O Marinheiro Inglês
O capitão de uma embarcação estava retornando da Índia carregado com especiarias e outras mercadorias preciosas. Ele parou em Lisboa, e os marinheiros receberam permissão para desembarcar. Um deles, Ted, desceu para negociar, estava com um papagaio sobre o ombro esquerdo e, em seu outro ombro, um pacote de tecidos indianos que pretendia vender na cidade, junto com o pássaro.
Era início da primavera, e a noite começava cedo. Ted andava rapidamente pelas ruas um tanto enevoadas que a tornava mal iluminada. O marinheiro pensava em seu próximo retorno a Inglaterra, sua mãe, que ele não tinha visto já há três anos e a sua noiva, que estava esperando por ele na sua cidade. Precisava de dinheiro, para isto precisava vender o tecido e o pássaro em uma loja de produtos exóticos.
Em uma rua de beco, um cavalheiro muito bem vestido se aproximou dele, perguntando se ele estava procurando por um comprador para o papagaio.
"Este pássaro", -ele disse- Seria útil. Preciso que alguém fale comigo sem que eu tenha que responder, porque eu vivo completamente sozinho...
Como a maioria dos marinheiros ingleses Ted falava português. Ele colocou um preço que o estranho aceitou.
"Siga-me", disse ele. Eu moro muito longe. Você colocará o papagaio em uma gaiola na minha casa. Também poderei ver melhor seus tecidos, e comprar algum do meu interesse.
Ted feliz pelo negócio foi com o cavalheiro.
Ted parou de tentar puxar conversa como Senhor elegante, pois percebeu que o cavalheiro estava com pressa.
Continuaram na estrada em silêncio, lado a lado. Sozinhos, adentravam em um local afastado cheio de arvores Ted estava um pouco assustado pela névoa, tropeçando em um pedra machucou o dedo ele gritou de dor, o papagaio bateu as asas...
Depois de uma hora de caminhada, o estranho disse bruscamente:
"Estamos perto da minha casa".
Estavam longe da cidade; e o local em meio do que parecia uma floresta Ted observou uma pequena luz –era a casa- o brilho abafado era observado entre as árvores, e o sinistro grito de uma sereia no mar era ouvido em intervalos sinal que o mar estava próximo.
O estranho parou em um portão, tirou um monte de chaves do bolso e abriu a pequena porta, que ele fechou novamente quando Ted a atravessou.
O marinheiro ficou impressionado: mal conseguiu distinguir, no final de um jardim, uma casa bem bonita, mas cujas persianas fechadas deixava-a assustadora. O estranho silencioso, a casa sem vida, e um ar amedrontador. Mas Ted lembrou que o estranho morava sozinho.
"Ele é um excêntrico!" pensou, e como um marinheiro inglês não sou rico o suficiente para ser enganado ou roubado.
O elegante homem parece envergonhado ou ansioso? Ted não conseguia distinguir.
"Se você tiver fósforos, ilumine-me", disse o estranho, colocando a chave na fechadura na porta da casa.
O marinheiro obedeceu e, uma vez dentro da casa, o estranho trouxe uma lamparina que logo iluminou um quarto de muito bom gosto.
Ted estava totalmente calmo. Ele alimentou a esperança de que seu estranho companheiro lhe compraria uma boa parte dos seus tecidos.
O estranho, que acabara de sair da sala, voltou com uma gaiola:
"Deixe-me colocar o papagaio", disse ele. Não vou deixa-lo solto até que tenha sido domesticado e aprenda a dizer o que eu quero.
Então, depois de ter fechado a gaiola em que, estranhamente, o pássaro permaneceu, pediu ao marinheiro para pegar a lamparina e ir para uma sala na parte inferior da casa, onde ele encontraria uma mesa confortável para espalhar os tecidos. Ted obedeceu e foi ao quarto indicado. De repente, ele ouviu a porta logo atrás dele se fechar a chave. Agora prisioneiro, ele deixou a lamparina sobre a mesa e foi à porta tentando abri-la. Mas uma voz o deteve:
"Mais um passo e é um homem morto, marinheiro"!
Levantando a cabeça, Ted viu através de uma clarabóia - na qual ele não havia percebido- que o cano de um revólver apontava-se para ele. Aterrorizado, ele parou. Ele não podia lutar sua faca não o serviria nessas circunstâncias. Um revólver teria sido inútil agora, pensou... O estranho que o tinha à sua mercê escondeu-se atrás de uma parede, ao lado da clarabóia da qual ele observava o marinheiro, ficando exposto apenas a mão que empunhava o revólver.
"Ouça", disse o estranho, "e obedece". O serviço obrigatório que você me fornecerá será recompensado. Pois você não tem escolha. É necessário que me obedeça sem hesitação ou vou matá-lo como um cachorro. Abra a gaveta da mesa... Existe um revólver com seis balas dentro, carregado... Pegue-o.
O marinheiro inglês obedeceu quase inconscientemente. O estranho continuou:
— Há uma cortina na parte de trás desta da sala. Abra-a.
A cortina foi arrastada para trás, Ted viu uma sala em que, em uma cama, mão e pé amarrada e amordaçada, uma mulher olhou para ele com os olhos cheios de desespero.
"Remova a mordaça e desamarre-a". Disse o estranho.
Quando a ordem foi executada, a mulher, muito jovem e admiravelmente bonita, jogou-se de joelhos diante da clarabóia, gritando:
"Harry, é uma estratagema infame! Você me atraiu para esta casa para me matar. Você fingiu ter alugado para que pudéssemos passar os primeiros dias da nossa reconciliação nela. Pensei ter convencido você. Pensei que, finalmente, você ficasse certo de que nunca lhe traí! Harry! Harry! Sou inocente!
"Eu não acredito em você", disse o estranho secamente.
— Harry, eu sou inocente! A menina repetiu com uma voz de desespero.
— Essas são suas últimas palavras, vou registrá-las com cuidado. Elas vão me repetir toda a minha vida.
E a voz do estranho tremia um pouco, tornando-se rapidamente firme:
Agora, marinheiro, se quer poupar a sua vida, se ao contar até dez não colocar uma bala na cabeça dessa mulher, Morrerás nos pés dela. Um dois três...
E antes que o estranho tivesse contado quatro, Ted, insano, atirou contra a mulher, que, ainda de joelhos, estava olhando para ele. Ela caiu no chão. A bala entrou em sua testa. Imediatamente, um tiro da clarabóia veio para dar ao marinheiro no lado direito do peito. Ele desabou na mesa.
No dia seguinte, alguns transeuntes que ouviram gritos estranhos em uma casa nos arredores, chamaram a polícia, que veio rapidamente para forçar as portas. Encontraram os cadáveres da jovem e do marinheiro. Caso passional. Parece claro que o marinheiro matara a moça e que ele se suicidara imediatamente. No entanto, as circunstâncias do crime eram misteriosas. Os dois cadáveres foram identificados sem problemas mas todos se perguntavam como Lady Mercedes, esposa de um nobre de Lisboa, tinha sido encontrada sozinha em uma casa de campo solitária, com um marinheiro inglês?
O dono da casa não podia dar qualquer informação que ajudasse a justiça a esclarecer os fatos. A casa tinha sido alugada oito dias antes do acontecido por uma pessoa que utilizou documentos falsos. Sua aparência? Óculos, e uma grande barba, que acreditavam ser um disfarce.
O marido chegou a Lisboa com pressa. Ele adorava sua esposa e o seu pesar comovia quem observava. Como todos os outros, não entendia nada sobre o caso de adultério.
Após esses eventos, ele se mudou de Lisboa. E mora em sua casa no interior, sem outra companhia além de um servo mudo e um papagaio que repete incessantemente:
— Harry, eu sou inocente!
Observação: Este conto é uma releitura e reescrita de um conto famoso. O MARINHEIRO DE AMSTERDÃ - Conto Clássico de Horror - Guillaume Apollinaire