Amor para nunca se lembrar de esquecer!!! “Conto de amor” Baseado em fatos reais
Ela era ainda bem menina. Morena, rosto redondo, cabelos caracolados, olhos amendoados. Uma mistura de índia com baiana! Uma formosura que só vendo! Ele, um pouco mais velho, cabelos pretos levemente ondulados, penteado para trás. Traços marcantes, nariz e boca bem desenhados num rosto moreno claro. Alto, elegante, charmoso, educado, com pinta de galã de cinema! Seu nome Dário. Ela, Margarida. Eles se casaram bem jovens e logo construíram uma grande e linda família. Não se intimidaram pela falta de condições financeiras, que naquela época, sessenta anos atrás, a situação não era mesmo das melhores. Mesmo assim ninguém nunca ouvira eles reclamar. Só ele trabalhava fora, para sustentar a família que construiu. Trabalhava na única empresa da cidade pacata em que vivia. Uma mineradora que explorava o ouro daquela terra, na cidade de Raposos. A empresa, de nome “Morro velho” pagava muito pouco aos seus funcionários. E a saúde daqueles pobres mineiros se consumia a cada dia um pouco mais, pela poeira de minério que ia se alojando nos pulmões dos trabalhadores. Isso quando não explodiam dinamites e centenas de mineiros morriam soterrados, deixando assim as jovens mulheres, viúvas e com os filhos para criar. Na verdade aquela empresa deveria se chamar “Morro novo.”
Margarida, era do lar. Esposa e mãe dedicada. Trançava seus longos cabelos cacheados, ou fazia um coque. Vestido rodado, sempre a cantarolar. Eram pobres de bens materiais, mas de uma verdadeira e rara riqueza de caráter e exemplo. Difícil encontrar outro casal assim!
Religiosos, como hoje quase nem se vê. Todos os dias reuniam seus oito filhos, cinco meninas e três meninos e todos se ajoelhavam nasala da humilde casa em que viviam, cedida pela empresa, para rezar o terço. Depois, eles cantavam a ave Maria. E a ave Maria do Morro. “Barracão de zinco, sem telhado, sem pintura, lá no morro, barracão, é bangalô...” Ela, uma soprano ligeiro que cantava e encantava corações! Ele tenor, fazendo a segunda voz com ela. Era mesmo como uma sinfonia de pardais que ecoava pelos lares vizinhos e todos paravam para ouvir e apreciar. A outra alegria daquele simples casal eram as festas folclóricas. Folia de reis e a festa do Divino Espírito Santo. Que davam início em vinte e quatro de Dezembro já às vésperas do Natal, quando eles construíam um lindo presépio e uma árvore de tronco seco cobertas com algodão. A festa se arrastava até dois de fevereiro. Depois vinha o carnaval e eles alegremente bordavam as suas simples fantasias para desfilarem na escola de samba da cidade. Ela saía na ala das baianas e ele puxando a bateria. Em Junho, na festa de São João, tinha fogueira no terreiro. Faziam canjica, pés de moleque, quentão, faziam cocada, faziam feijoada, quiabo com costelinha, taioba com angu, com leite comiam o beiju e também tinha macarronada! Era uma farra!!! Em Outubro reuniam em casa todos os grupos da marujada, dos congados das redondezas, da festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Vinham mais de cem pessoas e eles serviam almoço para todos! A rua e a casa se enchiam de gente alegre e de vestes coloridas, tocando, cantando e dançando. O ano se passava, as festas de época aconteciam e aquela família sempre feliz, sempre unida se reunia para comemorar.
A casa bem velha, de adobe, telhado forrado com esteira de palha, também chamada de casa da companhia, pois era cedida para o funcionário da mineradora morar, ficava toda colorida e enfeitada com bandeirolas e flores. Poucos móveis. Na cozinha, um fogão à lenha, onde ela preparava no dia a dia, com carinho, a comida. Era apenas o que ele podia plantar ou comprar. Mas ela nunca reclamava e assava as quitandas que preparava para a criançada. No imenso quintal, uma bela horta, galinhas e porcos engordavam e cresciam. Não havia luxo. Mas havia felicidade. Não tinham dinheiro, mas havia muito respeito por ali. E muito... Mas muito amor! Ele a chamava de “Santa” uma expressão mais pura que o marido pode se referir à sua esposa amada. Nunca se viu ou ouviu aquele casal alterar a voz ou ofenderem um ao outro. Aquele sim era um lar, um ninho de amor! Nas horas de folga, ele trabalhava de pedreiro para inteirar a renda da família. Nunca reclamavam, estavam sempre a cantar, a dançar e a rezar.
Eles perderam filhos ainda criança, mas continuaram a caminhada. Adotaram mais dois meninos. Um também morreu. O outro escapou, porém, era deficiente auditivo.
Mas eles o criaram mesmo assim com muita dificuldade, sem nenhuma distinção dos demais e com muito amor.
Assim a família cresceu! Os filhos casaram, chegaram as noras, os genros, vieram os netos, bisnetos. Aquela tradição de respeito e amor se consolidou pelos anos...
Uma casa humilde onde a paz e o amor eram a bandeira de luz! Sempre aberta para todos que ali batessem à porta e deles precisassem. Nunca negavam nada para ninguém! Cama, comida, banho, atenção, carinho, alegria, uma oração ou até mesmo um bom conselho! E até uns passinhos do samba para quem quisesse arriscar em aprender!Lá até os animais de rua, recebiam guarida!
Mas os anos começaram a pesar nos ombros do senhor Dário, que foi enfraquecendo os pulmões e perdendo assim a capacidade para trabalhar. Respirar já não podia. Foi emagrecendo, e todos s dias o carro com balão de oxigênio parava em sua porta. E foi só sofrimento por longos meses... Até que ele não mais agüentou e faleceu. Foi muito triste ver aquele homem de Deus, indo embora deixando agora a sua “Santa” muito abatida e desencorajada de continuar a sua caminhada. Um pai exemplar! Sem vícios, trabalhador, fiel a Deus. De bom caráter, respeitador, carinhoso e alegre como não se pode mais encontrar nos dias atuais! Ela, uma esposa amável, doce, companheira, guerreira, nunca pensou em reclamar, nem em desanimar de seguir em frente Viveu mais alguns anos dando o mesmo exemplo àquela família bonita e que agora já se multiplicava a geração. Tinha um sonho. Construir uma gruta para colocar a imagem de sua santa de devoção, Nossa senhora de Fátima, que ganhara de presente, de um vizinho muito amigo da família. A gruta foi construída no quintal de sua casa. E assim todos que passavam pela rua, lá podiam entrar e fazer as suas orações. Até missa chegou a ser celebrada ali!
Mais o tempo se passou e ela também, já bem velhinha, adoeceu gravemente.
Sofreu derrame e daí foi só dor. Os filhos cuidaram dela também, com muita dedicação e carinho. Ela chamava por Dário, dia e noite, queria ir embora para junto dele ficar.
E então, enfim, finda a missão. Deus em sua misericórdia divina a escutou e ela também se foi! Hoje quase que se pode afirmar que o céu está em festa e tem seresta toda noite. Agora eles podem novamente rezar e cantar juntos! Quando Dário, pegava uma rosa para ofertar à sua “Santa”, com muito amor, ele sabia que ela era a flor mais bela de seu jardim e a sua esposa querida, também conhecida por Guida, a sua eterna e doce Margarida.
Valleria Gurgel
Ela era ainda bem menina. Morena, rosto redondo, cabelos caracolados, olhos amendoados. Uma mistura de índia com baiana! Uma formosura que só vendo! Ele, um pouco mais velho, cabelos pretos levemente ondulados, penteado para trás. Traços marcantes, nariz e boca bem desenhados num rosto moreno claro. Alto, elegante, charmoso, educado, com pinta de galã de cinema! Seu nome Dário. Ela, Margarida. Eles se casaram bem jovens e logo construíram uma grande e linda família. Não se intimidaram pela falta de condições financeiras, que naquela época, sessenta anos atrás, a situação não era mesmo das melhores. Mesmo assim ninguém nunca ouvira eles reclamar. Só ele trabalhava fora, para sustentar a família que construiu. Trabalhava na única empresa da cidade pacata em que vivia. Uma mineradora que explorava o ouro daquela terra, na cidade de Raposos. A empresa, de nome “Morro velho” pagava muito pouco aos seus funcionários. E a saúde daqueles pobres mineiros se consumia a cada dia um pouco mais, pela poeira de minério que ia se alojando nos pulmões dos trabalhadores. Isso quando não explodiam dinamites e centenas de mineiros morriam soterrados, deixando assim as jovens mulheres, viúvas e com os filhos para criar. Na verdade aquela empresa deveria se chamar “Morro novo.”
Margarida, era do lar. Esposa e mãe dedicada. Trançava seus longos cabelos cacheados, ou fazia um coque. Vestido rodado, sempre a cantarolar. Eram pobres de bens materiais, mas de uma verdadeira e rara riqueza de caráter e exemplo. Difícil encontrar outro casal assim!
Religiosos, como hoje quase nem se vê. Todos os dias reuniam seus oito filhos, cinco meninas e três meninos e todos se ajoelhavam nasala da humilde casa em que viviam, cedida pela empresa, para rezar o terço. Depois, eles cantavam a ave Maria. E a ave Maria do Morro. “Barracão de zinco, sem telhado, sem pintura, lá no morro, barracão, é bangalô...” Ela, uma soprano ligeiro que cantava e encantava corações! Ele tenor, fazendo a segunda voz com ela. Era mesmo como uma sinfonia de pardais que ecoava pelos lares vizinhos e todos paravam para ouvir e apreciar. A outra alegria daquele simples casal eram as festas folclóricas. Folia de reis e a festa do Divino Espírito Santo. Que davam início em vinte e quatro de Dezembro já às vésperas do Natal, quando eles construíam um lindo presépio e uma árvore de tronco seco cobertas com algodão. A festa se arrastava até dois de fevereiro. Depois vinha o carnaval e eles alegremente bordavam as suas simples fantasias para desfilarem na escola de samba da cidade. Ela saía na ala das baianas e ele puxando a bateria. Em Junho, na festa de São João, tinha fogueira no terreiro. Faziam canjica, pés de moleque, quentão, faziam cocada, faziam feijoada, quiabo com costelinha, taioba com angu, com leite comiam o beiju e também tinha macarronada! Era uma farra!!! Em Outubro reuniam em casa todos os grupos da marujada, dos congados das redondezas, da festa de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Vinham mais de cem pessoas e eles serviam almoço para todos! A rua e a casa se enchiam de gente alegre e de vestes coloridas, tocando, cantando e dançando. O ano se passava, as festas de época aconteciam e aquela família sempre feliz, sempre unida se reunia para comemorar.
A casa bem velha, de adobe, telhado forrado com esteira de palha, também chamada de casa da companhia, pois era cedida para o funcionário da mineradora morar, ficava toda colorida e enfeitada com bandeirolas e flores. Poucos móveis. Na cozinha, um fogão à lenha, onde ela preparava no dia a dia, com carinho, a comida. Era apenas o que ele podia plantar ou comprar. Mas ela nunca reclamava e assava as quitandas que preparava para a criançada. No imenso quintal, uma bela horta, galinhas e porcos engordavam e cresciam. Não havia luxo. Mas havia felicidade. Não tinham dinheiro, mas havia muito respeito por ali. E muito... Mas muito amor! Ele a chamava de “Santa” uma expressão mais pura que o marido pode se referir à sua esposa amada. Nunca se viu ou ouviu aquele casal alterar a voz ou ofenderem um ao outro. Aquele sim era um lar, um ninho de amor! Nas horas de folga, ele trabalhava de pedreiro para inteirar a renda da família. Nunca reclamavam, estavam sempre a cantar, a dançar e a rezar.
Eles perderam filhos ainda criança, mas continuaram a caminhada. Adotaram mais dois meninos. Um também morreu. O outro escapou, porém, era deficiente auditivo.
Mas eles o criaram mesmo assim com muita dificuldade, sem nenhuma distinção dos demais e com muito amor.
Assim a família cresceu! Os filhos casaram, chegaram as noras, os genros, vieram os netos, bisnetos. Aquela tradição de respeito e amor se consolidou pelos anos...
Uma casa humilde onde a paz e o amor eram a bandeira de luz! Sempre aberta para todos que ali batessem à porta e deles precisassem. Nunca negavam nada para ninguém! Cama, comida, banho, atenção, carinho, alegria, uma oração ou até mesmo um bom conselho! E até uns passinhos do samba para quem quisesse arriscar em aprender!Lá até os animais de rua, recebiam guarida!
Mas os anos começaram a pesar nos ombros do senhor Dário, que foi enfraquecendo os pulmões e perdendo assim a capacidade para trabalhar. Respirar já não podia. Foi emagrecendo, e todos s dias o carro com balão de oxigênio parava em sua porta. E foi só sofrimento por longos meses... Até que ele não mais agüentou e faleceu. Foi muito triste ver aquele homem de Deus, indo embora deixando agora a sua “Santa” muito abatida e desencorajada de continuar a sua caminhada. Um pai exemplar! Sem vícios, trabalhador, fiel a Deus. De bom caráter, respeitador, carinhoso e alegre como não se pode mais encontrar nos dias atuais! Ela, uma esposa amável, doce, companheira, guerreira, nunca pensou em reclamar, nem em desanimar de seguir em frente Viveu mais alguns anos dando o mesmo exemplo àquela família bonita e que agora já se multiplicava a geração. Tinha um sonho. Construir uma gruta para colocar a imagem de sua santa de devoção, Nossa senhora de Fátima, que ganhara de presente, de um vizinho muito amigo da família. A gruta foi construída no quintal de sua casa. E assim todos que passavam pela rua, lá podiam entrar e fazer as suas orações. Até missa chegou a ser celebrada ali!
Mais o tempo se passou e ela também, já bem velhinha, adoeceu gravemente.
Sofreu derrame e daí foi só dor. Os filhos cuidaram dela também, com muita dedicação e carinho. Ela chamava por Dário, dia e noite, queria ir embora para junto dele ficar.
E então, enfim, finda a missão. Deus em sua misericórdia divina a escutou e ela também se foi! Hoje quase que se pode afirmar que o céu está em festa e tem seresta toda noite. Agora eles podem novamente rezar e cantar juntos! Quando Dário, pegava uma rosa para ofertar à sua “Santa”, com muito amor, ele sabia que ela era a flor mais bela de seu jardim e a sua esposa querida, também conhecida por Guida, a sua eterna e doce Margarida.
Valleria Gurgel