Carência
Seus olhos estava avermelhados, sua face carecia de algo. Algo esse, que pelo tempo foi roubado, arrancado sem o mínimo de piedade. Sua cabeça estava confusa, e seus passos era inseguro.
-Tenho medo! Gritou o homem, com um gesto irritado e assombroso.
Medo de que? Interroguei-o, querendo entender tamanho desespero. Fiquei pasmando ao assistir aquela intrigante sena.
-Medo dos bichos devoradores, faminto e cruéis.
Que bichos são esses? Esclareça-me para que possa ajuda-lo.
-Desculpe meu caro, mas me ajudar é quase impossível. Pois todo meu ser já foi destruído. Talvez com sua inteligência conseguirá reconstituir as cicatrizes do corpo, mas a reconstituição da alma é praticamente impossível.
Desculpe minha ignorância, mas onde quer chegar com esse seu discurso emblemático? Falei com um tom de voz meio frenético tentando tomar posse da situação.
- Desculpe meu senhor, a intenção não é te ofender, desculpe, desculpe, desculpe...
Naquele momento vi que algo muito sério tomava conta daquele ser.
Resolvi fazer mais algumas perguntas para tenta-lo te ajudar.
Posso saber de que, e de quem tem tanto medo?
- De vocês. Respondeu ele, com uma voz baixa e acabrunhada.
Mas de mim, não precisa ter medo, sou um ser humano como você. A palavra ser humano, zuniu no seu ouvido. Percebi nos seus gestos ao ouvir o som de minha voz.
- É este o meu medo!
Qual? desculpe, mas não entendi.
- Meu medo é do bicho homem, pois nunca sei qual e, quem vai me atacar.
Naquele momento tive que entender mesmo que de forma confusa que de louco ele não tinha nada, o que existia era uma grande carência de confiança, naquele sofrido rapaz.