Literatura
– Supervalorização da mulher e da natureza
– Como assim, professor?
– Olha, é bem parecido com o Arcadismo. O homem escrevia muito sobre amores inalcançáveis, impossíveis. Alguns até morriam de tanto amor.
– É, e hoje são as mulheres quem morrem no lugar deles.
A aula daquele dia era sobre o Romantismo. Ele era um professor consagrado em sua disciplina. Ela havia descoberto a Literatura fazia poucos anos. Sua maior vontade estava se realizando: aprender mais com o professor André.
André, um homem em seus 30 e poucos anos, bonito, com uma voz incrível. Já tinha andado por vários estados e hoje estava nesse fim de mundo. Via-se claro em seus olhos castanhos o tamanho de seu amor pela disciplina. Não, aquele não era homem de ficar parado.
Nina – esse era o nome dela – tinhas seus 17, uma beleza diferente e uma cabeça de 50 anos. Não viajava muito e quando viajava não se demorava. Em seus olhos, também castanhos, via-se o tamanho de seu amor
pela Literatura e por André. Sim, ela o amava.
– Oi, pessoal...
– Boa tarde! – gritava Nina.
– Calma, meu amor, já ia fala com você. – e sorriu.
Na cabeça dela, aquilo que ele acabava de dizer repetiu-se várias vezes.
“Meu amor e um sorriso”. Ela começou a chorar.
– Você está bem? – disse André, que não sabia dos sentimentos da aluna.
– Sim, sim, nunca estive melhor, professor. Obrigada.
Vá entender. Mulher tem dessas coisas de se emocionar. Não é patético, é maravilhoso. Os dias se passaram. A essa altura, Nina já havia conseguido ser a melhor aluna em Literatura.
Chegaram as férias. Tão sonhadas por alguns, tão odiadas por Nina. Não que ela queria passar o resto da vida estudando, mas é porque ela sabia que, de certa forma, não iria mais ver o professor.
Nina mudou de cidade. Teve que ir com a família por causa do tratamento do pai.
– Que graça tem agora a minha vida? Enquanto estou aqui, ele está lá. Não quero!
O tratamento durou 06 anos e não adiantou nada.
Nina então decidiu voltar. Continuava muito bela e agora era formada em Literatura. Quis se sentir perto do professor.
Mas, e como estaria André? Será que ela o reconheceria?
Nina voltou. A primeira coisa que fez depois de ter colocado o pé na cidadezinha foi procurar o professor na antiga escola e descobriu que ele ainda estava lá. Ofereceu-se como professora e foi aceita.
Adorou fazer o mesmo trabalho que André, na mesma escola, podendo-o ver a qualquer hora. Ele continuava bonito, como se os anos não tivessem passado para ele. Um dia, na sala dos professores, aconteceu o primeiro diálogo depois de anos.
– Então quer dizer que você é a Nina? A nova professora que quer me tirar daqui... – e sorriu com aquele mesmo sorriso.
– Imagina, professor. Você é o melhor no que faz!
– Sabe, você me lembra muito uma aluna que tive. Ela era muito boa em minha disciplina.
– E o que aconteceu? – perguntou Nina, trêmula.
– Não sei bem... Ela teve que ir embora. Queria poder encontrá-la novamente. Ela deve ser bonita como você.
“Queria poder encontrá-la”, “bonita como você”, ela começou a chorar.
– O que foi? Você está bem?
– Sim, sim, nunca estive melhor, professor. Obrigada.
André levantou a cabeça, confuso. Encarou Nina, pegou suas mãos.
– Você... – foi só o que ele conseguiu dizer.
– Sim, e eu senti muita saudade!
E depois de ter falado o que aconteceu, ela o olhou nos olhos e fez o que ela queria há tanto tempo: o beijou.