O amor está de volta ( I parte )
A manhã de domingo parecia ser igual a tantas outras. O sol regalado entrava pela janela anunciando um dia quente. No quarto amplo a cadeira era conduzida sem obstáculos. Laura acabara de sair do banho se penteava diante do espelho da cômoda antiga.
Era uma mulher bonita! Apesar de ter sido recentemente presenteada com 60 primaveras, a pele clara e saudável ainda tinha um frescor invejável. Conservava os cabelos sem química, com os anos ganharam um prateado matizado com os fios dourados naturais. Nunca dispensava um batom coral, argumentava que este lhe devolvia alguns anos de juventude. Os olhos azuis completavam um perfil que não deixava dúvidas, quanto à beleza que tivera aos vinte anos. Esses buscavam insistentemente uma silueta masculina que andava entre os canteiros do jardim.
¬_ Vamos Adriana, pode tocar para a sala de jantar, não quero perder a hora da missa.
_ Sim Dona Laura. ¬
Adriana era uma antiga funcionaria. Acompanhou a patroa que se mudara de vez para a casa da filha Carulina e tornou-se uma espécie de enfermeira desde o acidente de Laura na escada da antiga casa.
¬_ Bom dia Mamãe! A senhora dormiu bem?
_ Bom dia Carulina! Dormi sim minha filha, já até me acostumei com a insistência desse nervo ciático. Será que não vamos nos atrasar se eu tomar o café? Não quero perder a missa.
_ Não mamãe, ainda há muito tempo. Pode tomar seu café.
Novamente Laura viu o homem no jardim, dessa vez, sentado em uma das cadeiras da grande área coberta.
Pára o movimento que fazia com ao levantar a xícara de café.
_Carulina! Quem é aquele senhor que está no jardim?
Carulina assume um semblante sério e fita decisivamente os olhos da mãe:
_ Mamãe! Precisamos conversar!
_ É sobre aquele senhor?
_ É sim mamãe! E peço-lhe muita calma, pois nosso assunto é delicado.
_ Nossa minha filha que seriedade! Quem é aquele senhor?
_ É o meu pai, mamãe!
Laura teve tamanho choque que precisou ser socorrida por Carulina e se estivesse de pé teria caído. Seus olhos pequenos se arregalaram, sua pele corada ficou tão branca quanto a toalha da mesa, seu coração disparou e começou a tremer visivelmente.
_ Adriana! Corra até a cozinha e traga uma água com açúcar _ Pediu Carulina.
_ Mamãe, acalme-se. Desculpe te fazer reviver esse assunto agora, mas compreenda, eu não tive escolha.
Adriana traz a água com açúcar, num instante.
_Tome dona Laura, vai lhe fazer bem.
Laura tomou toda a água de uma só vez, denunciando que estava mesmo muito nervosa. Em nenhum momento olhou para a janela e não falou mais por alguns minutos, depois se dirigiu à Adriana.
_ Adriana, leve-me para meu quarto.
_ Sim Dona Laura.
Assim que entrou no quarto, Laura disse:
_ Pode ir Adriana, se precisar eu a chamo novamente.
_ Sim senhora.
_ Ah Adriana! Feche as cortinas, por favor.
_Sim Senhora.
Adriana deixou-a tentando organizar suas idéias. Laura contornou a cama e posicionou a cadeira diante do espelho. Olhou-se profundamente, como se quisesse ver seu passado. E viu.
_ Pietro! _murmurou _ Quanto tempo!
Chorou muito tempo, depois enxugou delicadamente os olhos e decidiu não chorar mais. Sua imaginação passeou pelo grande pátio da escola Dom Abelardo Martinelli onde cursou ginasial. No primeiro dia após o retorno das férias de verão, um aluno novo na sua série. Um Italiano. Pietro! Só o nome já a havia encantado. Não podia ser apenas Pedro? Não, tinha que ser “Pietro”, italianíssimo, para bulir com seus sentimentos. Era um belo rapaz. Pele clara num contraste perfeito com os cabelos pretos, sempre jogados na testa em mechas onduladas. Olhos enganadores, ora azuis, ora cinza. Olhava oblíquo, e desgovernou de vez a mulherada da escola. Mas Laura havia conquistado a amizade de Pietro. Foi quem primeiro lhe passou algumas lições e acabaram se encontrando para que ele colocasse as matérias em dia. Isso foi só o começo para que ganhasse também seu coração. Veio o namoro, mas Pietro era um galanteador, estava sempre metido em algum rolinho com outras garotas. Os pais temiam o namoro que chegou ao casamento. Eles tinham razão, as escapadelas de Pietro tornaram-se conhecidas da família. Laura se engravidou, pensando que o filho seguraria a atenção do marido. Nasceu Carulina, uma menina linda e meiga. Pietro era louco com a filha e por algum tempo se aquietou, porém não foi bastante para que esquecesse suas paqueras. Viveram nove anos de um casamento conturbado, até que um dia Pietro não voltou para casa. Uma sirigaita o levou de vez com divórcio e tudo.
Obs: Esse continua em sequencia de mais duas partes...