LUZ DA MINHA VIDA (alguns amigos recantistas vão se achar por aqui)

 

O passeio pelo lago era habitual, mas, as companhias nos caminhos mudavam constantemente. Era bom ver novos rostos, ver novos olás e sorrisos, pequenos detalhes que alegram ainda mais a vida. Alguns rostos iam se tornando conhecidos, às vezes as pequenas falas, se inserem na paisagem esverdeada, outras se aquietavam na observação do cristalino espelho do lago. 

 

Nomes vinham, mas, se evaporavam no ar, uns poucos frequentavam a memória de Aila, mas, um em especial, estava sentando na sala da memória dela, Francisco, nome, olhar e sorriso cativantes marcavam presença o dia inteiro, se tornava mais do que um colega de caminhada no Lago dos Patos. Aila ansiava por ouvir mais aquela voz.

 

Juli era amiga de Aila e, percebia a diferença no humor da amiga, ela andava radiante e efusiva, bem diferente do habitual. As caminhadas foram por recomendação médica, para ambas, por causa do trabalho estressante na Bolsa de Valores, que provocava muita ansiedade nas amigas, só que Juli via Aila feliz demais, não questionando sequer por um instante, ter que acordar cedo à beça...o rapaz do lago estava impulsionando aquelas caminhadas, Juli questionou a amiga, que só sorriu sem responder, Juli entendeu como resposta, daria um jeito de deixá-los sozinhos da próxima vez rsss...tudo para ver Aila feliz.

 

Veio a manhã seguinte, acendendo o olhar do Sol e, os seus raios abraçavam com um calorzinho gostoso. O cristalino do espelho do lago estava incrível. Passam uns e outros em seus exercícios e passos, mas, nada de Francisco.

 

Aparece uma moça loira tagarela de nome Luna, que corre junto com o noivo Jadel, ele um atleta de corridas e maratonas de rua, cumprimentam rápido e seguem em frente, sempre febris em seus treinos. Logo depois passam Albuquerque e o amigo Antonio, caminhantes observadores dos verdes à volta do lago, seguem sorridentes com sua calma matutina...e nada de Francisco, o rosto de Aila parece desanimado. Juli como boa amiga ursa, a abraça, incentiva e seguem sorrindo por mais alguns metros, até  que Aila diz que já está na hora de voltarem, Juli não insiste. O fato se repete por quase uma semana, Aila parece um passarinho que levou pedrada no rabo  de tanta tristeza que sente, Juli bem que tenta alegrá-la, sem sucesso.

 

O acaso às vezes tem consistência e, Juli numa visita ao hospital do bairro, para visitar a amiga Lumah, que numa queda dentro de casa, fraturara a perna, precisando ficar internada por dez dias. Qual não foi a sua surpresa, ao ver num quarto do mesmo corredor, Francisco, a alegria do lago de Aila. Estava ele lá, com gase cobrindo os olhos e um sorriso apagado, ouvindo uma senhora que estava a seu lado. Parecia ser mãe dele, pelas feições semelhantes. Juli não se conteve, entrou no quarto e sem muitas reservas, foi logo perguntando...o que aconteceu com você Francisco?

 

Lógico que o rapaz não reconhecia aquela voz, mas, foi educado e quis saber quem falava. Juli explicou quem era e com quem caminhava no lago e, um sorriso se abriu no rosto de Francisco. A senhora que era realmente mãe dele, se chamava Mia e ficou feliz de ver o filho amado, sorrindo outra vez depois de quase vinte dias, resolveu deixá-lo à sós.

 

Juli sentou ao lado dele e quis saber tudo. Francisco disse, que acordou um dia sem enxergar nada, dor de cabeça horrorosa e quando tentou andar, tonteou e quase caiu, o desespero bateu e, os familiares vieram em seu socorro. Enfim, acabou hospitalizado, muitos exames, ansiedade nas alturas, mas, a fé em Deus não saiu da sua mente, seguia todas as recomendações médicas e aguardava o diagnóstico. 

 

Só o que lhe deixava triste, era não poder ver Aila, a moça linda do lago, ele nem ligava muito para exercícios físicos, como técnico de informática, sua rotina tinha tela, teclado e mouse...um tédio sem as cores vivas do lago, mas, precisava de ar e vendo a moça linda caminhando no lago, se tornou um habitué do lugar, só para revê-la. Puxando assunto com ela e a amiga, descobriu seus nomes Aila e Juli, mas, Aila ganhou seu coração, a saudade dela aumentava a ansiedade da espera do diagnóstico.

 

Juli explicou o que fazia ali no hospital, que o sentimento que ele tinha por Aila era recíproco. Francisco ficou radiante, mas, o medo do diagnóstico estremecia os seus ossos. Pensava que não queria ser um peso pra ela ou mesmo, não ter a oportunidade de vivê-la como desejava. 

 

Francisco pediu segredo de tudo pra Juli, pelo menos até que o veredicto do neurocirurgião saísse, ela titubeou, mas, concordou. Juli se despediu, foi visitar a amiga Lumah e correu para encontrar com Aila, com a língua coçando de vontade de contar tudo pra ela, mas, fez a vontade dele. Só que precisava animar a vida da amiga.

 

Ah! Aquele bendito acaso com massa e consistência..não é que  Aila resolve do nada visitar Lumah, sem a presença de Juli e...óbvio...acaba vendo Francisco, sendo levado para a cirurgia (o diagnóstico fora um aneurisma). Aila sem muito pensar, faz o maqueiro parar o trajeto e fala para Francisco...pense que já deu tudo certo 'meu cristalino do lago'. O rapaz reconheceu a voz e o seu peito, se encheu de luz e felicidade...disse apenas...é você!  Aila respondeu que sim, liberando o maqueiro...estarei esperando por você, volte logo.

 

Aila sentou-se numa poltrona junto à UTI, sem arredar pé de lá por todas as horas da cirurgia, conheceu Mia a mãe dele, tendo com ela uma conexão astral afetiva. Quando o médico saiu da sala e disse que a operação tinha sido um sucesso, ambas Aila e Mia, se abraçaram vertendo um pranto de alívio. Pura felicidade.

 

A sequência foi só de reconhecimento, afeto, amor real sendo construído, muitos passeios pelo lago e outros caminhos esverdeados e floridos sendo visitados. A vida deles ganhou propósito, Deus abençoava e eles em agradecimento, começaram uma família, a ansiedade e o medo, deram lugar à paz e alegria.

 

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 26/04/2023
Reeditado em 27/04/2023
Código do texto: T7773294
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