Um conto de amor...

Um conto de amor com cheiro de néctar da flor...

Como seria o não haver,

A comunhão de nossas almas,

Os suspiros e olhares?

Seria, talvez, como a morte?

Ou, sorver pouco a pouco o amargor da inexistência?

Melhor seria, então, morrer de tanto sorver esse néctar tão doce e perigoso, que de tão parecido com o amor, até o é. E neste amar, invento o texto e o contexto no qual você, inteira, acabará por se formar.

Sinto seu cheiro como torpor a embriagar-me os sentidos, eu a quero minha e apaixonada, o frescor de seu aroma de flor a percorrer os atalhos da paixão. Ver correr e jorrar de ti, o néctar que busco como lenitivo balsâmico para minhas dores angustias e tristezas, como fonte de inspiração para doces momentos de encantamento e paixão.

Quero também tua essência, não te invento o gosto inesperado. Pois, de nada vale se recolhido em sua concha dócil, na qual me enlaço e me faço conhecedor das artimanhas do amor.

Teu amor me perturba um pouco. Denso ele ata invisíveis cadeias em meus pulsos. Mas, não fujo das armadilhas suaves que pressinto a cada passo, que não evito...

Teu amor amadureceu em mim na quinta estação e a terra toda, meu corpo, transpira em seu néctar, momentos que já são eternos. Como saber da tua essência, sem o roçar suave do meu rosto em sua vegetação rasteira?

Aqueço meus sentidos com quente e inebriante perfume, sinto sob a língua a sede ávida de água e mel dentro de ti submersos. Indecifráveis promessas, coisas tuas, só tuas.

Não me acostumei a teus segredos, nunca é igual o sabor da fruta escura do teu sexo.

Uma fúria infinita volta a mim e trucida este macho inconseqüente, que de tão inebriado e submisso, fez toda secura do deserto se manifestar e acabou com qualquer vestígio do néctar da tua flor.

Encantada, admirada, ficas a ver meu furtivo atrevimento, meu procedimento impetuoso. Gosto tanto que lhe espanto. E num relance, também tomas teu caminho, indo e vindo em suas próprias rotas. Mudando sempre, sumindo, indo e vindo...

Desnorteando ao redor, ou esperando a calmaria, livre, aberta, alerta. Do movimento, só o refinamento do espremer plácido do sumo que consomes em tuas entranhas. Abasteces-te, te completas de mim com meu mel, me liquidando, nos transmutando.

Então, derramas sobre o meu corpo o volume imenso do teu olhar. Depois, fecha os olhos, e como lendo em BRAILLE, me vê com seus toques; mãos, boca, saliva...

E não apenas com esses toques inunda-me novamente com sua inundação, com seu néctar, suco, água. E de seu olhar parado, dá para mim somente as lágrimas do seu desejo agora saciado.

O néctar que há em ti, diferente do que há na flor, guarda-se em frasco de pequeno tamanho e grande fragilidade, é o teu mel, o mel da mulher. Difícil de ver, entender, saborear...

Mas, quando visível, deixa terno o homem vidente. Evidente, deixa patente a fragilidade, a doçura da mulher que o contém.

Eu sei, eu vi, eu provei. E agora, minha alma aguarda o sofrer que faz retirar-me num retiro de deserto: Sem leite, sem mel, sem carinho durmo com gosto amargo, sonhando com o néctar que ainda não foi provado, saboreando o perfume e o gosto que me restou.

T@CITO/XANADU

Paulo Tácito
Enviado por Paulo Tácito em 03/06/2020
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