Raquel VIII
- Já percebeu o quanto precisamos de amor Raquel?
Carlos, com a cabeça apoiada no braço, encostado na cabeceira da cama, perdia o olhar por entre a caótica e delicada bagunça de lençóis.
- Tu está falando de amor com uma eterna apaixonada Carlos, acha que não?
Pernas entrelaçadas. Raquel jogada feito uma boneca da maneira que costuma fazer, cabelos bagunçados sob o travesseiro e dedos inquietos brincando com as costelas de Carlos, “é estranho imaginar que vim daqui” pensava Raquel.
- O sexo desperta a consciência para percebermos que estamos vivos Raquel, é pura epifania… Não nascemos pra viver nas trevas, nascemos pra enxergar as cores e colorir o mundo.
- Com amor?
Seus pensamentos continuavam ocupados, “Costelas não parecem matéria prima suficiente para se fabricar uma mulher”.
- Com amor Raquel.
Este rapaz é tão apaixonado quanto Raquel. Carlos pensa demais, reflete demais, cria teorias sem parar, mas basta uma faísca para que seu peito se aqueça como uma estrela, então, Carlos irradia paz e o otimismo torna-se presente por um tempo, depois toda energia jorrada é absorvida, e tudo se transforma em escuridão, isso o preocupa. Preocupa-se em afundar seu amor por Raquel em sombras.
Este é o momento em que o quarto cai em profundo silêncio.
- Tu acha que nós, mulheres, pudemos ter vindo daqui? - Raquel apontava para as costelas de Carlos.
Sua voz despertou-o do transe e com ela ergueu-se o aroma que brota da sua pele, parece sempre brotar quando ela fala, quando sorri… É dotada de um encanto jamais presenciado em outros corpos.
- Não acho que você tenha vindo de costelas darling, uma costela é pouco para se fazer uma mulher, ainda mais uma como tu.
- Do que posso ter sido feita?
- Bem, das ruas dessa cidade, do oceano… Do centro do planeta terra, de pássaros, de agulhas de tricô, Raquel, e principalmente de sonhos. Talvez você tenha nascido dos sonhos de mil poetas e eu fui apenas um sortudo por ter você materializada no meu tempo.
- E tu Carlos?
- Eu? - surpreendido. Carlos não gosta de mudar sua posição de observador para participante - Eu…
- Você é feito de amor Carlos… É tudo que brota de ti. Já percebeu o quanto precisamos de amor?