PRATA & DOURADO
(dedicado à amiga poetisa Juli Lima)
A pele clara, a beleza rara, os anéis dourados curtos dos seus cabelos, organizados sob o chapéu prateado. Faziam um contraste harmonioso e elegante, sobre Juli 'De Cristal'. O apelido derivava e ornava, a ilustre posição industrial de seu pai. Homem frio nórdico, com uma esposa cativa e silenciosa e, um filho bastardo aceito por ela, porque sim era a única resposta, que ela sabia dar. O industrial chamava-se Erik, o bastardo Brendo e a calada esposa Ágda.
A Fábrica de Cristais, era a empresa mais poderosa da Cidade Aarhus. Cedia emprego para quase todos e, funcionava como o relógio inglês Big Ben. Salários baixos, tratamento sem gentilezas ou melindres, profissionais mal pagos, mas, o lugar não tinha muitas opções de trabalho, então, o curso da produção delicada e maravilhosa, seguia o seu rumo.
O ano de 1925, chegara frio e com a atenção tomada por Erik, para conseguir um esposo para Juli, a idade de dezesseis anos apontara e, ele precisava fazer seguir o seu papel. A boca vermelha, já andava abrindo muitos sorrisos por onde aqueles olhos azuis, translúcidos e claros como cristais, passavam. Erik e Àgda dariam um baile para a elite rara, aí ele escolheria o seu genro.
Juli tinha um bólido dentro do peito, queria ganhar o mundo, fugir dali para países mais quentes, tinha um olhar doce por um operário, um mestre em esculpir os cristais, meio ruivinho, alto e com um sorriso cativante. O seu nome era, Gustavo. Trocaram talvez umas vinte palavras no último ano e, era nítida a atração que existia entre eles. O baile se aproximava e ele não estaria lá. O porto estava movimentado, alguns empresários de Países vizinhos foram convidados. Juli já experimentava junto com Ágda, os seus novos vestidos. O de Juli era cor de areia e brilho prata e, os cabelos dourados estavam sob um elegante e ajustado chapéu de tecido prateado.
Erik lhe ordenou que ela usasse as suas melhores jóias, precisava estar com a aparência de uma linda princesa e, assim ela fez. Atrás da vegetação, sob a varanda de sua janela do quarto, uma pequena mala de viagem, dinheiro tirado do cofre de sua mãe e, as jóias ganhas, nos seus dezesseis anos de existência.
Assim que a governanta lhe avisa, que os convidados do baile começaram a chegar. Juli pula a janela, pega a mala e corre pela parte de trás do jardim, diretamente na direção do porto, de onde um navio para a Itália, partiria em menos de quarenta minutos. Trocou uma jóia por uma passagem e, entrou faltando poucos minutos para zarpar.
Logo ao embarcar na cabine, quem ela vê limpando o convés, assim que a embarcação apita e zarpa... Gustavo...o sorriso que se abre no rosto de ambos, demonstra o destino do amor se solidificando e, dando asas a imaginação. Que seja feita a vontade de Deus.
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