AMOR INCOMENSURÁVEL
Avelino e Emma, casados há 62 anos, é um casal feliz.
“Mais felizes seríamos, se esse vazio imenso, entranhado em nossas vidas, pela falta dos filhos que nunca tivemos, não existisse”, esclarece Emma.
O vácuo existencial foi, ao longo desses anos todos, metodicamente driblado pelo trabalho na roça e na lida com seus animais, os quais sempre amaram como se fossem seus próprios filhos. Mas a idade chegou de forma inexorável. O trabalho exaustivo ficou para trás e já não conseguiam mais se dedicar, da forma como sempre fizeram, aos seus “bichinhos”. Cansaram. Recolheram-se ao aconchego do lar e, então, conheceram Duque, um lindo filhotinho de pastor alemão.
Amaram Duque à primeira vista e Duque os adotou como pais.
Na medida em que o cãozinho crescia, mais eles o amavam. Era o filho que não tiveram e que agora alegrava seus dias de velhice.
Duque tornou-se companheiro inseparável do casal. Por onde quer que fossem, ele os acompanhava, sempre atento à menor necessidade de um ou de outro. Quando os via tristes, fazia tudo o que sabia para alegrá-los. Se ficavam doentes, ele entristecia e só voltava a animar-se, quando os via restabelecidos. Amava os dois igualmente.
A felicidade, enfim, estava completa.
E assim os anos iam passando.
Certo dia, Emma adoeceu gravemente e não resistiu. Uma tristeza profunda tomou conta de Duque e foi assim que ele acompanhou o cortejo e assistiu ao enterro.
Quando os participantes do funeral deixaram o cemitério, ele ficou. Deitou-se ao lado do túmulo e não houve quem o convencesse a ir para casa. Dormiu ali, ao lado daquela que tanto o amara.
Voltou para junto de Avelino no outro dia, por volta das oito horas, consternado e exaurido.
A partir de então, ele visitou o túmulo de Emma, religiosamente, todos os dias, no mesmo horário, durante três anos. Foi quando Avelino, cansado de lutar contra a dor da perda incomensurável, doente e corroído pela tristeza que lhe invadira a alma, partiu para junto de sua companheira amada.
Duque não teve dúvidas e tomou a grande decisão de sua vida: mudou-se para o cemitério. Alojou-se ao lado do túmulo daqueles a quem o amor o ligara para sempre e ali permaneceu, alheio aos insistentes apelos para que deixasse o local.
Duque viveu por mais três anos, junto ao túmulo de Avelino e Emma. Então, a doença e a velhice o encaminharam para a dimensão na qual haveria de reencontrar os pais.
Um amor assim, não pode morrer.