Apenas uma história de amor
Era o fim. Não haveria mais volta. E ele mesmo queria acreditar que nunca mais voltaria com Márcia. Por isso, procurava outro sentido na vida. Qualquer sentido que o afastasse por completo das lembranças daquele amor em que Ronaldo tanto acreditava. Mas era o fim.
De vez em quando ia ao cinema para chorar.
- Lá é escuro. Ninguém conseguirá me ver - dizia.
Às vezes, assistia a mais de uma sessão. Queria que as horas passassem logo. Queria que o dia terminasse o mais rápido possível. Não via a hora de acabar com aquela dor.
Ele sentia como se alguém tivesse puxado o seu tapete. Agora estava caindo, caindo, caindo. Parecia que a queda nunca cessaria. E a aflição em seus olhos era visível e aterrorizante.
E Márcia, o que fazia?
Por enquanto, pensava em Ronaldo. Nem que fossem cinco minutos do seu dia, mas pensava. É claro que andava atarefada demais. Estava, inclusive, estudando bastante para terminar o seu curso de Direito. Estudando tudo aquilo que não havia estudado durante os cinco anos de Universidade. E estudar seria também uma forma de fuga, evitando o desvio para outros pensamentos.
Márcia não queria ter tempo para pensar em Ronaldo. Não queria ter tempo para pensar em coisas de amor.
- Eu posso sofrer novamente. Eu posso querer de volta a minha vida a dois. Eu posso... Não, eu não posso. É melhor fazer outras coisas. Pensar nisso machuca demais.
E assim, duelava com os seus pensamentos.
Ronaldo, quando ia dormir, ficava lembrando dos seus momentos com Márcia. Às vezes, chorava ao lembrar de como foi feliz ao seu lado, de como era bom ficar discutindo sobre a relação, de estar buscando renovações, soluções para os pequenos problemas da convivência.
Ronaldo e Márcia viveram momentos muito bons, de intensas descobertas. Foi como se eles tivessem colocado toda a vida dentro da relação. Muitas vezes choraram juntos ao verem o quanto eram parecidos em muitas coisas, o quanto se completavam e se admiravam.
Um dia, eles sentaram pra conversar sobre o namoro. Falaram, falaram, falaram. Não queriam andar pra trás. Agora, era preciso avançar. E avançaram. Mas depois se perderam no meio do caminho. E já não podiam voltar. Só que também não sabiam como seguir em frente juntos.
Antes, eles tinham o poder do diálogo. Após as conversas, voltavam a sorrir e fazer da vida uma constante diversão. Depois a mudez se tornou maior. Nas madrugadas, nenhuma palavra, nenhum sinal de que estava valendo a pena continuar com aquela história de amor.
O silêncio inventou a cruel indiferença. O silêncio serviu de preparativo para o famoso the end das relações amorosas. Promoveu a repulsa entre Márcia e Ronaldo. Era, então, uma forma de grito, de pedido de socorro.
Os dois já não conseguiam disfarçar o olhar perdido, a falta de paciência com o outro. Já não conseguiam disfarçar que o amor havia fugido pela janela, e o que é pior, nada deixou escrito no espelho do banheiro. O amor fugiu de mansinho pra nunca mais voltar. E Ronaldo e Márcia não sabiam esperar. Tinham pressa de voltar para o lugar de onde, um dia, também fugiram para se livrar do tédio da falta de um grande amor.