O FANTASMA DOS MAPAS E OS GRILHÕES (mistério/surreal)


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Joshua já estava enlouquecendo de tanto pavor, carcereiro e preso ao mesmo tempo, naquela masmorra úmida e abafada há anos, muitas vezes acordou transpirando e assustado com os acontecimentos daquele lugar sombrio.

Eram doze celas, repletas de encarcerados das mais diversas penas, desesperançados, doentes, alguns condenados perpetuamente e uma cela sinistra, onde grilhões se arrastavam sem ninguém dentro deles, se arrepiava só de passar por perto, ainda mais nas últimas duas semanas, quando mapas muito bem detalhados começaram a aparecer desenhados nas paredes, pontos com um ‘X’ de sangue marcavam alguns pontos, tudo tão absurdo, tão surreal, que Joshua por mais de uma vez chamou os guardas do lado de fora para observar, mas, eles acharam que era ele é que estava fazendo aquilo, só para chamar a atenção e diminuir o tédio. Os guardas muito bem armados e fortes, nunca circulavam dentro da masmorra, apenas entregavam a comida e água para Joshua que distribuía aos condenados.

Joshua foi se acostumando aos diversos mapas de surgiam nas paredes, mas, a cada dia estava mais apavorado com o barulho dos grilhões, como isso poderia acontecer, se ninguém ocupava aquela cela e tampouco ele entrava lá.

Certo dia, quando mar estava agitado e o frio fazia tremer os membros mal alimentados, Joshua ficou andando de um lado para o outro e passando pela cela assombrada, percebeu os rabiscos de mais um mapa sendo esboçado, não sabia se fugia dali ou pela curiosidade enfrentava seus medos, resolveu ficar. O rabisco detalhado formava o contorno do Continente, pois já havia visto isso numa carta náutica certa vez, quase deu um pulo quando uma marca de sangue em ‘X’ apareceu num ponto onde deveria ser o sul da Itália e em seguida os grilhões se mexeram e estancaram dois passos depois, Joshua empreendeu uma corrida desabalada para os portões onde  ficavam os guardas e contou aos borbotões o que aconteceu. Sem um pingo de paciência,  os guardas o socaram várias vezes e o escorraçaram de lá. Por nada deste e do outro mundo Joshua iria dormir naquela noite, a visão não saia de sua cabeça, estava apavorado.

Passados uns dois meses, já não havia mais paredes, chão, madeira do catre onde não estivem desenhados mapas pontuados com ‘X’ de sangue. Neste dia, um navio aporta ao Norte da masmorra que ficava num monte pedregoso, dele saem dois homens muito bem trajados, parecendo ricos comerciantes da Corte e pedem para abrir a masmorra e vão diretamente para a cela do fantasma dos mapas, observam cuidadosamente os desenhos e com uma reverência insólita, falam.

- Vá em paz, agora já sabemos onde vamos agir, enfim sua pena acabou...

Os grilhões se mexem pela última vez, os homens vão embora sem uma palavra a mais sequer, deixando para trás, um Joshua estarrecido e meia dúzia de guardas com os olhos arregalados, que buscaram conforto em suas preces por dias a fio.

Dez anos depois, a prisão na masmorra do monte pedregoso foi fechada, os detentos transferidos para outros lugares, os perpétuos foram lançados ao mar e Joshua foi completar sua pena numa prisão na Capital, bem mais tranquila, mas, até o fim de seus dias ele jamais se livrou das visões do fantasma dos mapas e dos grilhões.



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Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 28/09/2018
Reeditado em 29/09/2018
Código do texto: T6462284
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