Vamos subir nas árvores?
Criança eu tinha umas loucuras na cabeça. Aliás, toda criança que se preze tem que ter essas loucuras. Na cabeça. Na alma.
Eu morava em uma vila. E na esquina tinham algumas árvores. Geralmente eu costumava ir até lá pra subir nelas. Adorava me esconder entre galhos e folhas. E sempre tinha a companhia de alguns insetozinhos, pretinhos, com pequenas pintas brancas como que pregadas em suas asinhas. Nós os chamávamos de soldadinhos. E dava pra pegar pelas asinhas para olhar mais atentamente para eles. As perninhas balançavam no ar. Depois tive a ideia de pegar uma caixa de fósforo para guardar alguns soldadinhos pra brincar comigo na minha casa. Dava pra guardar uns 3 ou 4 ali.
Não contava pra ninguém. Mas a ideia de subir em árvores era pra também imaginá-las como uma espaçonave que me levaria pra outro planeta. No meio das folhas eu me escondia e a imaginação fluía mais intensamente. Sempre me imaginei pousando em outro planeta e explorando tudo com meus soldadinhos de pintas brancas.
Passado um tempo, eu já não era tão criança. Era um quase adolescente. E ia, nas férias do colégio, para um balneário no Pará com meus avós. Geralmente, nessa época, não era muito movimentado. Era encontrar os poucos amigos que estavam por ali e inventar brincadeiras.
Em frente a casa dos meus avós tinham duas árvores até maiores do que as de perto da vila que eu morava. E uma dessas vezes eu estava com uma amiga minha, a Cristina. Era Loirinha e tinha uma boca bem vermelha que parecia um morango. Estávamos entediados, sem nada pra fazer ali. Até que tive a ideia:
- A gente podia subir na árvore, o que acha?
- Subir na árvore? Pra quê?
Eu a incentivei:
- Vem, vai ser divertido.
Sem muita resistência, ela topou.
Escalamos a árvore com cuidado. E chegamos lá em cima. E essa árvore tinha muito mais folhas. A gente se sentia mais escondido. Chegando lá em cima, ficamos parados um tempo. Eu adorando estar em mais uma árvore.
- Tá, a gente chegou aqui e agora faz o quê? - perguntou Cristina.
- Não achou legal? - tentei estimular.
- É... Mas acabou a brincadeira. Já subimos.
- Pera... Eu tive uma ideia...
Realmente, às vezes eu me surpreendia com as ideias que surgiam rápidas na minha cachola.
- Fecha os olhos - eu pedi.
Prontamente Cristina atendeu ao meu pedido e ainda pôs as mãos nos olhos. Eu me aproximei lentamente e lhe dei um beijo de um minuto e meio. Pela primeira vez senti que realmente eu estava em outro planeta.
Cristina abriu os olhos e me fitou.
- O que foi isso? - perguntou.
- Um beijo interplanetário, não gostou?
Ela sorriu e me abraçou. Descemos da árvore e foi, então, que eu tive certeza de que beijos eram melhores que guardar soldadinhos em caixas de fósforos.