Quase Bonnie e Clyde

Ambos, professores. Isso é importante frisar. Estavam em dificuldades financeiras, o que não é de nenhum espanto. Estavam gastando as últimas economias. Aquela coisa de trocar seis por meia dúzia. Foram fazer compras no mercado habitual. Mas dessa vez a coisa foi diferente. Vestiram as cabeças com toucas ninjas e renderam os funcionários, voltando para casa com uma bolada de dinheiro e aquelas sacolinhas vermelhas, cheias de itens, que eram importantes para seu consumo. Frutas, arroz, feijão, umas latinhas de sardinhas. Chegando à casa alugada, procuraram esconder bem o dinheiro, de forma que nem o gato deles o encontrasse. Arrumaram as compras e dispersaram os flagrantes. Saíram como de costume, para visitar familiares. Ao retornar a casa estava revirada. Constataram que o dinheiro estava seguro. Se mudaram para um quarto de hotel, com o gato é claro. Um sujeito estranho começava a rondar a vizinhança. Pensaram que já era plano se mudarem por conta do emprego. Agora era a hora. O pai da mulher avisou que estavam desejando assassinar o seu marido. O homem suspeito retornou. Ocorreu uma briga testosterônica, com o auxílio da mulher, que acertou o invasor na cabeça com a coronha da pistola.

Compraram passagem para uma cidade que viram no mapa e resolveram arriscar. O avião os deixou em um local descampado. Nada nas imediações. Avistaram uma casa que estava toda aberta e foram entrando. Um pequeno cão veio latindo e o dono apareceu. Um sujeito simpático que disse que a cidade ficava a uma distância de dez quilômetros de caminhada morro acima. Ensinou um atalho por um gueto do local. Agradeceram a dica, comentaram sobre suas pretensões de mudança e que entraram na casa por ela estar aberta. Passando por casas espremidas, encontraram pessoas comercializando entorpecentes próximas a um carro abandonado. Um sujeito se aproximou e apontou uma arma, dizendo que atrapalharam o comércio local, que deveriam pagar por aquilo. O dinheiro foi sacado e o impasse resolvido. Seguiram a caminhada, agradecendo por ter deixado o grosso do dinheiro bem escondido. Não poderiam deixar esvair o que tinham conseguido com tanto esforço.

Chegaram em uma rodoviária. Poucos guichês, com magra informação. Letreiros dispersos e um pequeno cinema que estava com apenas um desenho em exibição. Poucos ônibus, pessoas circulando. Mais a frente, um pequeno zoológico, onde os animais ficavam praticamente soltos. Macacos, porcos, cães, uma onça sorrateira. Acabaram fugindo, com receio de terem adentrado um território hostil. Se beijaram. Imaginaram que aquele lugar seria um belo esconderijo. Conseguiriam dar aulas nas escolas da região. Poderiam alugar uma casa e as despesas iniciais pagas com o produto do roubo. Logo deduziram sobre como fariam a mudança, o carro viria e facilitaria a locomoção. Ficariam longe do homem estranho que os perseguia e da polícia, que investigava o incidente no mercado. Sabiam que as dificuldades são poucas, quando estão unidos e que a superação consiste em ver no outro a superação de si.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 16/02/2014
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