ENTRE OS VULTOS DA NOITE - a

No claro da lua cheia, a festa dos Deuses, uma história antiga, falei dos afagos nas vezes de uma relação recíproca de amores marcantes, ela me cortejava como um coelho que lambe a cria, isso se sucedeu de veras, eu vivi isso na minha idade quando repleta de juventude vigorosa.

Entre os cincos cavaleiros que estavam ali sugando o mate quente, fazendo fervura entre os gravetos seco de lenha em meio a essa roda de amigos, falavam altos, gesticulavam batendo com a mão no peito, bem aos costumes sulistas.

Os pelegos macios de lãs de ovelhas amorteciam o peso daqueles homens barrigudos, mas de braços fortes e habilidosos nos manejos do laço às reses.

A fumaça alva se desfazia sobre o prateado luar cintilante de cara redonda, as labaredas consumiam aquela madeira seca que hora fora deitada a machado à alguns tempos passados, colhida ali mesmo nesse meio de relva focalizada por essa lua cheia e risonha em meio essa noite de pirilampos e aves noturnas vigiada pelos Deuses secretos e silenciosos.

Alguns deles contavam vantagens, dizia mentiras exageradas, mas a lua vaidosa assistia tudo e sabia das verdades, nos fins dos causos dizia com insistência que acreditasse naquelas proezas – foi verdade sim.

Lá pelas tantas da noite nesse sertão de ermo de mundo, algo despertou para uma atenção sinistra, foi um uivo de um lobo, os cachorros saíram em disparada carreira em direção das pradarias, intuição canina.

Logo aparece do nada no terreiro do galpão, mesmo que o fogo já estava apagando; fazia presença ali um ser estranho de capa comprida estendendo até os calcanhares, barbudo vestindo roupas de couros, trazia uma carabina em mãos e um facão preso na cintura, cumprimentou todos e se apresentou dizendo que morava a margem do rio ali bem perto, sabendo dessa reunião de amigos resolveu se aproximar demostrando dar boas presenças.

- O senhor se arriscou muito, nossos cães são muito ferozes, você poderia se machucar. Disse Gerônimo chamando atenção desse aborígene.

- Eu me entendo muito bem com os animais, mesmo que seja os cães, certeza, eles não me fariam nenhum ataque.

- Se fosse eu não facilitaria, esses cachorros é mesmo terríveis. disse Gerônimo alertando como bom amigo.

- Gostaria de tomar um pouco de mate com vocês, de longe percebi que estavam tomando. Disse sem acanhamento.

- Quando o senhor chegou já estávamos preparando para ir pra cama, meus outros companheiros já estão dormindo.

Senhor Gerônimo respondeu meio que contrariado.

 – Tome aí... abasteça sua cuia, ainda tem bastante, agora o senhor me de licença, enquanto meus amigos já estão nos colchões, também preciso me acostar, esse sereno pode fazer mal, vou me abrigar no galpão, se quiser conversar conosco, volte amanhã bem cedo, porque estaremos levantando acampamento.

Gerônimo de pé frente a paisagem noturna quase apagando, assistiu quando esse homem misterioso desapareceu na noite, apesar do claro luar, ainda passado alguns minutos ouviu os gritos de um de seus cachorros, mais ou menos a uns setenta metros, Gerônimo ainda não deu muita atenção aos latidos do bicho.

No amanhecer daquela data, senhor Gerônimo e seus quatros companheiro saíram a procura da moradia daquele senhor, conferiram todos os lugares possíveis, não encontraram nem vestígio de morada antiga, impossível passar despercebido a existência de morada desse andarilho da noite, só havia vegetação alta às margens do rio, não tem como alguém firmar os pés nessas ribanceiras, nos algo mais, tudo capinzal rasteiro, qualquer sinais de moradia seria encontrada com facilidade... Só os dois de seus cachorros que acompanhavam pelas cavalgadas, estavam mortos e percebiam golpes de facão.

Senhor Gerônimo ficou convicto, aquele aborígene seria aparições que acontecia com muita frequência nessas pradarias tão distante da civilização, prova disso foram as porteiras do longo da estrada boiadeira, todas amanheceram abertas escancaradas, notavam que abriam, mas não as fechavam.

Passados alguns dias, senhor Gerônimo ficou sabendo dessas aparições, assim o velho peão tropeiro adquiriu mais essa façanha para o longo de suas vivencias, certeza que os holofotes do luar radiante veio trazer as claras mais esse personagem para contracenar com o homem solitário do campo, os lobos uivam de mostrando quando ele faz presenças nesses sertões, assim vai revelando os mistérios  o sinal dessa figura cheia de misticismo e encanto ditas nessas lendas populares, hora chega para se misturar com os viventes desse clarão de vida. 

Quando os companheiros de Gerônimo contavam esse acontecido em mesa de boteco, todos confirmava, que era mesmo uma assombração que aparecia por ali. 

Logo a lua vai refugiando para sua morada celeste, seus bichos e lendas declamam essa mórbida poesia cheia de falas e superstições, nesse momento, como fechar as cortinas; uma nuvem densa fez como o encerrar de uma prece, a dona da noite vai ocultando seus raios temporariamente para o espetáculo recomeçar no dia seguinte.

Antônio Herrero Portilho/*** 

Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 04/12/2024
Reeditado em 05/12/2024
Código do texto: T8211591
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