Ao Zorro com Carinho
Sem parafrasear Sócrates, mesmo porque o infeliz além da feiura que lhe era peculiar e fora do contexto da beleza, era analfabeto de palavras poéticas; e sim recorrendo à santa ignorância do verme que se alimentou das tripas, vísceras, intestino e estômago de meu pai, que ao sair fora do combinado, o parasita infame também teve o processo deferido para onde foram, teorizam-se tudo, pesquisam-se tudo, sonorizam-se tudo, sorriem para tudo, fazem selfies de tudo, equalizam-se tudo, sabem tudo da nada, para o nada do tudo, na prática nada resolver. Concordo que é uma dicotomia dos diabos e deuses entre o nada e o tudo. Entre o vazio e o cheio, ou entre, o tudo e o nada.
Como fiel aluno e sábio aprendiz desses modernos filósofos, ei Silver, leve-me às respostas que sirvam-me de verdades produtivas, profícuas e exemplos práticos a serem seguidos. Ei Silver, conduza-me às mentiras que os filósofos modernos tomam como verdades absolutas, sabem de cor, e eu nego veemente. Verdades são maneiras diferentes de mentir. Combato-as com todas as palavras dos dicionários; e em nome de Deus, com a Bíblia de Santo Agostinho na mão.
Se o Poder é legado aos Ministérios, a vida é uma profusão deles, e a morte, um único mistério. Pergunte-me sobre...; ou melhor, ao Silver, porque após cair do cavalo, Zorro está trôpego e manco! E ao fazer compressa com água fervente, quebrou a bacia. Coitado; até os cineastas sentiram por ele!
Depois que acontecem, os relatos boca a boca transitam pelos quatro cantos dos órgãos e tecidos humanos; mas prevê-los é o grande e mais sério mistério. E não há charlatanismo, ou ciência oculta que desvende-os. Depois que acontecem, o mundo fica sabendo. Agora que o mundo sabe de seu infortúnio, e sabendo disto Zorro, levastes para o mato, os cachorros?
Por que da pergunta? Por que os olhos das florestas não usam óculos, por isto, não são confiáveis. Traem por nada; portanto, em qualquer travessia estão os ninhos de víboras armados até os dentes. Para eles, cilada é o curinga do jogo. Zorro, o mundo deveria dominado mais pelos ácidos da crueldade, que as intemperanças do caos.
Sorte e até a próxima parada da locomotiva, porque seguirei cavalgando o cavalo, Silver. Relinche para ele, Silver: "adios compañero! Éramos uma, redundante unidade, mas de agora em diante, salve-se quem puder. Não sangre lágrimas pelos olhos, a cavalgada da vida é assim, cheia de pedras, abismos, caos, montes, baixios, chaminés, sombras, fumaças, cascos, espinhos, rosas, cristas de morros, esporas. Porém Zorro, não é nada, se não houver o ácido da crueldade. Esse é o antídoto para todos os males que assolam a humanidade. Como poção mágica, duas ou três gotas em cada olho, e está desposada a alma do conhecimento e saber. Faz-se presente. Casamento perfeito. Vamos meu novo patrão. A noite vem chegando e com ela, flechas com veneno desconhecido são atiradas em lobos cegos que vagueiam sob ofuscamento lunar!"
Em tempo, os olhos descorados do dia negam a noite, mas a opacidade das lentes gazas da noite, jamais dirá que a claridade do dia não existe. E montado no cavalo, Silver, com uma estrela olhando-nos de soslaio, continuaremos trotando vaus perigosos. Sob um céu de pouca prosa, seguiremos noite adentro por tempo indefinido. Silver, amanhã sairemos cedo, novamente. Seu parceiro já encontramos, porém a missão não finda aqui; ao contrário, este é apenas o preâmbulo de nossa saga, e de qualquer maneira, custe o que custar, temos que encontrar o maldito verme que consumiu as carnes podres de meu pai vivo. Tomara Deus que encontremos alguém, um cavaleiro mudo de olhos cegos, talvez; porque, os que enxergam, explicam tudo e nada sabem. Tudo sabe, Silver, quem nada diz. Em certos casos, a conquista resume-se ao silêncio.
Ôôô Silver, avante Silver, cavalo de aço; vamos ao encontro do parasita infame! Sigamos, a jornada demanda força física, paciência e estratégia de como atacar pelas beiradas, invadir o miolo e dominar por completo o campo minado. No fim, após a tarefa vencida, poderemos parar, e merecidamente, enquanto você come sua fração do mais puro e tenro feno, eu aprecio o soberbo piado das gaivotas sobrevoando as águas calmas do mar. Vencer uma batalha, Silver, é uma paisagem desnudada pela alma, a qual, apenas os cavaleiros belicosos sabem contemplar e desfrutar da viagem ao centro leve do ser.
Ôôô Silver, avante Silver!