E ainda assim…
— Combinamos assim… Quando me olhar com carinho eu hei de desviar. Quando me tocar, recolherei meu braço incomodada. Vou tratar teus assuntos com desinteresse e ignorar a primeira vez que chamar meu nome. Quando estivermos entre amigos, jamais sentarei próxima a ti e não quero ouvir seus lamentos quanto a isso.
— E você acha justo comigo? Onde é que eu saio ganhando com isso? Pelo amor de Deus Olivia!
— Nos momentos em que estivermos juntos, sozinhos, eu farei de ti o rei da Mesopotâmia e serei escrava dos seus desejos carnais com uma classe que falta nas putas, pois aquilo que faço Bento, é feito com amor. A luxúria é apenas máscara, mas tu, e só tu Bento, há de ver o pecado real do qual seremos criadores. Eu hei de te olhar com carinho e te ninar em meus braços, vou ouvir suas histórias e farei com que jamais precise chamar pelo meu nome, pois estarei lá, submersa em seu corpo… E unida a ti como se fosse por correntes. Serei sua prisioneira Bento, mas só em nossos momentos.
— Eu preciso pensar… Se me ama por que não me assume como seu amor?
— Porque não nasci para me expor.
— Você é uma cantora de cabaré! Tenha dó Olivia! Tu ganha a vida cantando e abrindo as pernas pra quem quer que apareça!
O silêncio tomou conta do quarto. Lágrimas beiravam os olhos de Olivia e um nó áspero se formava na garganta de Bento.
— E ainda assim… Sou eu que tenho vergonha de ser vista com você.