ÀS MARGENS DO LAGO PROFUNDO - CAPÍTULO V

Chegando à cabana, organizaram tudo e se sentaram na varanda assistindo Serena e Laio brincando com a bola comestível, beberam chá com limão e relaxaram simplesmente. Meia hora, depois Afonso disse que iria trocar de roupa e mergulhar, para garantir o jantar, então Amely disse que só queria que ele acendesse fogueira e colocasse a grelha em cima, hoje o jantar era com ela, seria surpresa, com o trôco do valor que Afonso deixara com ela, comprara 04 enormes bifes para grelhar com legumes e cebolas na fogueira, duas latas de ração úmida e um bife para cada um era a surpresa para Laio e Serena.

Ela e Afonso comeram filés com cebolas e legumes grelhados, suco de laranja e bolo de mel de sobremesa, foi uma noite maravilhosa. Quando entraram em casa, Amely deu de presente para Afonso, um canivete multiuso, e ele lhe deu o pijama cor de rosa, que ela por sinal adorou, se abraçaram em agradecimento, se separaram rápido, pois seus corpos gostaram do contato e isso os asustou à princípio, deram boa noite um ao outro, se recolheram, Afonso na barraca do lado de fora e Amely no quarto. Amanhã era um novo dia, mais uma vez, Serena ficou na varanda e Laio acompanhou Afonso, ao que parecia, eles estavam dividindo os "donos", o destino estava criando laços poderosos nesses quatro habitantes às margens do lago profundo e frio.

A manhã chegou com um vento bem frio, prenúncio do Inverno que já se avizinhava, tiraram o dia para armazenar tudo o que fosse possível. Depois do café reforçado, Amely foi colher todas as frutas, gravetos, sementes secas, folhagens e ervas para chá que pudesse carregar, colocou tudo o que era para os arranjos para secar, enquanto havia sol, pois em uma semana aproximadamente, isso não seria mais possível. Afonso e Laio fizeram vários mergulhos e conseguiram um bom número de peixes, Afonso limpou todos, salgou alguns, e correram pra casa, onde Amely já estava a espera deles com toalhas e chá quente para os dois, excepcionalmente, naquele dia, deu para Laio e Serena meio pedaço de bolo de mel, e os deixou próximo à lareira, o que os dois muito agradeceram, com muitas lambidas e abanos de cauda.

Já com roupas quentes, Amely e Afonso, grelharam peixes, deram alguns sem tempêro para Laio e Serena, mais um pouco de ração. Em outros peixes, eles grelharam com sal, ervas e pimentas, acrescentaram batatas, Amely fez chá de maçãs com mel, e comeram dentro de casa, pois estava muito frio, conversaram trivialidades, coisas de "família". Depois ficaram sentados no chão junto à lareira, fazendo carinhos nas barriguinhas de Laio e Serena e eles estavam adorando os mimos recebidos.

No começo da noite a temperatura estava mais fria, mas, não tinha vento, é o Inverno estava bem próximo mesmo. Foram juntos colocar todas as frutas maduras ou quase maduras em cestos separados, no chão da cozinha, até tinham conseguido armazenar uma boa quantidade, e com o frio era mais difícil que elas estragassem. Agora, tinham laranjas, limões, melões e umas frutinhas vermelhas bem doces, das quais não sabiam o nome, mas, eram bem gostosas e raras, só as encontravam, em um único arbusto junto às árvores. Amely aproveitou para fazer compotas de maçâs e das frutas vermelhas, verificaram tudo o que tinham estocado e perceberam que o dia seguinte, teria que ser reservado para pegar água potável no rio, e dar uma última passada no armazém, para finalizar as compras para o Inverno, daqui há alguns poucos dias, seria impossível atravessar a estrada.

Afonso perguntou a Amely se ela precisava de alguma coisa, ela pegou sua carteira e disse que o valor que ela tinha, daria pra comprar um casaco e meias mais quentes, ele pediu que ela guardasse seu dinheiro, amanhã depois de guardados os galões de água, eles iriam até a cidade fazer compras, pois haviam comprado pouco café e um bom chocolate quente, caíria muito bem no Inverno, e assim fizeram. No retorno passaram por uma área meio descampada, onde avistaram abóboras e resolveram pegar algumas, exatamente duas bem grandes e uma um pouco menor, não tinham dono mesmo, eram obra da natureza. Laio e Serena deram uma corrida para fazer suas necessidades e pularam de volta dentro da carroceria do furgão.

Chegando em casa, acomodaram as abóboras em cestos na cozinha, Amely guardou seu caso, meias e um agasalho mais fino no armário do quarto, preparou e serviu um chá de ervas e maçãs para todos, sem açúcar para Laio e Serena, colocou ração em seus potes, reabasteceu sua água em outros, disse para Afonso que ele poderia ir relaxar, que ela iria fazer o almoço, lhe deu mais chá e um biscoitos salgados, junto com uma boa fata de queijo, e disse que era para ele retardar a fome, pois o almoço hoje iria demorar mais um pouco, mas, seria caprichado, com o que ele concordou rapidamente, estava realmente cansado de tanto carregar galões de água.

Amely queria agradá-lo (riu em pensamento), fez uma torta de maçãs, um torta de abóbora recheada com ervilhas, cebolas, ervas, peixe salgado, cozinhou batatas e fez um purê, fritou dois ovos, preparou suco de laranjas com rodelas de limão, adoçou com um pouquinho de açúcar branco, fez biscoitos de canela, a cabana estava ficando maravilhosamente perfumada, ela fizera tanta coisa, que certamente sobraria para o jantzr. Atá os animais rondaram pela cozinha atrás dela, pois o aroma estava divino. Sentaram, comeram com fome e prazer, estava tudo muito saboroso. 

Afonso estava plena e sinceramente, bôbo e encantado, Serena e Laio estavam com os olhos tão pedintes que Amely colocou em suas tigelas um belo pedaço de torta de abóboras, sem o recheio e nesse momento ela ganhou de vez seus corações caninos e ainda amealhou de quebra, dois fiéis e leais amigos de quatro patas.

Depois dessa baita refeição, só indo mesmo tirar um cochilo dos reis, antes abriram a porta, para que Laio e Serena fossem fazer suas necessidades e pudessem esticar as patas, mas, eles voltaram bem rápido, apesar de sem vento o ar estava bem frio, eles correram logo pra perto da lareira, onde Amely lhes deu chá de maçãs bem quente, sem adoçar. Afonso foi buscar em cima do armário do quarto, um saco de dormir e algumas mantas, para se abrigar junto à lareira, avivou o fogo da lareira, colocou mais lenha, e Amely no quarto e ele os cães junto ao calor do fogo, tiraram uma boa soneca.

Acordaram com Serena e Laio arranhando a porta da cabana, querendo sair, pois as suas necessidades eram preementes, eles foram e voltaram num pinote só, estava muito, muito frio mesmo, e o vento que fazia parecer que estava mais frio ainda. Amely foi fazer um suco de limão, serviu dois copos, fez café, adoçou, serviu duas canecas com fatias de torta de maçãs, chamou por Afonso e se sentaram na sala para comer, pois estava mais quente por lá. Amely perguntou se a sua presença o estava incomodando, ele disse que não, pois gostava de sua companhia e os cães também, ainda assim, ela insistiu, que estava sem graça de desacomodá-lo.

Ela agora não tinha emprego, nem parentes, nem pra onde ir. A cidade era pequena e não havia empregos por lá, ela já havia se informado nas suas idas até a cidade. Afonso disse que ela não se preocupasse, ela podia ficar o quanto quisesse e falava sinceramente quando disse isso, ela não sabia, mas, já morava em seu coração. Disse também que se, no dia seguinte o tempo estivesse melhor, ele iria até a cidade comprar madeiras e outros materiais e diminuindo um pouco o quarto e a sala, daria pra fazer um outro quarto de mesmo tamanho, sem problemas e assim ambos ficariam confortáveis, se a companhia dele não a chateasse eles poderiam conviver e trabalhar juntos nos arranjos, cuidariam da casa e dois animais, como dois bons amigos.

Amely disse já gostar bastante de todos e tinha certeza que seria feliz ali e a conversa acabou por ali. Ficaram na sala folheando revistas e jornais, que haviam trazido da cidade em sua última passagem por lá, quando a noite já estava bem adiantada, alimentaram os cães, jantaram as sobras do lauto almoço, guardaram o que sobrou, liberaram os cães, aguardaram sua volta, e foram dormir, de manhã ele iria até a cidade compras o que faltava e as madeiras para o novo quarto da cabana.

Cristina Gaspar
Rio de Janeiro, 28 de março de 2015.
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 28/03/2015
Reeditado em 29/03/2015
Código do texto: T5186626
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