O LENHADOR, A DESCONHECIDA, E OS FANTASMAS


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Passos na entrada, um ruído muito estranho, para um casarão há muito tempo habitado, por uma só pessoa. Henrique se inquieta, mas, não altera sua posição no sofá, está acostumado com os barulhos daquele antigo solar.

Os passos na entrada, cessam e parada, a sua frente, vê uma mulher de aparência envelhecida de roupas surradas e sujas, seus olhos não possuem expressão alguma. Henrique apenas a observa, tantos são os fantasmas que o assombram, que a aparição, não lhe causou espanto e ele permaneceu sentado como estava, mas, a mulher era real. Ela cambaleia e cai desmaiada. Ele é um solitário há tantos anos, que de pronto não soube como agir, saindo de seu torpor buscou dentro de si, o ser humano que ali ainda existia e reagiu, para tentar socorrê-la.

Henrique é um homem grande de mãos fortes, herança de tantos anos de trabalho como lenhador. Embora já tenha uma certa idade é um homem corpulento, com uma barriga um pouco, saliente e cabelos bastante grisalhos. Ergue a mulher de muito pouco peso, apesar de ser uma pessoa de boa estatura, quase tão alta quanto ele. O cheiro acre que exala dela, faz arder suas narinas. Tenta reanimá-la com conhaque e álcool para cheirar, mas, a mulher está muito enfraquecida, ele optou então, por retirar suas roupas e deitá-la na banheira no andar de cima. Com o apoio de um travesseiro, apoiou sua cabeça, para que ela não escorregasse, a água morna começou a fluir e com cuidado, limpa aquele corpo magro e inerte, ela não recupera a consciência, parece adormecida, pelo ritmo de sua respiração. Não tem marcas de maus tratos no corpo longo e esguio, tem seios pequenos como ele constata, cheio de pudor. Ele a veste com um camisão de pijama, a acomoda em dos quartos da casa, a cobre, tenta mais uma vez, que sorva um pequeno gole do conhaque, mas, sem sucesso. Corre até a cozinha, aquece uma lata de sopa de legumes, senta-se à cabeceira da cama, apoia o corpo da mulher junto ao seu, para que possa ficar com as mãos livres, para tentar fazer descer, com cuidado, pela garganta dela, alguns goles da sopa, o corpo reage, como que no automático, ela entreabre os lábios e ele consegue, com que ela sorva bem devagarinho, quase a metade do líquido morno, ela suspira, e o corpo relaxa, ele então, a acomoda melhor na cama, sai, deixando a porta aberta e volta para arrumar a bagunça que deixou pelo caminho. Decide jogar fora as roupas úmidas e sujas, não encontrou nenhum documento ou qualquer outro objeto que pudesse identificá-la. Quem seria essa mulher. A curiosidade, estava aguçada.

Sua rotina de anos foi rompida e ele não sabe bem o que fazer, o casarão fica bem distante, do centro da cidade, quase dentro de uma floresta onde ainda desempenha seu trabalho. Como ela conseguira chegar até lá, estando, tão enfraquecida e bem próximo ao casarão, ainda corre um rio caudaloso, apesar de não ser de muita profundidade. Muitas perguntas sem resposta.

Após alguns minutos, ele retorna ao quarto, onde instalou a desconhecida, ele repete o processo, agora, com leite morno, e desta vez, ele consegue que ela tome, todo o copo, ela parece mais relaxada, mas, não acorda, só suspira. Henrique, resolve aguardar, vai a procura num dos cantos do mesmo quarto, de um antigo baú, onde estão guardadas, algumas roupas femininas, lembranças, de um dos seus fantasmas do passado, não são modernas, mas, vão servir ao propósito, muito melhor, que suas próprias roupas, rústicas e enormes. Faz uma ronda, do lado de fora da casa, já está anoitecendo, nenhum vestígio ou sinal, da passagem da mulher, de que direção teria vindo, ele se pergunta, tudo muito estranho.

Volta para dentro da casa, vai até a cozinha, abre uma lata de carne enlatada, descasca algumas batatas e vagens, cozinha, tempera, e faz um ensopado, come uma parte, acompanhada de pão, que ele mesmo faz, e guarda o resto, pois a desconhecida, poderia acordar, e ele, iria tentar alimentá-la, com algo mais sólido, mais consistente. O cardápio dele, é muito restrito, não possui, muitos dotes culinários. Além de legumes cozidos, carne e sopas enlatadas, pão e manteiga, colhe algumas verduras de seu quintal, tem leite, uma boa peça, de carne salgada, aveia, algumas frutas de seu pequeno pomar, ovos das poucas galinhas que cria, é um home de gostos simples. Seu passado, ele guarda a sete chaves, tristezas, que o assombram todos os dias, mas, com as quais, ele aprendeu a conviver.


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Fica fumando em sua poltrona, absorto, em seus pensamentos, o sono não chega, como de costume, até que resolve, dar uma olhadinha na adormecida, antes de ir para o seu próprio quarto, ela está como ele a deixara, mantêm acesa a luz do corredor, deixa sua porta também, aberta, toma um banho e se deita, a curiosidade, está, a flor da pele, e seu sono é pausado, por sobressaltos, mas, consegue relaxar um pouco.

Por hábito de trabalho, levantou muito cedo, embora, hoje em dia, já não se embrenhe, tantas vezes na floresta, cumprindo a sua função de lenhador. Apenas trabalha, para manter o seu sustento básico, não tem luxos. Preparou um café forte, pão com manteiga, mingau de aveia, comeu, lavou sua louça, e diluiu numa caneca, um pouco de aveia no leite, tipo um mingau mais ralo, para levar para a sua hóspede inusitada. Subiu até o quarto, onde ela se encontrava, a mulher estava recostada nos travesseiros, enfim acordara, parecia tonta, sem entender bem aonde estava, ele se aproxima, pergunta como ela está se sentindo, e enormes olhos castanhos, o observam, e uma voz, baixa e suave, responde, onde estou?

Henrique chega mais perto, conta como ela apareceu na sala do casarão, o que fez por ela, meio sem jeito, por tê-la lavado, ela não lhe parece ainda, muito lúcida, não responde, ele resolve lhe oferecer o mingau ralo, ela agradeceu com os enormes olhos castanhos, e o tomou com sofreguidão, disse estar com sede, ele correu até a cozinha, lhe trouxe água, e ela bebeu desesperadamente, até se engasgou, ele retirou o copo de suas mãos, disse que ela descansasse, mais um pouco, ela se recostou nos travesseiros, e quase que imediatamente, adormeceu de novo. Henrique pensou, que a manhã seria longa, recolheu a caneca, deixou a jarra com água e o copo, desceu, arrumou a cozinha, tomou seu lugar habitual, fumando no sofá. Pouco depois, fez suas tarefas diárias, retornou ao quarto da mulher e, ela continuava, adormecida, embora fragilizada, tinha a aparência, mais serena.
Já que ela dormia, foi fazer um novo pão, colher algumas verduras, limpou a casa, tarefa ~da qual não se ocupava, constantemente, pois dos doze cômodos da casa, praticamente só usava quatro, os outros estavam fechados, há muitos anos.

Lá pelas onze horas, resolveu preparar um caldo de legumes e verduras, cozinhou ligeiramente, alguns ovos, para que ficassem ainda, moles, fez suco de laranjas, não estava com muita fome, e sua insólita hóspede, não estava com o estômago, preparado, para comida mais pesada. Se alimentou, preparou uma bandeja, talheres, caldo, suco, dois ovos moles, um frasco com sal, meia fatia de pão com manteiga, e a levou até o quarto da desconhecida. Ela permanecia adormecida, mas, se mexia na cama, imaginou que ela, estaria prestes a acordar, deixou as roupas que separara para ela, numa poltrona, acrescentou uma toalha, deixou a porta do banheiro do corredor, aberta, e desceu para a varanda para fumar, melhor deixá-la à vontade, quando acabasse de fumar, iria tomar um café, depois iria vê-la de novo, e assim, ele fez.

Tantos anos sem conviver, com outras pessoas, estava meio enferrujado, pois o dono do armazém, e quem pagava seu trabalho como lenhador, não contava, não eram pessoas, de sua intimidade, aliás, nunca teve amigos, teve sim esposa e filha, mas, não queria reavivar, seus fantasmas. Eles pertenciam ao seu passado, e já o assombravam, em suas lembranças, e o momento, tinha outro foco.

O tempo começou a nublar, e como prevenção, voltou para dentro de casa, fechou portas e janelas, pois naquele pedaço do oeste, as tempestades eram terríveis, graças à Deus, sua casa era de construção, antiga e forte, nunca tivera, grandes danos. Retornou ao quarto da mulher, e ela permanecia adormecida, e suspirando, pausadamente, melhor, deixá-la repousar, o sono, também alimenta. Recolheu, o que levara, deixou apenas o suco. Na cozinha, se desfez do caldo, comeu os ovos com a metade do pão com manteiga, voltou para o sofá, encheu um copo com um pouco de conhaque, fumou vagarosamente, em pensamento, consultou seus fantasmas particulares, lá pelas sete horas da noite, foi dar uma espiada na mulher, ela ainda estava dormindo, retornou até a cozinha, preparou um sanduíche de ovos com um pouquinho de carne levemente aquecida, um copo de leite, e deixou no quarto da desconhecida. Amanhã seria um novo dia, relaxou e foi dormir.

Pela manhã, como de hábito, levantou cedo, cuidou das galinhas, aguou as verduras e plantas, colheu verduras, apanhou ovos, preparou um café da manhã, reforçado, um verdadeiro almoço, para si e, para a sua hóspede inusitada, fez café, pão com manteiga, suco de laranja, um cozido, com verduras, vagens, batatas, carne enlatada, engrossou o caldo, com um pouquinho de aveia, salgou levemente, provou e reservou a panela. Preparou ovos mexidos, com uma sobra de bacon que ainda tinha, somente para si, precisava ir até o armazém, mas, precisava, desvendar primeiro, a saga da desconhecida. Procurou guardanapos, há muito tempo, não os utilizava, se serviu, comeu. Depois, preparou, mais alguns ovos mexidos, colocou tudo em pequenas porções separadas, numa bandeja, e levou até o quarto onde ela estava.

Ficou feliz, por não encontrá-la na cama, a porta do banheiro estava fechada, e as roupas e toalha, que havia separado, não estavam na poltrona, sinal que ela estava mais recuperada. Gritou, junto à porta do banheiro, avisando que, havia deixado alimentos para ela sobre a cama e se, ela precisasse dele, era só chamar, disse seu nome e desceu, nem aguardou resposta.

Arrumou a cozinha, ficou na sala, na expectativa, de ouvir aquela voz, baixa e doce, chama-lo, passados alguns poucos minutos, ouviu leves passos, no andar de cima, uma porta se fechando, e silêncio. Mais ou menos, meia hora depois, ele ouve a voz doce, lhe chamando. Ela estava linda, magra e linda em roupas pouco maiores, do que seu corpo atual, precisava, mas, quando se recuperasse totalmente, pareceriam feitas especialmente para ela. Ele se aproximou, ela agradeceu, disse chamar-se Celine, a fragilidade, ainda nítida, no semblante da mulher, o impediu, que ele a enchesse de perguntas, só quis saber, se ela desejava mais alguma coisa, ela disse que não, e informou, que sua mente ainda estava, muito confusa, só se lembrava, de ter chegado ao casarão, visto um homem fumando, e apagara. Henrique bem que gostaria, de saber mais alguma informação, mas percebeu que ela, precisava se recuperar, talvez assim, se lembrasse de tudo, então, tudo ficaria esclarecido, ela iria, seguir o seu caminho, e sua rotina voltaria ao normal, pacata, inóspita, apenas um dia após outro, e seus fantasmas.

Ele disse, que no baú, ela encontraria, outras roupas, e algumas coisas de toucador, e que ela podia fazer uso, do que precisasse, de uma gaveta no banheiro, tirou uma embalagem nova, de escova de dentes, e, deixou em cima da pia, ela com certeza, iria precisar. Disse, que morava sozinho há muito tempo, era viúvo e tivera uma filha, que também, Deus levara, e que ele estaria, no pomar, ou na varanda, do lado de fora da casa, caso ela precisasse, e saiu, sem esperar resposta.

Focou no trabalho, por algumas horas, cuidando de suas tarefas, fez uma boa limpeza no galinheiro, tirou ervas daninhas da horta, alimentou as galinhas, colheu frutas, as colocou em uma cesta, num pequeno depósito, ao lado do pomar, recolheu alguns ovos, e os pôs no mesmo lugar, o casarão, tinha um banheiro próximo ao galinheiro. Dependurada em um gancho, ele deixava algumas roupas, e toalhas, para que não sujasse a casa, quando a tarefa do lado de fora, era mais árdua. Então, tomou um banho demorado, se enxugou, trocou de roupas, e voltou para dentro de casa, para preparar o almoço de ambos.

Qual não foi a sua surpresa, ao encontrar, uma sopa de batatas, dois ovos fritos, fatias de pão quentinho, e recheado de carne salgada, e que parecia muito saboroso, suco de maçãs com limão, adoçado e cheio de pedras de gelo, tudo muito perfumado numa mesa posta, apenas para um. Aproveitou a grata surpresa, comeu regiamente, lavou tudo, e subiu para agradecer, encontrou sua hóspede, tranquilamente adormecida, com uma camisola, semi coberta, e, suas magras maçãs do rosto, estavam mais, rosadas, havia um copo de suco, meio bebido, na mesinha o lado da cama, acreditou que ela se alimentara, e com o esforço empregado, se cansara, e adormecera. Que bom, ele pensou, ela estava em plena recuperação, melhor deixá-la, em paz.

Sem que ele percebesse, não voltou ao sofá, apenas foi se sentar na varanda, com um copo de suco na mão, e ficou várias horas, apenas admirando a paisagem, o rio, suas águas correndo impassíveis, e sentindo a brisa fresca da tarde.

Já no começo da noite, entrou, para lavar o copo de suco, e dar uma espiadinha em sua hóspede, tudo estava muito silencioso, ao passar pela porta de seu quarto, ela estava acordada e pensativa, nem se deu conta, que ele a observava. Ela fez um sinal, para que ele entrasse, e se sentasse à beira da cama, precisavam conversar. Contou que morava sozinha, em um povoado, que ficava, do outro lado do rio, um pouco mais distante da cidade, do que o casarão onde se encontrava, não era casada e não tinha filhos, nem outra família viva, de que, ela se recordasse.

Suas memórias estavam vindo e voltando, e ela lhe pediu paciência, ele prontamente, a tranquilizou, tinha todo o tempo do mundo, o que importava no momento, é que ela, estava se recuperando bem. Ela prosseguiu, com sua voz doce e baixa, gostosa de se ouvir. Disse que estava, cuidando de suas galinhas, tinha uma granja de pequeno porte, e fornecia, ovos e frangos, para alguns comerciantes da cidade, e alguns poucos vizinhos, que moravam, nas cercanias de sua granja. Sua casa ficava aos fundos, e era pequena, mas, grande para ela, hoje em dia, pois não tinha mais, seus pais, não tinha irmãos, então, considerava, seu lar, um casarão, um abrigo, seus companheiros eram os pássaros da natureza, para os quais, deixava, migalhas de pão e milho socado, todos os dias, uma cadela castanha, como seus próprios olhos, da raça labrador, muito afetuosa, de nome Lua e suas galinhas.


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Era uma moça simples, seu único luxo, era todos os dias, beber um cálice de licor de maçãs, que ela mesmo preparava, e ficar deitada numa espreguiçadeira, ao sol, quando o clima estava ameno, se sentia relada, depois, das tarefas diárias. Só se lembrava, de no retorno da cidade, depois de levar alguns engradados de aves e ovos, para um armazém, nos arredores da cidade, em seu velho furgão, ter batido em alguma coisa, que aparecera do nada, na estrada, e despertar em frente ao casarão ele, entrar, vê-lo, no sofá, e desmaiar. Seu rosto demonstrou preocupação, com seus animais, não tinha a menor noção, de quanto tempo se passara, até que ela aparecesse no casarão e o tempo depois disso, até, àquele momento. Henrique, perguntou se ela saberia dizer, em que ponto da estrada, ela batera, para que ele pudesse, resgatar seu carro, e saber, com o que ela colidira. Ela indicou o caminho, perguntou, se ela ficaria bem, sozinha, e ela aquiesceu.

Ele pegou seu próprio veículo, velho de guerra, e foi até o ponto que ela indicara, e encontrou ao lado da estrada, o furgão de Celine, e não parecia muito avariado, a colocou de pé outra vez, estava apenas inclinado, recolocou os engradados de madeira, dos ovos e aves, e olhando com mais cuidado, percebeu, um animal, pequeno, estirado do outro lado, próximo à frente da carroça, estava morto, era um pequeno veado, com uma pá, que tinha em seu veículo, enterrou o animal, fez, um amarrado, com cordas, para poder rebocá-lo, até sua casa, e retornou. Contou à Celine, o que acontecera, e ela se tranquilizou em parte, estava com os pensamentos, em sua casa e nos seus animais, ele então perguntou, se ela estava, se sentindo bem para que juntos, fossem em seu carro, até sua casa, para tomar, as providências, que fossem necessárias. Ela aceitou, e seguiram no carro dele, até lá.

Chegando na granja de Celine, foram recebidos, por Lua, muito saltitante, de felicidade, pela volta de sua dona, não parecia, faminta, mas, Celine correu para alimentá-la, colocar água fresca em sua vasilha. Juntos foram verificar, o nível dos comedouros, das galinhas, como o mesmo, só estava meio vazio, Celine disse que, haviam se passado cinco dias, desde sua saída do sítio, feitas as contas, antes dela chegar ao casarão, ela ficara andando desorientada, por pelo menos dois dias. Verificaram, toda a casa, o entorno da granja, tudo estava certo. Ao longe, ouviram gritos, chamando por Celine, era uma vizinha, não muito próxima, mas, ainda assim, a mais próxima da granja de Celine, ficara preocupada, quando a cadela, havia aparecido em sua casa, parecendo faminta, veio andando com ela até a granja, chamou várias vezes por Celine, e nada, resolveu então, levá-la para a sua casa, lhe dar e comida, e, mais tarde, quando o marido chegasse, retornariam com ela, para a granja. Assim fizeram, e nada de Celine aparecer, não eram íntimas, mas, ficaram preocupados, sabiam, que ela morava sozinha.

Foram a cidade, e um comerciante, disse que, ela lhe entregara as encomendas, a dois dias, e nada mais, sabia dela, voltaram pra casa, e no dia seguinte retornaram à granja, e Celine, continuava desaparecida, não existe, posto policial, na cidade, então, lhes restava, aguardar, alimentaram Lua, e a deixaram, livre para voltar pra sua casa. E graças a Deus, avistou Celne, mais magra, mas, são e salva. Henrique e Celine, contaram toda a história, para ela, e a preocupação, foi e voltou, pelo menos, tudo, estava bem, e agora, restava, retomar a vida, Celine, agradeceu pelos cuidados com sua cadela, e se despediu, da vizinha.

Henrique e Celine, entraram na casa, sentaram na sala, precisavam resolver, o que fazer, até, que ela se recuperasse totalmente, de pois de muito dialogarem, resolveram, que ele ficaria, por ali, pois a granja requeria muitos cuidados, e seu velho casarão, exigia muito menos dele, e ainda assim, não ficava tão longe, ele iria até todos os dias, cuidar das galinhas, aguar as plantas, e retornaria a granja, bastaria pegar algumas roupas e objetos pessoais, e ficou resolvido assim. Deixou Celine, retornou à sua própria casa, deixou o comedouro das aves abastecido, água suficiente, molhou suas verduras, pegou o que precisava, fechou a casa, e decidiu, que só no dia seguinte, viria pegar o furgão de Celine, hoje o dia havia sido árduo, precisavam descansar. No retorno à granja, ela o acomodou, no antigo, quarto de seus pais, ele ficaria bem instalado, pediu que Celine, fosse descansar, e Lua, a cadela, a tudo acompanhava, com os olhos alertas, mas, pareceu aceitar bem, o novo habitante da casa, e ele gostava de animais, já tivera um cão, quando mais moço, e sentiu muito sua falta, quando ele cumpriu, sua jornada.

Foi até a cozinha de Cilene, verificar, que faria para o almoço, há muitos anos, não via tanta coisa numa geladeira, seus dotes culinários eram parcos, e pensou que Celine, já devia estar enjoada de comer a mesma coisa, todos dias, ele resolveu se esforçar um pouco. Abriu a geladeira, e encontrou muitos legumes, temperos, e achou também, algumas bistecas de porco, no pátio ao lado da cozinha, ele tinha visto, uma churrasqueira, então, elaborou o cardápio, purê de batatas, legumes grelhados, bistecas de porco, achou um molho para carnes, no armário, Preparou uma jarra grande de limonada, adoçou com açúcar mascavo, colocou rodelas de limão e bastante gelo, ficou satisfeito com sua empreitada, estava se sentindo, um marido dedicado, nem se deu conta, do que pensara, depois de muito tempo, estava se sentindo em família, inacreditavelmente, ainda não fumara, uma única vez, estava se sentindo, meio estranho, seus fantasmas, ainda não tinham tido tempo, de visitá-lo, era uma sensação nova para ele. Coisa doida, nem bem conhecia Celine, e ao mesmo tempo, se entendiam, sem muitas perguntas, melhor deixar, que o destino, resolva, tudo isso.

Celine, ficou admirada, com o cuidado de Henrique, na preparação, da refeição, até Lua, o estava tratando como se ele, já fosse o dono da casa, e ele retribuía, todo o carinho. Ela estava, começando a sentir, de novo, como se estivesse, em família. Eles mal se conheciam, melhor deixar o destino, e o tempo, resolver esta questão. Depois do almoço, limparam e reorganizaram tudo, juntos, Celine ainda estava fraca, mas, se recuperando, a olhos vistos. Foram descansar, ela no quarto e ele na varanda. Lua rapidamente, se deitou aos pés, de seu dono adotivo.

O final da tarde chegou, se reuniram na sala, Celine, Henrique e Lua, precisavam conversar, era nítida, a atração que existia entre os dois, mas, não foi sobre isso que falaram. Henrique se abriu, de pois de muitos anos, precisava dividir ou até mesmo, espantar seus fantasmas. Contou que fora casado, com (Júlia), uma mulher séria, caseira, ordeira e muito simples, sem família, desde muito jovem. Não se uniram, por paixão ou amor, talvez, por solidões pessoais. Ambos eram fechados, falavam muito pouco, depois de alguns anos de casamento, tiveram uma filha, seu nome era Joanne, loura como a mãe e imensamente alegre, ela adorava, acompanhá-lo, na floresta, quando ia derrubar árvores, cortá-las e separá-las em toras menores, para poder transportá-las, na caminhonete. Júlia, preparava um lanche reforçado, suco, água e pães, e acrescentava também, algum doce para Joanne, pois eles ficavam fora, por muitas horas. Como, o colégio mais próximo, ficava em outra cidade, as crianças eram alfabetizadas, por seus próprios pais.

Num dia, igual, a tantos outros, Júlia resolveu acompanhá-los, a sombra de uma árvore, se acomodou em uma grande toalha e pôs um cobertor, ao lado, para depois da tarefa cumprida, eles pudessem lanchar, e ficou folheando uma antiga revista de variedades, e vendo Joanne brincando.

Joanne, em sua irreverente inocência, não dando ouvidos ao aviso dele, para que ficasse perto de sua mãe, correu para muito próximo, do lugar, onde cairia, a árvore recém cortada. Júlia percebendo o perigo latente, correu atrás da filha, e a tragédia aconteceu. A árvore caiu em cheio, sobre as duas, e as matou, Henrique, quase congelou, não conseguia dar mais um passo sequer, a cena horrenda, era definitiva, não havia mais o que fazer, só estancar. A dor fora tanta, que seus olhos e boca, ficaram arregalados e secos.

Providências eram urgentes, e buscando forças, fez, com pedaços de madeira, um tipo de alavanca, para que pudesse, removê-las. Ema muita dor, recolher seus corpos, envolvê-los na toalha e cobertor, cavar uma cova profunda, enterrá-las, orar, e enfim chorar, todas as suas lágrimas. Ele nunca mais retornou, àquele ponto, da floresta. Celine, segurou automaticamente, suas mãos, no meio da narrativa, não conseguia imaginar, tanta dor. O desabafo, aliviou e espiou os fantasmas, da alma de Henrique.

Era chegada a hora, de Celine se abrir. Sua história era simples, filha única de pais idosos e granjeiros, eles se foram muito cedo, há mais de dez anos, com uma diferença de um ano entre suas mortes, e Celine, já vinha se preparando, para isso, seus pais foram murchando, e partiram. O trabalho na granja e o extinto de sobrevivência, absorveram, sua dor e o tempo, simplesmente, passou.

Ficaram alguns momentos, apenas, se olhando, foram se aproximando, se abraçaram, e choraram um rio de silêncio, isso fez um bem enorme, aos dois. Se afastaram, Henrique foi para a varanda, Lua, pareceu compreender, se enroscou, em suas pernas, e ficou bem quietinha. Celine preparou um chá gelado, encheu dois copos e também, foi para a varanda. Ela era uma pessoa, mais falante, do que Henrique, então respirou fundo, pois era difícil puxar o assunto. Disse que se sentia atraída por ele, apesar de terem se conhecido, de uma maneira, meio torta, e gostaria de saber se ele também tinha esse sentimento, em relação à ela. Henrique, meio sem graça, a princípio, confirmou, mas, teve medo, de tocar no assunto com ela.

A emoção que os tomou, foi mais forte, do que esperavam, e os tomou por inteiro, se abraçaram e surgiu, o primeiro beijo, um tanto quanto, morno, mas, já era um começo, afinal, precisavam se conhecer melhor, e o amor é amigo da cumplicidade, que já existia entre eles. Lua estava tão feliz, que pulava sobre eles, latindo e correndo, o que os fez dar algumas risadas, coisa, que há muito, ambos não faziam. Teria que ir, dando um passo, de cada vez, e desta vez, não seriam os passos que acompanharam Henrique, por tanto tempo, no casarão.

Não eram tão jovens, não tinha que dar satisfação, a ninguém, de suas escolhas de vida. Precisavam decidir, onde iriam viver, pois por um lado o casarão era muito maior e confortável, mas, seu terreno, não abrigaria a granja, já a casa de Celine era bem menor, mas eram só os dois, e isso bastava, então, resolvido, ficariam da granja. Coisas práticas, precisavam sair dos planos, e serem efetivadas, mas, não hoje. Preferiram se conhecer melhor, com cuidado e carinho. Na granja, essa noite, não houve espaço para os fantasmas, só para um lindo e claro luar, seres revividos, estavam, transformando, aquele espaço, em um verdadeiro, lar.

Pela manhã, após um gostoso café da manhã, preparado em conjunto, cheio de guloseimas, de excelente aroma, pois Henrique, fez um de seus pães, ovos moles, cortou frutas, até deu, escondido de Celine, uma grande fatia do mesmo, coberto de manteiga, para Lua, que a devorou, bem rapidinho. Celine, fez um suco de maçã com limão, bem gelado, preparou uma torta de abóbora, perfumadíssima, com canela, pôs sobre a mesa, geleia de morangos e queijo forte, e assim que o café ficou pronto, saborearam, os quitutes, com prazer. Eles trocavam olhares carinhosos, que diziam tudo, sem palavras. Henrique limpou e organizou, cozinha e quarto, Celine foi trocar a água e alimentar os animais, um novo e radioso dia, começava.

Como resolveram morar na granja, iriam trazer, do casarão, tudo o que fosse necessário. A s galinhas, as roupas, ovos, roupas, frutas, legumes e verduras, que já pudessem ser colhidos, ferramentas, e toda a madeira armazenada no depósito de Henrique. Doariam as roupas de Joanne, para a igreja, e as roupas e apetrechos de Júlia, Celine, disse que iria reformar, e o que não fosse possível aproveitar, seria jogado fora, afinal, iriam viver bem, mas, não eram de muitas posses.


Z


Em uma semana de idas e vindas, a granja parecia outra, Henrique pitou do o exterior da casa, de um tom clarinho amadeirado, pintou também, de branco, as cercas em torno de todo o terreno, podou as plantas, plantou verduras e legumes, a granja já possuía, em seu terreno, árvores, de maçãs, limões, uma laranjeira e um espaço repleto de abóboras. Com a madeira, que ele trouxe do casarão, construiu, um depósito, para sementes, rações, ferramentas, e fez um telheiro, para abrigar, o furgão e a sua caminhonete, ele era muito habilidoso, Celine estava muito satisfeita, sua casa, parecia, um agradável e novo, lar.

Lua a nova e fiel companheira de Henrique, ganhou, uma grande casa nova, e já se habituara, com ela. Celine se recuperou bem, e Henrique, percebeu que, sua "inusitada desconhecida", era na verdade, uma mulher de pouco mais de trinta anos, com enormes olhos castanhos, muito claros, lindos cabelos louro acobreados, um sorriso envolvente, e um rosto, um pouco marcado, pela vida de trabalho, mas, que apesar disso, mantinha um ar suave, era uma bela mulher do campo, Henrique estava muito, feliz.

Durante essa semana, entre momentos de amor, trabalharam muito, organizaram seu novo lar. Celine, era boa costureira, consertou algumas roupas de Henrique, lhe fez, duas novas camisas de trabalho, transformou as roupas de Júlia, pareciam outras roupas. No domingo, resolveram ir até a igreja local, onde encontrariam, com quase todas as pessoas da região, não que fossem muito religiosos, tinham muita fé, isso era certo, e sempre agradeciam pelas dádivas recebidas. Precisavam, avisar, que o casarão estava à venda, e não existia um lugar melhor, para isso, não tinham pressa, era só um assunto prático, para o qual, precisavam dar, uma solução. Assistiram à cerimônia, ao final, cumprimentaram o padre, pelo sermão e, também, algumas poucas pessoas que conheciam, e retornaram à granja.

Quase dois meses, tinham se passado, a granja prosperava, conseguiram, em uma outra cidade próxima, mais, pequenos comerciantes, para vender seus frangos e ovos, e agora, também, para suas tortas de abóboras, pois as abóboras, pareciam, brotar sozinhas do chão, e Celine, resolveu usá-las, de uma maneira rentável, e deu certo, as tortas, eram muito saborosas. Numa manhã de sábado, ela fez um pedido à Henrique, que a princípio, lhe causou, um pequeno temor, e certo espanto, mas, fez, sua vontade. Ela lhe pedira, para ir visitar o túmulo de Júlia e Joanne, na floresta, Depois do café e das tarefas da manhã, Celine colheu flores, colocou água e suco, em uma cesta na traseira, da caminhonete, não iriam demorar.



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A reação de Henrique, ao chegar lá, foi tranquila, diferente, do que ele mesmo esperava, Celine, depositou as flores, ambos fizeram uma oração interior, ficaram algum tempo olhando para a floresta, e quando, começaram a pequena caminhada, de volta à caminhonete, ouviram claramente, a risada gostosa de uma criança, e depois, só os sons naturais da floresta. Lhes pareceu, que os fantasmas, agradeciam, a homenagem e consideração, e que, o riso, devia ser, uma forma de aprovação, para o desfecho de uma e começo, de uma nova história. Se vai existir, um final do tipo " felizes para sempre ", só tempo dirá, mas, já é um começo.


Cristina Gaspar
Rio de Janeiro 12 a 14/02/2015.
Imagens - fonte - google
Cristina Gaspar
Enviado por Cristina Gaspar em 14/02/2015
Reeditado em 23/11/2020
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