Eu estava distraída...
— Minha filha está brincando ali também. Veja! É a que está brincando com sua filha agora. — disse o estranho.
Liana sentiu medo do intruso. Como podia isso, um desconhecido abordá-la tão diretamente e ainda por cima saber a seu respeito?
— Como sabe que é minha filha?
— Estive com ela ainda há pouco. Eu sou o Papai Noel! Eu havia pedido aos organizadores do shopping para fazer uma surpresa à minha filha.
— Ah! Entendo! Sabe que fiquei curiosa com o pedido de minha filha? Mas ela me disse que se contasse não se realizava.
— Onde está o pai dela? — Liana fez um esforço para conter as lágrimas.
— Ele nos deixou! Foi embora para a Inglaterra... se apaixonou por lá. Minha filha lhe falou dele, não foi?
— Sim. Ela pediu que eu trouxesse seu papai de volta — ficaram em silêncio, Liana já não segurava as lágrimas.
— Não chore... É natal!
— Não sabe o quanto estou me esforçando para tornar o natal um pouco mais alegre para minha filha.
— Veja bem... há coisas que são ainda piores! Sua filha ainda poderá ver o pai quando ele voltar... — fez uma breve pausa — a minha Louise, não vai mais poder ver a mãe! Ela morreu há seis meses!
— Eu sinto muito! Como foi?
— Um tumor na mama. Estava tudo sobre controle, mas de repente, sem avisar nem nada, tudo recomeçou, tomou os dois pulmões sem chance de cura.
— Infelizmente, acontecem coisas na vida da gente das quais nós não temos o controle.
— Verdade! Mas continuamos vivos. Algo obstinadamente nos impulsiona para frente dizendo: continue... continue!... Louise é o motivo que me faz continuar sempre.
— Comigo também foi e é assim. Ana Clara é meu único incentivo.
— Ao que me parece, nossas filhas se deram muito bem. Por que não passamos o natal todos juntos, hein?
— Sim... elas estão se divertindo! Mas nós acabamos de nos conhecer. Não seria sensato.
— O que é sensato nesta vida? — começaram a rir — Poderíamos sair pela cidade para ver as decorações de Natal. A Louise adora!
— Eu e Ana Clara também havíamos pensado em fazer isso.
— Então, aceite! Vamos chamar as duas?
Ana Clara e Louise brincavam animadamente como velhas amiguinhas. Saíram do playground de mãos dadas.
As luzes brilhantes dos enfeites de natal coloriam a cidade e acendiam também novas esperanças em seus corações...
Fim.
Maria Helena Camilo
VOTOS DE FELIZ NATAL A TODOS OS RECANTISTAS