PASSAGEIRA DA NOITE
Naquelas tantas da noite, cenário sombrio, iluminação ineficiente, potência de mais ou menos uns cinco lampiões ainda que a neblina se encarregasse de escurecer mais um pouco.

As janelas dos casebres se fecharam mais cedo, todos os seres vivos não dava a cara para o frio penetrante daquelas horas dessa noite. Todos se esconderam em seu ambiente residencial, só se ouviam os uivos dos cães bandoleiros, os gatos atravessavam as ruas com rapidez, pareciam fugir de algo, o pelo arrepiado e o rabo teso.
 
O relógio da matriz marcava as doze badaladas no momento que um carro preto, marca Chevrolet modelo recente, diminuía a velocidade e até que parou mesmo no meio da rua, a porta da frente que ladeava o motorista se abriu, ouviam-se gritarias, o casal trocava diálogos em vozes altas, se tratava de um desentendimento, a jovem senhora desceu, colocou os dois pés no chão e bateu a porta do veículo com força, tão raivosa que estava, esqueceu sua bolsa no banco do carro, o homem motorista jogou a em pleno leito da rua, ela abaixou e pegou a bolsa conferiu os pertences ainda tudo estava lá, até um feixe de notas graúdas, ele não tirou nada, o seu bom dinheirinho ainda estava tudo certo em outro compartimento de sua bolsa. 

Tomada de um nervosismo infernal, as palavras de baixo calão continuavam, são ditas em clima de berros em escândalos.

A pé de sapatos saltos agúlhas, nesses terrenos esburacos, grande dificuldade nas marcações dos passos pôs a caminhar por essa via pública deserta, parecia que estava voltando de onde veio uma inquietação naquela figura de mulher, tremula pelo clima ou indignação e medo do perigo nessa hora da noite.

Estava  longe de sua casa, chegar até lá seria impossível a pé.
Clarice caminhava procurando uma forma de passar a noite sem que ninguém a percebesse, os carros de aluguéis não não atendiam chamadas nessse local devido a ser area perigosa, muito violento essa localização nessa vila de moradias montanhosas que existia por ali, felizmente hoje não havia ninguém nas ruas, nem mesmo os marginais, acho que o frio deixou todos preguiçosos, sorte dela pois uma senhora jovem e de ótima aparência atraente, Clarice seria um bom petisco para os tarados e estupradores, disso ela tinha medo, já quase no fim da rua enxergou uma luz, parece que era em uma construção que ainda estava em obra, pensou em adentrar sorrateiramente, mas der repente deu de cara com um senhor todo se enrolado de uma manta de frio, homem idoso aparentava mais ou menos uns sessenta anos , pessoa a qual ela já a conhecia, mas não lembra de onde, não se sabe se foi em um de seus programinhas que os quais ganharia alguns cem pratas cada... quer dizer... sei não, pode ser, a final são tantos homens que conheço nessa vida que levo.

-Bom dia senhor, acho que já passa das vinte e quatro horas, e é bom dia mesmo.
- bom dia, disse o senhor após aspirar uma tragada de seu cigarro branco, se retorcendo do frio apesar de estar bem agasalhado.

  - o senhor me desculpe, mas eu me encontro em uma situação muito difícil, estava com um acompanhante até agora pouco.

Senhor interrompeu a narrativa da moça e completou:

- vi quando vocês passaram por aqui, anotei até a placa do veículo... Isso é um habito, pois costumo jogar na loteria e muitas vezes procuro essa coincidência de números, já ganhei alguns trocados no jogo do zoológico.

Diga lá pra mim o que te apoquenta? Acho que vocês vinham daquela casa de prostituição estabelecida ali.

- sim, nós estávamos lá, pratico minhas horas ociosas para fazer uns contatos com meus caras. Hoje para mim foi um dia de cão, não deu nada certo, só dei bola fora, mas assim mesmo ainda consegui ganhar uns mil reais.

- porque você desceu do carro, não estava bem acompanhada? Ele não causou nenhuma estupidez com você, diga lá, qual coisa extra-ordinária eu tenho o nº da placa do carro, podemos fazer um boletim de ocorrência.

- deixe isso pra lá, logo ele vai vir chorando aos meus pés, e o caxê dele sempre foi bom, da proxima vez eu acerto as contas com ele.

- muito cuidada princesa, essas noites são muito perigosa.

- obrigado por preocupar tanto comigo.
- eu já vi muitas mortes acontecer por aqui, já faz sete anos que estou por aqui.
 
-nós nos desentendemos, começamos a brigar a ponto dele me tirar do carro, queria fazer comigo coisas que estava fora do combinado, o que foi conversado fiz, mas, o que foi fora do programa eu resistiu e não fiz, agora fiquei sozinha por essas ruas, não tenho como chegar a minha casa, é muito longe, preciso urgentemente de um lugar para eu passar a noite, não importo como, qualquer cantinho até amanhecer aí eu pego um taxi e vou embora, prometo que não vou te aborrecer já mais.

- a senhora tem sorte minha jovem senhora, eu posso arrumar minha cama pra senhora, sou o guarda dessa construção, você se arruma lá até chegar a hora de eu dormir, não se preocupe, não vou tirar proveito dessa situação em que está passando, se um dia a gente se encontrar por aí nesse mundão sem dono, aí combinaremos até  dar umas umbigada, apesar desses meus cinquenta e nove  anos ainda faço bom sexo, estou muito inteiro ainda, hoje, por exemplo: não estou em condições, já me desgastei tudo que eu tinha armazenado, por isso não vou te aborrecer em nada, amanhã bem cedo você passa a minha caminha de volta.

- sim senhor,  um dia te vejo, aí vai rolar uma programa legal.

- não vai pensar que esse favorzinho vai ficar na graça. Agora vá dormir logo.

- sim, senhor, pode ficar a vontade, não vou alterar em nada seu cantinho, confesso que seus lençóis ficaram até mais perfumados.

Seu Abrão em gesto de brincadeira – Você não tem o costume de fazer xixi na cama, ou não?

- só quando eu tomo umas meias dúzia de cerveja, como hoje eu não tomei nada mesmo, então não correremos esse risco.

Clarice dirigiu-se até o fundo, encontrou o cômodo em que seu Abrão dormia durante o dia, esse quarto nessa construção já estava acabado, tinha o banheiro, chuveiro e uma caminha bem limpinha, seu Abrão era um senhor muito caprichoso.

Clarice até tomou uma chuveirada, se enxugou com suas próprias roupas, se preparou para dormir, era pouco mais de meia noite.

Ela dormiu em seguida, poucos minutos assim que descansou as costas no colchão dessa caminha tão aconchegante.

Essa casa de prostituição ficava a uns quinhentos metros arretirada do local em que se encontrava o posto de guardas do senhor Abrão e o trânsito que ia e voltava nessa rodovia BR passava por ali, seu Abrão passava a noite acordado, além de se divertir com o movimento, também guardava os bens armazenados nessa obra.

Às cinco horas da manhã já aproximava, o velho se dirigiu para os fundos, levou seu radio de pilhas com sigo e como de costume começou a passar um cafezinho saboroso, pegou nos guardados a caixa de filtros de papéis e todos os vasilhames, preparando com a água logo já estava fervendo começou a coar, jogando jogando o líquido quente e fumegante no pó de café colhendo uma garrafa térmica quase pela boca,  no radio velho de seu Abrão já anunciava a hora certa para se despertar, preocupado com Clarice que dormia a soltas e bem a vontade, a chamou e até deu uns chacoalhes fazendo que a moça acordasse logo que nascerá o dia e a peonada da obra já-já retornaria a labuta.

Clarice acordou meio que sonolenta assim como quisesse ficar mais, mas senhor Abrão disse com firmeza que ali não poderia ficar mais.

O velho senhor convidou a para que tomasse o café fresquinho e saboroso, já estava pronto na mesa.

- Saborosíssimo seu café, muito bom esse seu cantinho, acho que voltarei mais vezes, posso, senhor Abrão.

- Sim será um prazer recebe-la em meu lugarzinho, você pode vir quantas vezes quiseres, é uma senhora muito bonita, limpa, garanto que os meus lençóis agora estão  mais perfumados, o sofrimento meu é; não vou te esquecer por essa semana toda.

- Não se preocupe, em breve estarei de volta.

Clarice abriu a bolsa tomou o seu telefone móvel e chamou um taxi.

- ah... Já ia me esquecendo, deixei um presentinho para o senhor debaixo do travesseiro, não decepcione, é pouco mais ajuda.

Abrão seguiu até a cama que ela dormiu e foi conferir.

-Não, não, não posso aceitar, pode ficar com você esse dinheiro é seu não gosto de ficar com dinheiro de mulher.

- Não se preocupe senhor Abrão, amanhã eu ganho mais.

Batendo com a mão entre as duas virilhas, um pouco à baixo do ventre ela dizia com orgulho:

- essa aqui me faz ganhar muito mais que isso em dinheiro.

- não quero, esse dinheiro é seu.
 
- Não... É seu, é de bom coração! Exclamou em voz alta, tomou o taxi que estava esperando em frente e foi-se embora prometendo voltar.

Não demorou dois dias Clarice estava de volta, Abrão contou sua história, Clarice ficou muito triste, assumio as dores desse seu  mais novo amigo que estava passando por uma separação, já fazia alguns meses que não voltava para casa, morava no interior, essa empresa construtora tinha obra em muitos estados da federação, vez em quando  se mudava para outra obra em outra cidade conforme seu superior ordenasse.

- porque a empresa se interessaria em manter um empregado sem qualificação com tantos anos de trabalho? (Questionou Clarice perguntando)

Abrão foi logo respondendo:

- Não sou vigilante, sou encarregado do setor de pedreiros de acabamentos, nem  um qualquer,  responsável por um setor muito imortante, a empresa me paga um bom salário por essa minha função, tenho problema de insônia e prefiro ficar aqui nas folgas de meu amigo, acabo me de lembrar amanhã ninguém trabalha, posso dormir o dia quase todo, mesmo que não fora tenho a liberdade de dar as minhas dormidinhas, meus amigos pedreiros são muitos eficiêntes, não preciso ficar em cima do serviço, eles trabalham direitinho.

Sofro muito com essa separação, sempre fui apaixonado pela minha esposa, nunca a traí, não sei como fazer sexo com outra mulher, criei meus quatros filhos, hoje já casados, agora que poderíamos tornar um casal sem filhos por perto me veio essa separação. Disse o velho com ar de decepção.

- pois é seu Abrão, hoje o senhor vai fazer uma nova história em sua vida, não vá me frustrar em, esse material aqui é de primeira e tá bem cotado no mercado do sexo, o que muitos pagam caro para ter, o senhor vai ter de presente e vamos que vamos que a noite é nossa.
Clarice esqueceu se de seu marido truculento, das brigas, dos esfolamentos, não se lembra de mais das dores dos socos e sopapos em que levou de seu marido violento.

Abrão deixou para o esquecimento os traumas da separação, a noite de amor veio trazer a cura desses males que atingia aquelas duas criaturas, essa noite foi apenas uma noite das mil e umas que viram, tudo veio a calhar na vida dos dois.

As aventuras noturnas das noites de orgias ficaram perdido na história de Clarice que agora viverá  somente para Abrão e serão felizes para sempre.

antherport/ 01/6/19
 
 
 
 
 
Antonio Portilho antherport
Enviado por Antonio Portilho antherport em 01/06/2019
Reeditado em 17/04/2021
Código do texto: T6662568
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