Amália Calixto - Encontro Misterioso
Um ano se passou desde que cheguei à União Soviética e desde que comecei a trabalhar nas Indústrias Soleto S.A, comi o pão que o diabo amassou, passei muita dificuldade, fui humilhada muitas vezes, mas estou de pé, pronta para a próxima luta. Hoje a situação está um pouco melhor, aprendi a falar russo ( Deus me livre desse idioma dificil) e agora já posso xingar aqueles preguiçosos lá da fábrica.
O Senhor Soleto está satisfeito com o meu trabalho, graças a Deus, consegui me mudar para um lugar melhor, mas continuo tendo que provar que sou capaz de gerir um bando de macho escroto e folgado e faço isso com maestria, já mostrei para eles quem é que manda nessa porra.
Hoje é Domingo, não fui trabalhar e aproveitei para descansar, sai para fazer umas compras, tem uma cafeteria aqui perto que sempre quis ir lá e hoje vou realizar esse desejo, sentei em uma mesinha e pedi um café expresso e uma fatia de torta, enquanto o pedido não chegava, fiquei olhando as coisas que comprei e pensando que algum tempo atrás eu não tinha nem o que comer.
Meu pedido chegou e com ele um cavalheiro aproximou-se e perguntou se podia me fazer companhia, não vi nenhum problema nisso e permiti que se sentasse, ele estava muito bem vestido com um terno preto risca de giz, um chapéu panamá, sapatos italianos e uma educação que nunca vi igual.
- Muito prazer senhorita, me chamo J7.
- J7? Que tipo de nome é esse?
- Minha mãe é muito criativa...
- Isso explica esse nome - risos
- E qual sua graça, senhorita?
- Marina.
Estava muito desconfiada daquele homem, não sabia suas reais intenções, então inventei um nome qualquer.
- Belo nome, senhorita.
- Obrigada.
- E o que a senhorita faz da vida?
- Querido que interrogatório é esse? Meus documentos estão todos em dia, não devo nada para a polícia e muito menos para o Governo.
- Uau, que brava.
- Você tem duas opções: pode me falar o real motivo de estar aqui querendo saber tudo da minha vida ou pode se levantar e ir embora com essa xícara de café quente no meio da cara.
- Eita, depois dessa ameaça vou lhe dizer porque sentei aqui com a senhorita.
- Muito bem, prossiga.
- Como lhe disse, me chamo J7 e trabalho para uma empresa de limpeza e estou recrutando algumas pessoas para alguns serviços que exigem descrição, agilidade e esperteza e a senhorita me pareceu ter todos esses atributos.
- Querido, não tenho interesse em nenhum trabalho.
- Vamos fazer o seguinte, vou deixar meu cartão com a senhorita, pense a respeito e me ligue e lhe darei mais informações, uma coisa eu te garanto, você vai ganhar mais do que ganha naquela fábrica onde trabalha como Gerente de Compras.
- O que você disse?
O homem levantou-se, colocou seu cartão perto da mão da jovem senhorita e seguiu seu caminho.
Eu fiquei abismada com aquela audácia daquele homem, eu nunca o tinha visto antes e como ele tinha essas informações sobre minha vida?
Fui para casa e fiquei pensativa o resto do dia.
Rússia, 11 de dezembro de 2020