Nostálgico Coração
- Tens que vir ou irei te achar por onde anda meu coração!
É possível que te chame Mônica ou Marisa - nomes comuns na tatuagem da pessoa.
Não deves gostar de televisão (perderemos o nosso tempo!).
Terás mãos macias, olhos verdes, azuis, negros, nariz pequenino. Terás a cor de noturnos tesões e um espírito multicolorido.
Sairemos rodando num táxi, com o dinheiro contado para uma noite perfeita. Engoliremos estrelas como aperitivos. Serei um Romeu, mascando chicletes. Serás uma Julieta numa calça desbotada.
Abriremos as janelas da noite e as portas do desejo. Despejaremos nos lençóis sílabas perdidas em devaneios poéticos. Pronunciaremos palavras embriagadas de lirismo.
Desarrumaremos nossos corações suados. Arrancaremos dos olhos uma paixão míope. E no calor das línguas realizaremos o abraço fatal.
- Tens que estar ou eu ir por onde manda o meu coração!
Doeu? Ninguém saberá... Nas costas, a geometria do orgasmo. Na boca, um rabisco de batom.
A noite fecundou o começo de uma história. Amanhã será sábado. Há um barzinho ao ar livre. Iremos? Dirás que sim, mastigando os segredos de nossa intimidade. Ou, quem sabe, um talvez, com o hálito do amor. Fomos...
- Tens que vir ou te fabricar na máquina-coração!
Passaremos sábado e domingo juntos, trancados no quarto. Navegaremos mais tarde na preguiçosa esperança da segunda-feira. Não falaremos demais. Colocarás tuas roupas amassadas - as mesmas do encontro de sexta. Não sairemos conforme o combinado. Ficaremos abraçados, assistindo a um filme no Netflix, enquanto pensas numa boa desculpa para voltar pra casa.
Tomaremos um copo d’água e me abraçarás como que sufocando uma pretensa despedida. Fecharei a porta e balançarei a mão num súbito adeus...
- Tens que vir ou colocarei um anúncio no jornal: “procura-se um amor de fim-de-semana que valeu pelo ano inteiro!”.