422 Moramos em Brazlândia DF

No ano de 1977 os meus pais se separaram por um breve período quando morávamos na cidade de Anápolis, Goiás. Minha mãe, eu e mais 04 irmãos fomos morar em Brazlândia, DF, na casa de tábuas do meu tio Antônio, irmão mais novo de minha mãe e mais velho do que eu 03 anos, onde também morava o meu avô Febrone, que tinha sofrido um derrame cerebral e andava de muletas.

Na época, na parte nova de Brazlândia só havia casas de tábuas doadas pelo governo aos candangos, e muitos moradores atuais compraram os seus direitos de terceiros. Na pequena cidade haviam outros parentes meus, como o meu tio Senhor, sua esposa Delza e mais 10 filhos. O meu tio vendeu umas terras em Mimoso de Goiás para comprar um comércio.

Lembro-me que em Brazlândia gostava de ir com amigos numa cachoeira distante poucos quilômetros onde havia um poço para tomarmos banho, e os meus colegas pulavam de uma altura de uns 8 metros, mas eu nunca tive coragem de pular. Lembro-me ainda de ter ido com parentes e amigos na avenida W3, na Asa Sul, em Brasília, para pular carnaval e viemos embora depois de amanhecer o dia. O meu tio Antônio acabou se casando com a sua namorada que era sua prima. Eu era interessado numa prima, mas nunca tive coragem de chegar nela.

O meu pai foi até nós e reatou com minha mãe. Eu o levei para trabalhar comigo de pedreiro na construção do Conjunto Ceilândia Norte distante uns 30 quilômetros, na construção de casas populares, onde pegávamos empreitadas para levantar e rebocar paredes. A empresa nos pegavam em Brazlândia num caminhão de arara coberto com uma lona. À noite ainda ia para à escola, cursava a 8ª série do antigo primeiro grau.

Quando acabou a obra do conjunto Ceilândia e fomos dispensados, os meus pais decidiram voltar para a cidade de Anápolis, e eu e os meus irmãos perdemos o ano escolar. A minha mãe morreu em 2003 de câncer nos rins aos 62 anos de idade. O meu pai morreu em 2004 de AVC aos 67 anos. O meu avô Febrone morreu em 2005 aos 89 anos de parada cardíaca. O meu tio Antônio voltou para o Mimoso de Goiás, onde foi vereador por dois mandatos, e morreu em 2019 ao ser chifrado por uma vaca aos 62 anos. E o meu tio Senhor se mudou para Ceilândia Norte, separou-se da minha tinha Delza e morreu em 2021 vítima da Covid aos 83 anos.

Em 2010 voltei em Brazlândia para visitar alguns parentes. Percebi que a cidade havia crescido bastante, estava moderna e não havia mais nenhuma casa de tábuas. E notei que a represa na entrada à direita da cidade estava bem cuidada e iluminada, e é onde as pessoas se encontram e fazem caminhadas. E senti saudades de voltar a morar na cidade!

Goiânia, 24-06-2023

(Do meu livro Minhas histórias, pequenos contos, em construção)

Alonso Rodrigues Pimentel
Enviado por Alonso Rodrigues Pimentel em 24/06/2023
Reeditado em 25/06/2023
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