ENTRE PAREDES

Quando acordei de madrugada e fui ao banheiro senti uma presença estranha na casa. Não, não eram baratas, nem ratos, nem nada dessas coisas.

E uma voz grave sussurrava em meu ouvido. Então fui assaltado por um medo que não conseguia explicar.

Talvez tenha sonhado com algo ruim e ao acordar não me lembrei do sonho, mas tinha alguma coisa estranha me incomodando.

Tive até mesmo a impressão de ver um rosto indefinido na escuridão que vinha da cozinha.

Quando voltei para a cama demorei um pouco para dormir, ouvia vozes que pareciam me chamar e alguns barulhos estranhos na casa.

Estava zonzo e atordoado, e os pensamentos fervilhavam, se digladiando entre a racionalidade e os medos bobos.

Mil ideias e conexões catastróficas desfilavam à minha frente como se fossem modelos numa passarela. Modelos macabros.

Senti-me sufocado, parecia estar com falta de ar, embora isso acontecesse apenas na garganta, os pulmões estavam livres. Fiz algumas respirações diafragmáticas puxando lentamente, aspirando suavemente pelo nariz e expirando também devagar pela boca. Isso me acalmou um pouco e consegui dormir.

E os raios de sol da manhã então vieram me resgatar.

Ansiedade, pensamentos acelerados, crise de pânico, estado intermediário entre o sono e o despertar... Não sei, Já senti coisas assim antes, mas dessa vez foi diferente.

Mas fico com a impressão de que alguma coisa fora de mim provocava aquele desconforto. Como se algo me espreitasse por entre as paredes. Talvez a resposta estivesse naquele rosto na escuridão.

Entre as paredes torturantes daquela casa e seus segredos, outra noite me espera.