Duplo - Donzela do Gelo
Duplo
Então nós estávamos diferentes. E ele foi direto para o banheiro, abriu o chuveiro e começou a falar sozinho. Cantou, e também pronunciou palavras que me faziam vibrar em frequências diferentes. Abriu seu pulmão, e a cada respiração que dava, eu podia sentir as moléculas de ar dançando em todas as partes.
Eu estava vazia, e meu vazio lhe abraçava por todos os poros. Eu era um ser totalmente em branco e ele era meu contorno imaginário. Pensei em tirar uma foto de mim mesma, retratar de algum modo todo aquele momento de dúvidas e incertezas. Não pude fazê-lo. Observando-o, vi quando ele se posicionou em frente ao espelho. E lá escreveu o que eu estava sentindo de forma embaçada. Foi quando sem cor, e pálida de susto ou medo, dormi.
Assim que acordei, curiosa, fui até o banheiro para ler a frase que ele ali deixara. Mas ela não estava mais lá, havia evaporado. Nem ele, nem eu, estávamos lá, tínhamos evaporado, como aquele texto que se perdeu em poucos momentos. O que restou foi um rosto, e dois olhos, que nunca se viram.