Tarde ou cedo demais?

..." A vida era verão quando chegaste. Não contava com o calor dos teus olhos tão pouco com os raios quentes dos teus lábios, ingénua e altiva, cheia de mim deixei que a tua luz me bronzeasse os sonhos... na areia morna que era o teu corpo, deixei-me dormir, entregue... sem mesmo pensar que sol já se ia, estiquei o olhar e estendi-te o meu corpo de braços rendidos.

As horas, lençóis de cetim em corpos morenos, cobriam as sombras que em nós dormiam... Esperavam a noite para nos acordarem.

Era verão amor, e ali eu negava que o mundo existia e que aquele fogo jamais se apagava. Meus olhos em chama só viam os teus, e tu?

Tu já deslumbravas as cores do outono. Mas era verão, amor?! Não te lembras?

Ainda que a noite teimasse em cair, pintando as ondas de indigo azul, nem mesmo então, teu sol se deteve. Trazia-o ainda no corpo a vibrar, ...teus olhos tão quentes e esse corpo calor gritavam verdades das quais tu fugias. Era em mim que as calavas quando eu te acolhia de afagos e beijos, de carnes coladas e vozes gemidas.

O céu testemunha, fechava os olhos deixando que as estrelas nos fossem suor... orvalho dourado teu corpo pingava, molhava o desejo com que me perdia.

Mas tu eras mar e eu o teu porto, e sempre que ias, ali eu ficava.

Sentada na areia, eu vi-te surgir das águas nas quais quiseste provar que a tua vontade quebrava marés.

E foste mar e foste maré. Calema em meus braços, tu foste verdade... mentias.

Quando o outono me quis abraçar, fiquei sem saber se irias voltar ou se por ventura fugiras para o mar.

O mar que escondia a "outra" verdade.

Terás vindo cedo ou tarde demais?

Não sei, nem nunca o entendi.

Tu ias e vinhas, conforme as marés...

E eu na areia, sentada... esperava.

Que venha o inverno, que a vida já pesa e os barcos nas águas já são só miragem...

Espero a onda que a mim te devolva qual deus que das águas venceu as marés... e enquanto me tive na areia sentada... a onda subiu, e a mim me levou..."

...

Apaguem o dia prestes a chegar, acendam a lua e dobrem o sol... que eu já não quero aqui continuar!

(Tirado um conto_que o vento levou.)

Ruth Collaço

Ventos Sábios - Ruth Collaço ®️

Ruth Collaço
Enviado por Ruth Collaço em 15/03/2025
Código do texto: T8286240
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