O PRÊMIO

Tudo era festa. A fogueira queimava, o são João estava lá todo imponente vendo as peneiras que passavam para lá e para cá com biscoitos e xícaras abarrotadas de canjica. Uma sanfona chorava e seu choro trazia alegria aos pares que dançavam no terreiro. Vindo da cozinha esfumaçada e saindo do fogão de lenha um cheiro delicioso de comida pegava carona na fumaça e se espalhava tal qual feitiço pela casa de chão batido, impregnando em cada canto seus mágicos eflúvios. Música, dança e aroma de comida traziam as delicias do sabor de festa e ouvia-se em delirantes brados arautos mágicos da alegria soarem por todos os recônditos daquele pedaço de chão.

Na sala de paredes azuis, chão de tijolos, abarrotadas de quadros de santos existia uma certa desordem. Depois do recato da fé, da contrição na rezação do terço e da dança na saída da bandeira do santo para cruzar o terreiro em procissão até o maestro tudo ficara bagunçado por ali.

A quadrilha já havia se apresentado com seus “anarriês” e “olha as cobras” e as barras de saias dos vestidos de chitas continuavam balançando ao som do forró;

A casa não era muito grande e todos os cômodos estavam ocupados. Entre conversas, danças namoros e buchichos cada um aproveitava a festa a seu modo.

E noite a fora a fogueira e a sanfona esquentavam a turma e a animação era mais uma a dançar. Era uma dama atrevida e brejeira que bailava por todo o terreiro, pelos cantos da casa, pela estrada, e até subia pela serra que divisava com o terreirão.

Verinha olhava para todos os cantos, procurando um pretendente. A reza para o santo Antônio feita na outra fogueira da casa do Sebastião dos tornas, bem que poderia ser atendida agora. Ouviu um sussurro atrás de si, surpreendeu-se, e acreditou nos poderes de sua oração.

Tõe da Tina estava um pouco ansioso. Preparara-se para aquilo a semana toda e foi uma alegria o momento em que a música parou de tocar e a brincadeira começou. Um grito da turma, e o desafio estava lançado. Tomou de uma vez dois copos de quentão e foi subir no pau de sebo. Um enorme maestro untado, bem ao centro do terreiro oferecia em seu cume um prêmio para quem lá chegasse. Era o campeão dessa modalidade na olimpíada das festas juninas, todos os anos conseguia subir. Desta vez eram quinhentos reais que estavam colados lá em cima. Mas ele queria algo mais. Seu esforço, porém, tinha outro propósito.

Subiu uma, caiu, assistiu seus concorrentes enfrentando o mesmo cruel destino sob uma chuva de gargalhadas e gritos, inscreveu-se novamente, outra queda, outra, outra e outra... Escorregou, caiu, provocou mais risadas na turma, mas insistiu, foi lá de novo e de novo até que com muito custo conseguiu chegar ao topo, fez um gesto de vitória pegou o dinheiro e deixou-se deslizar. Como quem se aventura num tobogã, do cume até o chão foi um segundo então.

Agora sim poderia pegar seu prêmio. Uai, mas o prêmio não era o dinheiro que estava lá em cima? O quinhentão não era a recompensa? Não, eram os olhos de Verinha ... Aqueles dois diamantes verdes brilhavam mais que a fogueira e que as estrelas da noite fria. A admiração da moça pela coragem, pela persistência e pela audácia valia bem mais que o dinheiro. Momentos antes de se aventurar no mastro escorregadio ele havia cochichado em seu ouvido que faria aquilo por ela e que seria aquela a prova do seu amor. O prêmio o esperava cá embaixo com um sorriso e muitas promessas.

E a festa continuou com os sons de alegria, e os aromas de prazer ecoando pela noite do sertão.

Hoje é a festa é o dia . Viva São João, amor, alegria e não bambeia não.