Houve um tempo
Houve um tempo em que o espontâneo se fazia presente. Em que tudo era novidade e vontade de ousar.
Houve um tempo em que acordar era ter mais uma chance - a melhor chance - de dar um gás naquele amor com sabor de sonho de padaria, naquele amor que transformava tudo em volta, até o trabalho chato parecia não incomodar ou mesmo a TPM já não era mais tão inferno.
Depois, com a aparente vitória da relação, com a necessidade de ganhar dinheiro, de fazer o cabelo para a festa de confraternização, de fazer contas para pagar o consórcio do carro do ano, de disfarçar alegria para evitar as brigas… depois da meia noite, do sapato de cristal já no pé da amada, enfim, depois de tudo, o que se tem é uma longa estrada, repleta de lombadas e velhas paisagens que poderiam, finalmente, perder a graça.
Então, eles já viviam de coito planejado, de amor com horário, de programação para um beijo de língua, não necessariamente na hora do sexo. Eles viviam de amor como notas para não esquecer que ainda estavam em uma relação.
Até que um dia, o que não se planejou, aconteceu: uma separação que não marcou horário, mas veio firme como forma de superar aquele amor burocrático que se deu.
Pronto! Eles jogaram fora a agenda do amor previsível que virou um fardo. E novamente se sentiram livres. Mesmo que solitários!