NÃO CHORE, É NATAL

O ônibus 869 estava encostado. Havia uma fila enorme para entrar nele. Liana apressou o passo. Rezou para alcançar aquele ônibus no ponto. Caso contrário, somente às 18 horas passaria outro. Perderia uma hora! Havia saído do trabalho mais cedo e prometido passear com sua filhinha pela cidade para ela mesma escolher seu presente de natal.

Liana e Renato, casados há cinco anos, eram felizes até o nascimento de Ana Clara. Dois anos depois, Renato inventou de trabalhar fora do Brasil. Ponderou que precisava ganhar mais para dar maior conforto à filha. Liana foi totalmente contra! Porém, seus argumentos não foram o bastante persuadi-lo de tal ideia maluca. Ele partiu...

Ana Clara, com seus dois aninhos, adorava o pai. Não entendia o porquê de ele sumir de sua presença. Ficou doente. Tinha pesadelos! Acordava aos gritos! Outras vezes, sentia febre... Os médicos consultados supunham ser uma reação psicológica pela falta do pai.

Logo nos primeiros meses no exterior, Renato ligava todos os domingos. Falava horas ao telefone com Ana Clara, mandava presentes, prometia voltar logo. Com o tempo, lentamente, as ligações foram reduzidas a uma ligação mensal ou até menos.

Ana Clara passou a vigiar a mãe com medo de que, esta, também fugisse para longe. Liana desconfiava de que o marido já não estivesse sozinho. Conhecia os caminhos do coração. Sabia que nenhum homem ficaria tanto tempo sem uma companhia feminina. Suas dúvidas foram confirmadas... O regresso de um primo de seu marido confirmou suas suspeitas. O tal primo vivia por lá também. Liana perdeu o entusiasmo pela vida. Vivia para seu trabalho e para cuidar da filha.

Quando seu marido telefonava da Inglaterra, Liana fazia questão de deixar o telefone a cargo da filha. As poucas vezes que Liana falava com o marido, as conversas eram relativas somente à pequena Ana Clara. Ele nunca tocava sobre o “assunto”, nem dava notícias de si. Depois de alguns meses, Liana procurou um advogado. Entrou com o pedido do divórcio.

Liana trabalhava muito. Era gerente de vendas de uma grande loja de departamentos. No mês de dezembro, Liana trabalhou excessivamente para obter o direito de passar a noite de Natal com a filha. Nunca abriu mão de tal data.

Ao chegar mais cedo em casa, logo chamou pela menina:

— Ana Clara! Onde está você meu tesouro?

A menina apareceu do nada. Correu e pulou em seus braços.

— Mamãe, nós vamos ao shopping ver o Papai Noel?

— Sim, querida! Mamãe prometeu, não foi? Espere até eu tomar um banho... e nós vamos correndo para o shopping! Vamos ver o Papai Noel e a menina mais bonita do mundo vai escolher o seu presente, está bem?

— Está bem. Eu já estou prontinha, veja!

Obs. : Continuação e conclusão na próxima postagem