UMA NAMORADA E SEUS SEIS IRMÃOS

UMA NAMORADA E SEUS SEIS IRMÃOS

                                                      Conto de Solano Brum

Armando estava sentado no banco pouco confortável daquela charrete, havia pelo menos uns... Não soube precisar
Percorria, agora, o mesmo itinerário que havia feito dias atrás, quando de sua visita; todavia, carregava seus sonhos no coração apaixonado, nascidos desde o dia em que encontrara sua namorada, naquele quarto. Agora, aquela estrada, sentia que levava no peito um vazio do tamanho do mundo. Voltava mais só do que quando chegara. Pensou que assumiria um romance com ela; que... Se casariam... Que seriam felizes!

“Acho que vai chover...” - Pensava e se preocupava com seu relógio dourado e sua pulseira de couro de marca “Mondaime”. Não era à prova d'Água. O cavalo trotava e subia uma pequena escarpada enquanto que, à cavalo, um jovem que havia sido designado pelos outros seis irmãos para levá-lo de volta até à pequena Cidade do interior do Espirito Santo, lá pros lado de Castelo, tal como o fizera anteriormente, se apressava à sua frente.
Quando de sua chegada, passara por aquela árvore; - olhava e admitia - passara também por um riacho sem atravessá-lo e... Era mais pra dentro do mato e gostaria de molhar pelo menos os pés para que suas águas levassem para bem longe sua triste mágoa. Nesse instante, instintivamente levou a mão ao bolso do paletó e apalpou a última correspondência trocada. Esta, era a carta suplicando-lhe que a visitasse. Entre os solavancos da charrete, de lá trouxe um envelope e dele, retirou o fino papel manuscrito de uma só página. Não queria ler para não se sentir mais derrotado do que já estava, porém, a referida carta, mesmo estando a enfrentar tal situação, lhe traria alívio a alma, caso relesse. Mas o momento não era propício. Guardando-a lembrava-se de como ela começava sua carta:
Doe seu amor ao meu coração, pois, “Quem doa ao pobre empresta a Javé que lhe dará a recompensa” Pro. 19 v 17.
Depois, a segunda explicava o porquê das palavras:
“Palavras amáveis são como favos de mel: doce ao paladar, saúde para os ossos!” Pro 16 v 24.
E esta última, sem citações, tantas vezes lida, foi a que mais o empolgou, pelo convite.
“Feliz esse meu dia de mil novecentos e cinquenta e oito por te escrever...”
E continuava enchendo seus olhos de alegria e povoando seu coração de sonhos.

Não fora isso que, em conversa com uma linda jovem de nome Natália ficou sabendo. Logo que chegou e desceu na Plataforma da Estação, pela última carta que havia postado, chegaria usando um terno de linho beje, pequeno chapéu e sapatos de marca “Samelo”. Não foi difícil para quem o esperava – chapéu de palha na mão esquerda enquanto que, a outra, segurava as rédeas de seu cavalo, tendo ao seu lado uma charrete.
“Ela havia mencionado tantas coisas nas rápidas cartas, mas, não que haveria um alguém a esperar-me – pensou rapidamente assim que ouviu a pergunta do jovem que se aproximara dele:
- Você é o Armando?
- Sim. - Confirmou com certo espanto, pois, pensou que seria ela quem haveria de esperá-lo. - Porquê? - Arriscou a pergunta.
O jovem não respondeu. Fez cara de quem não havia gostado de sua pessoa desde já. Armando não ligou. Em seguida, o indagou:
- Como você me conhece e sabe meu nome?
- Sou irmão dela! - Foi enfático nas palavras e continuou - Falou-me de você. Que era alto, sem bigode e de como você estava vestido! Foi só perguntar seu nome!
- Cadê Natália? - Porque ela não está aqui?
Nada falou e deu de ombros como se a pergunta não necessitasse de resposta.
Então lembrou-se de quem vira na Pensão. Também percebeu ao ver a charrete. Bem sabia que sua “bela Natália” ao mandar alguém buscar seu “Belo Antônio!” entusiasmada que era, lhe mandaria um confortável transporte. Ela não me conhece bem.... Podia ser um cavalo! - Pensou.
- Ah... Você veio me buscar... Mas ela não me contou que tinha um irmão!
- Um, não... - Adiantou ele apressadamente – Sou o mais jovem dos seis! Ao revelar, deixou escapar no rosto um esgar de ironia como se a notícia pudesse demovê-lo da ideia de continuar a viagem até a Fazenda. Mas Armando só tomou um susto.
Quando das primeiras conversas com ela, ficou sabendo pouco sobre sua pessoa. Quase nada lhe perguntara. A não ser a idade - vinte e cinco anos -, que era solteira e que morava numa pequena fazenda lá pelas bandas de... No entanto, não era bem aquilo que lhe interessava. Queria mesmo era saber se ela já havia namorado alguém e... É sempre assim. Uma mocinha deitada na cama, com a voz embargada por uma operação das Amígdalas, sozinha, muito bonita... frágil, já com vinte e cinco anos...
Certo dia, à tarde, quando Armando passava pelo corredor, um dos quartos estava com a porta aberta. Vivia numa Pensão administrada por uma Senhora Idosa, viúva, a qual todos os hospedes a tratavam com respeitosa sabedoria por Dona Mariquinha. Pois bem. Armando viu que alguém acenou a mão para o alto. Voltou dois passos e parou. Ela havia feito sinal para ele ou a qualquer um que passasse naquele instante. Mas quis o destino que fosse ele.

“ Ainda bem que foi para mim...” pensou, prestando atenção aos buracos da estrada enquanto controlava o cavalo que puxava a charrete. Já atingira o topo da escarpada e de lá ampliava-se-lhe a visão ao longe de uma extensa várzea. Pelo lado esquerdo, as mesmas flores que vira dois dia atrás; os mesmos passarinhos que cantavam... tudo era a mesma coisa naquela linda manhã! O medo da chuva havia passado. Olhou o relógio. Tudo era igual e muito real não fosse sua linda história acabar tão mal.
“Seis irmãos” - prestava atenção à estrada e lembrava da conversa com o irmão caçula no primeiro encontro, na sexta feira. Seis irmãos?” Caramba, como vou enfrentar a todos e mais o pai e a mãe assim que chegar?
Ao saber pela boca do mais jovem, pego de surpresa, não permitiu que o visse espantado e rodando nos calcanhares, desconversou. Porém, o espanto crescia a cada instante e era o que pensava enquanto dirigia a charrete para a fazenda – Agora, de volta, não conseguia entender o acontecido... Aquele entrevero...
Outra vez a charrete passou em um buraco. A estrada era apenas para cavalos mas a terra estava sulcada pelas rodas de carros de boi.
“Seis irmãos?”

Estancou na porta. Não era permitido entrar num quarto onde uma donzela estava acamada. Mas viu que sua mão ao gesticular, apontara para uma moringa d'água ao seu lado esquerdo, um tanto afastada da cabeceira da cama.
- Água? A senhorita quer que eu lhe dê água?
Ela balançou a cabeça e sorriu e ele não soube porque. Depois lembrou-se da cortesia. Um tanto exagerada? Talvez, não! Mas permaneceu na dúvida. Todavia, encheu-se de emoção por estar sendo útil a alguém que lhe chamara com um simples gesto. Quanto ao balançar da cabeça, ele entendeu. Despejou a água no copo e a seguir, o estendeu. Percebeu, assim que a delicada mão segurou o recipiente de vidro, que havia em seu dedo um anel cuja pedra reluziu. Imaginou ser um brilhante. Ao retornar o copo, outra vez percebeu que a pedra valiosa estava engastada em quatro garras de ouro, cujo aro, era fino.
- Tudo bem?
Ela balançou a cabeça. Apontou para a garganta e outra vez deixou escapar o sorriso. Desta, fez-se notar o cordão dos alvos dentes.
Seria muda? - Pensou rápido levando em conta o que deveria lhe dizer ou lhe perguntar, caso fosse.
Nesse instante, Dona Mariquinha entrou chamando-o para o lado de fora do quarto. Atendeu e ela falou-lhe bruscamente:
- Não podes entrar num quarto assim... Ela é hóspede e está de camisola!
Foi ai que Armando percebeu que tudo que vira antes, fora apenas o rosto da jovem e a pedra de seu anel de brilho intenso. Mas, para que tanto alarme? – pensou - seu corpo estava sob um lençol branco! - Ao virar-se, sentiu que a sexagenária Senhora puxara-o pelo braço, sem muito esforço. Nunca havia percebido o quão idosa era. Como tudo pode acontecer assim, tão depressa? - Pensava ele. E ao se posicionar do lado de fora, a viu entrar e fechar a porta atrás de si. Espantou-se com sua atitude pois sempre fora muito solícita com todos da Pensão, depois, concordou com sua reprimenda.
Armando trabalhava numa fábrica de Cimento – Em Cachoeiro do Itapemirim. Sua atividade na fábrica era Ajudante do Laboratório Químico Físico; assim, passava uma semana trabalhando durante o dia, na outra, das dezesseis à meia noite e na terceira semana, da meia noite às seis da manhã. Por isso participava pouco dos acontecimentos do dia a dia da Pensão. E quanto a nova hóspede que não falava, - bem menos! Mas como era no turno de uma semana da meia noite as seis, ficava metade do dia perambulando. Saia, conversava com amigos, jogava uma “sinuquinha” e voltava para dormir um pouco. Durante uma semana, à noite, não participava das aulas, mas colhia os ensinamentos dados e levava sua vidinha monótona, sem muitas incidências. Daí, a feliz passagem pelo corredor; a porta aberta e a chamada por um aceno, cuja mão sustentava a gema preciosa. No outro dia, rondou o quarto, não saiu de perto até que recebeu permissão de Dona Mariquinha para vê-la. No entanto, foi ela quem aventou a ideia sobre sua visita. Ficou sabendo no outro dia de que havia sofrido uma intervenção cirúrgica na garganta. Mas falava pouco. Havia três semanas operada. Uma tarde viu um Jovem, alto, cabelos loiros e olhos verdes sair do seu quarto. Espantou-se. Deveria ser seu irmão. “É claro que ela deve ter um irmão!” Concordava e concluía - “se fosse namorado, não teria permitido minha entrada no quarto!”
Seu irmão seguia na frente. Haviam percorrido pouca distância após a saída da Fazenda. De repente, ele parou seu cavalo pela suposta premonição que lhe chegara repentinamente. Algo lhe chamara a atenção vindo de um lado do mato. Vendo a imprevista situação, Armando puxou as rédeas que comandava o cavalo de sua charrete e o fez parar.
- Que houve? Sua voz cortou o silêncio. Tudo e todos os ruídos, cantares dos pássaros e coaxas dos sapos, como por encanto, se aquietaram naquele instante como se houvessem atendidos a uma ordem soberana.
- Sei lá... Disse ele, puxando o facão. O cachorro que nos acompanhava desde à saída da fazenda, latiu olhando para um determinado lado do mato. Depois, procurou ficar atrás da charrete como que amedrontado por algo que somente ele vira. Esse irmão, era o mais maleável. Não obstante a recepção um tanto ríspida quando de sua chegada na Estação, após o que, passou a tratá-lo bem.
A casa era uma espécie de fazendão. A sombra de sua fachada toldava o solo aberto do lado esquerdo onde deveriam apear.
Assim que desceu da charrete, num gesto rápido, ajeitou-se abotoando o paletó. Depois, num gesto rápido, tirou o chapéu da cabeça e retirou do bolso detrás da calça um pente preto de marca “flamengo” passou-o por duas vezes delicadamente sobre os cabelos castanhos e lisos; e, a seguir, recolocou o chapéu.
Seu gesto proposital em arrumar-se para uma boa apresentação, fez com que os anfitriões não se movessem do lugar donde estavam. E nesse mesmo páteo próprio para amarrar os cavalos, sem muitos rodeios, foi apresentado por esse irmão aos demais e a seguir, ao pai. Ela, só apareceu alguns minutos depois junto com uma Senhora a quem Armando julgou ser sua mãe. De longe, a viu sorrir. Retribuindo-lhe o sorriso de felicidade, notou que ela era mais linda de quando a conhecera! Estava vestida com vestido comprido, branco, calçava sapatos de saltinhos e se desmanchou em atenções, assim que se reuniu aos demais. Os cabelos estavam trançados até a nuca.
Mas foi obrigado a virar-se. Lá estavam os seis irmãos, enfileirados, esperando-o para os cumprimentos. Maquinalmente esticou a mão a cada um deles. Quando terminou os cumprimentos, sentiu que cada um fizera questão de lhe apertar a mão com muita força. Tanto que, ao unir a sua a do pai da moça, um homem alto, chapéu entre os dedos, largo de cintura, peito estufado, calvo no alto da cabeça, não soube como conseguiu medir sua força à dele. Todos os ossos doíam. Eram seis irmãos, porém, o mais velho tinha pouca estatura... Aliás, Armando viu que todos eram mais baixo que ele, que media um metro e oitenta e dois centímetros. A mãe, era uma senhora simpática. Todavia, ao menor gesto do sorriso de cortesia ou felicidade ao visitante, foi imediatamente contestada. Com um só olhar, o marido discordou de sua atitude. Após ultrapassarem aquele “festivo” encontro, entraram na casa. Ela acercou-se dele e o fez sentar-se numa cadeira de vime. Era uma sala grande. Por estar ali, é claro que havia o consentimento do pai e dos irmãos. Mas, lá na pensão, depois que se tornaram mais íntimos, eles trocaram uns rápidos beijinhos. Ela se encantou com ele e ele, após cheirar seu pescoço, ficou doido com o perfume do Talco “Cashmere Bulquet”. Além do talco, ela usava o Sabonete, a Água de Colônia e demais produtos da mesma marca, que dava à aveludada pele de seu rosto, uma fragrância estonteante. Era uma menina dócil, pacata e muito interessada por ele. Assim que sua garganta foi revista pelo médico e este atestou estar cicatrizada, ela permitiu um contato mais direto. Tudo muito rápido, dentro do quarto, mas, esquivara-se quando sentiu que ele havia ultrapassado os limites do que lhe fora permitido. Não permitiu. Disse-lhe que, somente depois de casada... Armando achou melhor esperar, pois, estava apaixonada pela bela Natália.

- Porque você está com o facão na mão?
- Não sei... ouvi um ruido e meu cavalo parou – disse ele, voltando-se para Armando.
Poucas vezes conversaram. Era ele quem os acompanhava a cavalo, algumas vezes que lhes fora permitido sair pelos arredores da Fazenda e ela lhe mostrasse os longes da propriedade. Muita nuvem (serração baixa) mas fazia calor. Quando resolviam descer dos cavalos, caminhavam lado a lado e se afastavam. Ele ficava descascando uma cana caiana e com isso, permitia ao casal alguns momentos íntimos. Outra vez montavam e as vezes se distanciam, sempre seguidos por seu guardião. Por duas vezes que cavalgaram, a parada final era à sombra de um ingazeiro à beira de um córrego enquanto que ele, ficava de longe, descascando a cana e mastigando seus doces gomos. Assim lhes proporcionava intenso enlevo. A ânsia de beijar lhe aflorava ardentemente à boca e a quentura lhe ardia o corpo. O amor se transformava rapidamente em desejo carnal, mas, recuava, sorria e lhe pedia para esperar.
À noite, ele e o irmão dormiam no mesmo quarto; enquanto que ela, só podia vê-lo pela manhã na cocheira, na sala, na reunião à mesa do almoço ou jantar, ou, junto de sua mãe que sorria pela felicidade da filha. Todo esse aparato perto dos pais e dos irmãos era quebrado quando saiam. Somente o irmão, como guardião, sabia de tudo.
Armando chegara na sexta feira. Pretendia ficar uma semana. Ela queria casar, mas, os irmãos não concordavam com a presença dele na Fazenda. Teria que levá-la... ela, concordava, mas, para onde? Pensava Armando. Morava numa pensão, ganhava pouco e além do mais, ainda não havia completado os dezoito anos. E isso, quando eles souberam, no final da tarde de domingo, levaram-na a um canto e só não a espancaram porque a mãe pulou na frente. Mesmo desrespeitando a presença da mãe, eles a chamaram de irresponsável, doida, sem juízo e outras coisas mais, enquanto que, Armando, ouvindo a tudo, questionava desaprovando as atitudes e as descortesias dos irmãos.

Parado no meio da estrada, ele olhava o irmão caçula, admirando seu altruísmo. Somente ele nada falara. - Admitia. Somente ele aceitara de bom grado o nosso namoro às escondidas e o possível casamento; somente ele se prestara a levar-me de volta para tomar o trem para Cachoeiro. E agora estava ali, tentando descobrir o que nos ameaçava, fato real dado a ausência do silêncio. Mas, não via nada e nem entendia sua súbita intuição, ao menor movimento de algo no mato.
Lembrava-se dela. Depois de ser ameaçada de tudo, até de ser levada para um casebre e ser deixada ao abandono, ela começou a chorar e ao explodir em desespero e gritando, deixou extravasar toda sua ira:
“- Quando, pelo Amor de Deus, vocês hão de me deixar casar com quem gosto? Até quando vocês hão de interferir na minha vida se já estou com vinte e cinco anos... e vocês... todos vocês estão casados!”
Ouve silêncio. E foi assim. Muito constrangedor. Sentiu-se um intruso, apesar de haver sido convidado por ela. Mas logo ficou sabendo que ela, em nada mandava. Teve apenas meia hora, não mais, para conversar com ela e nada ficou acertado. Ela queria seguir com ele; fugir, mas, seria deserdada. Antes do anoitecer, trocaram apenas um olhar e ela lhe deu, como prova de seu sublime amor, um sabonete para que ele nunca a esquecesse. Quando resolveu entrar no quarto, e já estava escurecendo, deram-lhe uma vela, porque, o lampião, lhe fora tomado alegando estar sem o querosene. Passou quase que a noite inteira desperto; temia por uma emboscada. O dono do quarto dormira em outro, sem lhe comunicar. A hostilidade dos irmãos o abalara.
No outro dia, segunda feira pela manhã, Armando, vestindo o mesmo terno com que chegara, subiu na charrete e lhe disse adeus. A viu chorar na despedida. Bem que ela não queria voltar para sua casa, depois da operação. - Lembrou-se - Mas, sabia que ele seria bem recebido e que a levaria ao altar, com o consentimento dos Pais e dos irmãos, porém, depois daquele entrevero, veio as claras de que ele, casando-se com ela, não poderia ficar trabalhando na Fazenda como os demais no dia a dia; participar das colheiras e ter um cantinho como os demais, que ao se casarem, construíam suas casas ao redor da fazenda. Porém, os atilhos os atavam na pretensão à superioridade, e, por assim dizer, jamais admitiriam uma divisão a quem quer que desposasse a irmã. Preferiam sacrificá-la, deixando-a sem marido a ter que dividir a propriedade com alguém de fora. Lamentou-se, pela arrogância e insensatez de todos sobre a pobre irmã.

- Vamos que está ficando tarde! Disse-lhe Armando consultando o relógio enquanto que ele permanecia com o olhar fixo a um ponto da mata. Já havia vasculhado todo o ambiente. Nada de suspeito. Num segundo, ele fez o cavalo rodar e romper o passo mais acelerado que antes estrada em fora, e seu cachorro, latindo.
Na pequena cidade, ao descer da charrete, apertou educadamente a mão do lavrador e desculpou-se por tentar ser mais um membro de dua família... Ele pouco entendeu. Depois, seu rosto contraiu-se revelando um desgosto pelo acontecido e ouviu de sua boca:
- Falou muito sobre você... recomendou-me sobre sua vinda... Comecei a ficar com ciúmes, você sabe... é nossa única irmã! Mas depois, você sabe... Por mim, tudo bem, mas eles não deixam e eu, sou apenas o irmão caçula!
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Cinco meses depois, ao completar dezoito anos, Armando pediu demissão da fábrica e se mudou para o Rio. Dois anos após, voltou para buscar um documento e se hospedou na mesma Pensão. Não devia tê-lo feito! Ficou sabendo que ela havia fugido da Fazenda para encontrá-lo na Cidade que o conhecera e visitado a mesma pensão. Possivelmente, a vã tentativa fez com que ela nunca mais voltasse aos seus familiares, primeiro porque,  naquela época,  a menina que saísse de casa, seu retorno não seria aceito; segundo, o pavor de rever  seus irmãos, sem contar,  contudo, com o biliscão da ideia de liberdade, coisa impossível até em então  em sua vida.  Só que, jamais voltaram a se encontrar.

Solano Brum
Enviado por Solano Brum em 09/02/2017
Reeditado em 19/08/2023
Código do texto: T5907694
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