ABÓBORAS AO LEITE - Chovendo graças
' O terreno era arenoso, fustigado de calor, regado com suor e lágrimas, mas, reinava ali fé e muito amor...o que fez toda a diferença...'
Quando o Sol raiava já com muita incandescência, o pai dos Ferreira Lima, acordava a família para a primeira oração do dia, os ventres roncavam acompanhando a reza. Grãos de milho com farinha umedecidas com água barrenta e uma pitada de sal, eram os alimentos abençoados que mantinham cada um deles de pé. O pai tão jovem tinha vincos no rosto que o envelheciam, a mãe estava magra, mas, perseverava na crença por dias melhores, os três filhos pequenos ajudavam no roçado parco e no cuidado das duas cabras e das poucas galinhas que ainda restavam, a inocência os tornava fortes e o exemplo da garra dos pais e o amor que os aquecia, lhes mantinha os sorrisos, gente simpes e fervorosa.
As raras chuvas mal nutriam o solo e cada grão que vingava era comemorado. As léguas que caminhavam para conseguir água para a semana, destruía o corpo, mas, fortalecia a esperança afagando a alma.
A hora do almoço de Domingo era a mais esperada, pois além do milho com farinha, a mãe colocava um ovo frito para cada um e se a benção da semana tivesse sido maior, recebiam também um naco de rapadura.
O pai e a mãe trabalhavam em roçados de cana pela manhã e à tarde plantavam algumas sementes de milho e feijão de corda, regavam com água quando conseguiam e às vezes somente com lágrimas de fé e esperança.
O feijão colhido era ínfimo e na maioria das vezes virava moeda de troca por outros alimentos, tais como açúcar, sal, farinha e também sementes. As crianças já não viam feijão à mesa há mais de seis meses, mas, se conformavam.
Se as cabrinhas recebiam mais alimento, proviam um pouco de leite para as crianças e a mãe andava regando um pequeno espaço com abóboras, que estavam vingando heróicamente, ela vislumbrava um almoço especial com a primeira que ficasse madura, as outras seriam vendidas os trocadas e novas sementes desbravariam o árido chão, mas, eles eram os Ferreira Lima e na poesia de suas calejadas vidas não cabia desistência, na fé inabalável perseveravam.
N'um mês acalorado e desestabilizante, as crianças choravam de fome, a primeira benção veio da terra, uma grande abóbora aflorou plena do solo e a família orou com maior intensidade ainda. A mãe cortou fatias generosas e cozeu até a polpa amolecer, provou e a abóbora era adocicada e muito, muito macia, a rega com leite deu a ela realmente um sabor especial. Falou com o marido e ele prontamente colheu as outras quatro que vingaram, certamente conseguiria um bom valr por elas.
Sentaram-se no chão com seus pratos repletos de abóbora com farinha e um tanto de leite nas canecas, naquela noite as crianças dormiram silenciosas. As cabras também ganharam nacos de abóbora e grão de milho. Os pais agradeceram a benção do dia, na manhã seguinte, arrastariam o carrinho de mão com as abóboras para vendê-las na feira. A mãe mandou pelo marido, uma lata com um pouco delas cozidas, assim os compradores poderiam provar e verificar como eram saborosas. Realmente o sabor e a consistência fizeram sucesso. Um comerciante encomendou mais para dois meses depois, caso conseguissem a mesma qualidade. No carrinho de mão do marido, vieram dois latões de água, no carrinho da mãe uma outra benção chamada de carne de Sol, açúcar, sal, farinha e um saco de biscoitos de polvilho. As três crianças levavam nas mãos bananas e laranjas...abençoadas abóboras de leite!
Todos focaram na plantação das abóboras regadas com leite, as refeições um pouco mais fartas fortaleciam seus corpos e com cada venda ou troca, os Ferreira Lima oravam e agradeciam. As abóboras ao leite fizeram com que pudessem comprar um burrico e uma carroça pequena, o que facilitou o comércio. Passaram a vender não só as abóboras, mas, também alguns ovos e um pouco de milho e feijão.
O final do ano chegou escuro e quente e uma chuva generosa caiu por quase um dia inteiro, os Ferreira Lima recolheram toda a água que foi possível, se banharam com prazer, sob a chuva abençoada, a mãe nem se lembrava da textura original de seus cabelos e até o pai se barbeou, as criancas até riram da cara limpa do pai. Dormiram tarde pois havia tanto para agradecer e o sono foi reconfortador.
A colheita de feijão, milho e abóboras proporcionou um benção de mudança, conseguiram um terreno com uma meia água, ficava mais perto da cidade e as crianças poderiam ir para escola. As abóboras da mãe continuaram sendo plantadas regadas à leite, ela também aprendeu a fazer compotas salgadas e doces com elas. Como o açude era mais próximo, suas pequenas plantações vingavam e aos Domingos já tinham como colocar um pedaço de galinha no prato de cada um, a casa tinha lampiões para que os meninos pudessem fazer as lições e a mãe tinha até fita no cabelo trançado.
Pode parecer que são bençãos enviadas em doses homeopáticas, mas, são bençãos que fortalecem o espírito daqueles que crêem verdadeiramente. O amor, a fé e a perseverança uniam os Ferreira Lima, reforçando os alicerces primordiais acima dos quais foram concebidos...o futuro...a Deus pertence.
' O terreno era arenoso, fustigado de calor, regado com suor e lágrimas, mas, reinava ali fé e muito amor...o que fez toda a diferença...'
Quando o Sol raiava já com muita incandescência, o pai dos Ferreira Lima, acordava a família para a primeira oração do dia, os ventres roncavam acompanhando a reza. Grãos de milho com farinha umedecidas com água barrenta e uma pitada de sal, eram os alimentos abençoados que mantinham cada um deles de pé. O pai tão jovem tinha vincos no rosto que o envelheciam, a mãe estava magra, mas, perseverava na crença por dias melhores, os três filhos pequenos ajudavam no roçado parco e no cuidado das duas cabras e das poucas galinhas que ainda restavam, a inocência os tornava fortes e o exemplo da garra dos pais e o amor que os aquecia, lhes mantinha os sorrisos, gente simpes e fervorosa.
As raras chuvas mal nutriam o solo e cada grão que vingava era comemorado. As léguas que caminhavam para conseguir água para a semana, destruía o corpo, mas, fortalecia a esperança afagando a alma.
A hora do almoço de Domingo era a mais esperada, pois além do milho com farinha, a mãe colocava um ovo frito para cada um e se a benção da semana tivesse sido maior, recebiam também um naco de rapadura.
O pai e a mãe trabalhavam em roçados de cana pela manhã e à tarde plantavam algumas sementes de milho e feijão de corda, regavam com água quando conseguiam e às vezes somente com lágrimas de fé e esperança.
O feijão colhido era ínfimo e na maioria das vezes virava moeda de troca por outros alimentos, tais como açúcar, sal, farinha e também sementes. As crianças já não viam feijão à mesa há mais de seis meses, mas, se conformavam.
Se as cabrinhas recebiam mais alimento, proviam um pouco de leite para as crianças e a mãe andava regando um pequeno espaço com abóboras, que estavam vingando heróicamente, ela vislumbrava um almoço especial com a primeira que ficasse madura, as outras seriam vendidas os trocadas e novas sementes desbravariam o árido chão, mas, eles eram os Ferreira Lima e na poesia de suas calejadas vidas não cabia desistência, na fé inabalável perseveravam.
N'um mês acalorado e desestabilizante, as crianças choravam de fome, a primeira benção veio da terra, uma grande abóbora aflorou plena do solo e a família orou com maior intensidade ainda. A mãe cortou fatias generosas e cozeu até a polpa amolecer, provou e a abóbora era adocicada e muito, muito macia, a rega com leite deu a ela realmente um sabor especial. Falou com o marido e ele prontamente colheu as outras quatro que vingaram, certamente conseguiria um bom valr por elas.
Sentaram-se no chão com seus pratos repletos de abóbora com farinha e um tanto de leite nas canecas, naquela noite as crianças dormiram silenciosas. As cabras também ganharam nacos de abóbora e grão de milho. Os pais agradeceram a benção do dia, na manhã seguinte, arrastariam o carrinho de mão com as abóboras para vendê-las na feira. A mãe mandou pelo marido, uma lata com um pouco delas cozidas, assim os compradores poderiam provar e verificar como eram saborosas. Realmente o sabor e a consistência fizeram sucesso. Um comerciante encomendou mais para dois meses depois, caso conseguissem a mesma qualidade. No carrinho de mão do marido, vieram dois latões de água, no carrinho da mãe uma outra benção chamada de carne de Sol, açúcar, sal, farinha e um saco de biscoitos de polvilho. As três crianças levavam nas mãos bananas e laranjas...abençoadas abóboras de leite!
Todos focaram na plantação das abóboras regadas com leite, as refeições um pouco mais fartas fortaleciam seus corpos e com cada venda ou troca, os Ferreira Lima oravam e agradeciam. As abóboras ao leite fizeram com que pudessem comprar um burrico e uma carroça pequena, o que facilitou o comércio. Passaram a vender não só as abóboras, mas, também alguns ovos e um pouco de milho e feijão.
O final do ano chegou escuro e quente e uma chuva generosa caiu por quase um dia inteiro, os Ferreira Lima recolheram toda a água que foi possível, se banharam com prazer, sob a chuva abençoada, a mãe nem se lembrava da textura original de seus cabelos e até o pai se barbeou, as criancas até riram da cara limpa do pai. Dormiram tarde pois havia tanto para agradecer e o sono foi reconfortador.
A colheita de feijão, milho e abóboras proporcionou um benção de mudança, conseguiram um terreno com uma meia água, ficava mais perto da cidade e as crianças poderiam ir para escola. As abóboras da mãe continuaram sendo plantadas regadas à leite, ela também aprendeu a fazer compotas salgadas e doces com elas. Como o açude era mais próximo, suas pequenas plantações vingavam e aos Domingos já tinham como colocar um pedaço de galinha no prato de cada um, a casa tinha lampiões para que os meninos pudessem fazer as lições e a mãe tinha até fita no cabelo trançado.
Pode parecer que são bençãos enviadas em doses homeopáticas, mas, são bençãos que fortalecem o espírito daqueles que crêem verdadeiramente. O amor, a fé e a perseverança uniam os Ferreira Lima, reforçando os alicerces primordiais acima dos quais foram concebidos...o futuro...a Deus pertence.