AS BORBOLETINHAS (miniconto/meu lado doce)

 

Aquelas borboletinhas fazendo travessuras dentro do meu estômago, já estavam me deixando louco, reparei que isto só acontecia quando encontrava Rosinha. Aquela moreninha de cabelos cacheados, com covinhas que pareciam banheirinhas de anjos, pois toda vez que ela abria aquele sorriso farto, elas se aprofundavam e eu me desaguava. Acho que ela nem percebia os meus olhares, sempre brincando com sua boneca, usando um vestidinho de chita florido que combinava com um laço de fita nos cabelos, que se esvoaçavam quando ela corria, era tão linda.

 

Meus sonhos eram povoados de estrelinhas e em cada uma eu via o rosto dela, acordava às vezes sozinho na cama transpirando e não entendia o que acontecia. Quando estava no campinho brincando com meninos, as borboletinhas no estômago ficavam calminhas, calminhas, mas, era só Rosinha chegar para chamar o irmão para o almoço, que elas faziam festa dentro de mim. Eu, tolo batia na barriga para ver se conseguia acalmá-las, só que enquanto ela estava presente elas se atiçavam.

 

Certa vez o meu amigo Olavinho, que é grande e já tendo doze anos, disse que eu estava apaixonado, eu disse que isso era pra acontecer quando eu fosse mais velho, ele ria e saia gritando

- Dilsinho tá apaixonado...Dilsinho tá apaixonado.. .

Eu ficava com raiva pois todos os meninos zoavam de mim, até dei um soco nele uma vez, mas, saí perdendo porque ele era grande e eu pequeno. Acabei indo pra casa com o olho roxo e o orgulho abaixo de zero.

 

Só que o tiro saiu pela culatra, Rosinha soube do acontecido e foi me visitar em casa. Enquanto minha mãe e a mãe dela conversavam na cozinha, ela foi me encontrar no quarto e riu muito, quando me viu segurando um bife gelado sobre o olho, eu quase chorei de tanta vergonha. Ela me deu um abraço dizendo...isso logo passa...

 

Me deu um pirulito e duas mariolas e ficamos conversando fazendo desenhos num mesmo papel. As borboletinhas dentro do meu estômago estavam tão alvoroçadas, que achei até que Rosinha poderia ouvir, mas, acho que ela não percebeu.

 

A mãe dela chamou para que fossem pra casa e ela se despediu de mim, com um beijinho rápido no meu olho roxo, dizendo que me veria de novo na pracinha no Sábado à tarde...fiquei com as bochechas tão vermelhas que pensei que eu ia incendiar....e as borboletinhas enlouqueceram de vez, eu não conseguia fazer mais nada, o bife no olho até já esquentara e a sensação só passou, quando eu ouvi a porta de casa fechar.

 

Foram os três dias mais longos da minha vida, a ansiedade de poder encontrar com ela de novo era tanta, que eu comia, comia, comia, penso até que as borboletinhas dentro de mim passaram mal, pois sossegaram na véspera do Sábado.

 

Faltando uma hora para as três da tarde do Sábado, eu vesti a blusa mais bonita, a bermuda mais bonita e o tênis que eu adorava e pegando uma margarida, no jardim da minha vizinha Dona Iolandinha, corri pra pracinha para ver Rosinha, óbvio que não fui sozinho, me acompanharam centenas de borboletinhas enlouquecidas, que faziam cócegas na minha barriga e minhas mãos transpiravam. 

 

Quando vi a menina moreninha dona daquelas borboletinhas, com os cabelinhos cacheados soltos ao vento, com um vestidinho amarelo de chita com flores vermelhas e as banheirinhas profundas, me convenci enfim, de que o Olavinho estava certo, eu estava apaixonado...percebi então, que eu já era grande.

 

Passados cinquenta anos, ainda nos amamos e as borboletinhas amadurecidas só ficam alvoroçadas, quando na Igreja da Fonte aos Domingos, agradecemos o amor infinito com que Deus nos consagrou. Eu e minha morena Rosinha pra sempre juntos ou até que as borboletinhas adormeçam e os anjos levem as suas banheirinhas para tomar banho no céu.

Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 02/05/2022
Reeditado em 02/05/2022
Código do texto: T7507788
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