Desilusão amorosa

Eu tinha 30 anos de idade e ela mais ou menos a minha idade, recém-chegada de Goiânia. Estava indo tão bem o nosso relacionamento como colegas de serviço, mesmo ela sendo minha superiora e amiga do meu chefe imediato, delegado Regional de Polícia de Rio Verde. Tinha o cargo de agente, mas exercia a função de motorista.

Ela era discreta e reservada, mas confiava em mim, e sempre pedia ao meu chefe para levá-la nalgum lugar na viatura e, às vezes, saímos os três juntos. Fui na casa dela num bairro nobre de Goiânia várias vezes, buscá-la ou deixá-la, e conheci os seus pais, que me tratavam com atenção.

Percebia que havia um clima de afeição e encanto entre eu e ela. Então escrevi para ela uma carta em forma de poema, em que fazia uma alusão a sua beleza e simpatia. Ela me achou ousado demais, e me disse que só há dois meses a gente se conhecia e que ela era minha superiora. Ficou indiferente comigo e passou a me evitar.

Em Rio Verde ela morava num apartamento com uma amiga também delegada de polícia. O delegado me disse que ela havia ligado pedindo uma assistência, e me ordenou a ir até o apartamento dela. Por volta das 20 horas eu estava na sua casa, e a sua amiga me recebeu bem e mandou entrar. Passado um pouco ela veio do quarto e disse: O que você quer. Eu respondi: O meu chefe me mandou vir para prestar-lhe uma assistência. Ela respondeu: Não precisa mais não, estou indo dormir, boa noite, com licença!

Em poucos dias todo mundo já estava sabendo da minha cantada malsucedida. O meu chefe veio falar comigo e disse que ela havia lhe falado que eu lhe faltei com respeito hierárquico ao lhe assediar. Eu disse ao meu chefe que houve um mal-entendido, que foi apenas um poema que eu fiz para ela. Senti-me um pouco desgastado. Talvez eu errei em não esperar o momento certo dela dar um sinal, até porque não existe hierarquia num relacionamento amoroso.

Ela começou a dar aulas na Faculdade de Direito, onde eu cursava no último período; e eu a cumprimentava nos corredores. Passado um pouco de tempo ela passou no concurso para promotora. E eu escrevi outra carta para ela com o meu endereço e pedindo para ela me procurar em Aparecida de Goiânia, que seria bem recebida. Ela não me procurou jamais. E eu segui o meu caminho. Nunca mais tive notícias dela!

Rio Verde, ano 1991

(Do meu livro De volta ao passado, com cerca de 70 textos, em revisão)

Alonso Rodrigues Pimentel
Enviado por Alonso Rodrigues Pimentel em 02/08/2023
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