TAÇAS DE VINHO - dedicado aos poetas Roberto Jun e Fernanda Xerez 

 

 

Fernanda era uma solitária convicta, não era uma pessoa sozinha, ela tinha alguns amigos fiéis. Só que segurar vela era muito chato. Quando se reuniam em grupo tudo bem, já, ela e um casal tirava um pouco a privacidade dos amigos. Muitas vezes dispensava os convites, sem deixar de sair. Duas esquinas depois do edifício em que residia, tinha um bistrô adorável, que ficava aberto até às onze da noite. Tinha uma frequência de pessoas sozinhas ou solitárias como ela, pessoas educadas, tendo um serviço atencioso com boa carta de vinhos. Fernanda tinha por hábito, sair do trabalho, deixar sua pasta com o laptop em casa, colocar sapatos de salto mais altos e seguir para o bistrô. Sendo uma habitué do lugar, os garçons já traziam a sua taça de vinho rosée, acompanhada por uma travessinha com o seu petisco preferido, cubinhos de queijo gruyére empanados em castanhas do Pará torradas, para Fernanda aquilo era viciante Sentava-se lá ouvindo a música ambiente bem selecionada e suave. Gostava das mesas próximas às janelas, para poder observar o vai e vem dos passantes.

 

O gerente Roberto, sempre deixava uma delas reservada para ela, achava aquela cliente muito elegante e charmosa. Ele já estava viúvo há seis anos, ela estava sempre só...quem sabe um dia, ele tivesse coragem de convidá-la para um vinho, claro que em outro lugar, Fernanda era realmente uma bela  mulher..

 

Mia e Albuquerque convidaram Fernanda para um drink depois do trabalho, mas, ela deu uma desculpa e recusou. Era quinta-feira e como normal, foi para o bistrô. Roberto a recebeu  com um sorriso mais doce do que o profissional, Fernanda nunca tinha percebido que ele tinha lindos olhos verdes...tão claros como água de piscina e, a voz era bem cativante. 

 

Fernanda observava os passantes pela janela, mas, volta e meia o seu olhar passeava pelo interior do bistrô, procurando por Roberto. A distração foi tanta, que nem percebeu que já estava na quarta taça de vinho...muito além da sua cota de sanidade. Estava meio que alegrinha rsss...chamou O garçom, pagou sua conta e, pediu para que ele pedisse para vir o gerente, pois ela queria dar uma palavrinha com ele. Assim que Roberto se aproximou, ela meio sem graça pediu ajuda. Perguntou se poderia acompanhá-la até a porta de seu prédio, pois passara da conta no vinho, disse que era bem pertinho. Roberto prontamente aquiesceu, mas, antes lhe serviu uma água com gás bem gelada e, um café forte e amargo.

 

Roberto informou que o bistrô já estava fechando e, faria bem a ela aguardar que a água e o café fizessem a sua mágica, ela concordou. Poucos minutos depois, eles já estavam de braços dados a caminho do prédio dela, ele solícito e ela voltando ao normal.

 

Fernanda agradeceu e ele perguntou se ela estava realmente bem e, se precisava de alguma coisa, ela disse que não e se despediram. Quando Roberto já ia se afastando, Fernanda o chamou perguntando

- Roberto posso lhe agradecer com um jantar no Sábado? Faço um linguado na manteiga com alcaparras, que sem modéstia é delicioso...você aceita?

Caro leitor, será que consegue imaginar, como seria a cara física da felicidade? Pois bastaria olhar o semblante de Roberto naquele momento. O Universo estava abrindo um novo caminho, como eles iriam seguí-lo só o futuro dirá.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 21/05/2023
Código do texto: T7793988
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