Um presente que veio do coração “Conto de amor”
Aquele hospital se transformara na casa de Davi. O pequeno principezinho de Dona Nazaré e do Sr. Aristeu. Os pais daquele menino de apenas quatro anos de idade, marcados por uma vida de luta intensa na dura espera por um transplante. Nascera com uma grave insuficiência em uma das artérias coronarianas que foi se agravando ao longo dos anos ao ponto dele agora já não mais poder respirar sem ajuda de aparelhos. Assim, a equipe médica que sempre o acompanhou desde o seu nascimento, já não tinha muitas esperanças de vida para aquele garotinho, caso ele não conseguisse um coração em no máximo quatro meses.
Numa espera apavoradora e cruel, a família aguardava assim por um milagre que pudesse salvar a vida de Davi e ele pudesse voltar à escola, a sorrir, a brincar e a jogar bola que era o seu maior divertimento. Era primavera, final de setembro, a professora de Davi, conversava bastante chateada com os pais do garoto, na portaria do hospital,quando soube que ele não voltaria mais a escola e que provavelmente não poderia passar o Natal em casa com a família, junto de seus outros dois irmãos. Sendo assim, a família decidiu que enfeitariam aquele quarto, para receber o papai Noel e que como ele não poderia voltar para casa, todos então reuniriam lá mesmo e fariam uma grande ceia para alegrá-lo um pouco mais.
Quando chegou a segunda quinzena de Dezembro, Dona Nazaré, se desesperou com o agravamento do quadro clínico de seu filho que estava ficando com a pele cada vez mais roxa por faltar oxigenação do sangue. Mesmo assim, com fé e esperança ela comprou uma linda árvore de Natal, adereços, bolas, lâmpadas coloridas, presentes, balas, chocolates e com muito carinho foi dando àquele quarto um toque especial e menos deprimente pra seu filho. Num pequeno aparelho de som, ela colocou CDs de belas canções Natalinas que embalavam as horas mais angustiantes de seu pequeno. Davi, com muita dificuldade para se sentar na cama, pediu a mãe que o ajudasse a escrever a sua cartinha para o papai Noel, pois, ele queria colocar o seu pedido em baixo da árvore e acreditava fielmente que o bom velhinho poderia atender o seu pedido. Escreveu a sua cartinha amavelmente assim:
_ Querido papai Noel, vou deixar aqui o meu pedido para a noite de Natal.
Quero ganhar um coração. Para que a minha mãezinha, o meu paizinho e meus irmãos possam voltar a sorrir e eu possa voltar para casa e todos vivermos juntos e felizes para sempre!
Um beijo do Davi.
Ele não pôde descer da cama para colocar a sua cartinha em baixo da árvore. Nem poderia comer nem beber nada. Mas o pai e a mãe com lágrimas nos olhos, a depositaram lá. Certos de que Deus poderia realizar aquele pedido tão caro, tão raro e que com certeza custaria também a vida de outra criança e a dor de outra família! Mas em nenhum momento duvidaram do poder de Deus. Oraram confiantes que Deus saberia dar o que o filho deles queria e que se assim fosse o merecimento de todos e a vontade do pai que está no céu, aquele desejo se realizaria.
A cidade se agitava já às vésperas do Natal e a família ali, revezando dia após dia, noite após noite. O quadro clínico do filho piorava gravemente. Aquela noite de vinte e três de Dezembro, estava fria e chuvosa. Quando por volta das vinte e três horas, uma freada brusca e um estrondo violento assustaram a todos nas redondezas daquela avenida que situava o Hospital onde Davi se despedia do mundo. Um grave acidente envolvendo dois carros que se chocaram de frente. Um em alta velocidade acabava de ferir gravemente uma linda garotinha de apenas quatro anos de idade que se encontrava no outro veículo! O motorista do outro veículo estava completamente alcoolizado, imprudente, incompetente, entrou na contramão a cento e dez quilômetros por hora, exterminando de vez a graça e a felicidade de uma família que voltava do shopping após terem ido levar a única filha para escolher o teu presente de Natal. Desesperados e também bastante machucados, deram entrada naquele mesmo hospital, com a filhinha nos braços, ensanguentada e desacordada. Mas precisavam ter forças para ouvir a notícia que nenhum pai e nem nenhuma mãe gostariam de ouvir em suas vidas:
_ Sua filha não resistira aos ferimentos. O óbito acabara de se confirmar.
Foram gritos e prantos de dor que rolaram pelos corredores daquele hospital. Até que mais calmos, foram instruídos pela equipe de transplantes que se doassem aquele coração da filha adorada, talvez pudessem devolver a vida, a um garotinho que naquele mesmo corredor, se despedia do mundo sem realizar o seu sonho de ganhar o seu maior presente de Natal.
Assim, Davi, deu entrada no bloco cirúrgico na manhã de vinte e quatro de Dezembro. O seu desejo tinha sido realizado. A cirurgia foi um sucesso e em alguns dias já voltava para casa com recomendações e prescrições médicas, mas com um forte propósito de poder levar uma vida normal para sempre!
Vinte e oito anos se passaram e hoje o Dr. Davi, graduou-se em medicina e fez doutorado em cardiologia. É um dos mais bem conceituados e respeitados cirurgiões do Brasil e trabalha na liderança de cirurgias cardíacas e transplantes infantis de um dos maiores hospitais do estado de São Paulo. Talvez, se aquela família num momento de grande dor, às vésperas do Natal tivesse preferido optar por não doar os órgãos da pequena Carolina, a única filha do casal, eles não teriam ajudado o Dr. Davi a salvar tantas vidas pela vida afora. Permitindo que tantas outras crianças, assim como ele um dia, recebessem um grande presente que vem do coração.
Valleria Gurgel
Aquele hospital se transformara na casa de Davi. O pequeno principezinho de Dona Nazaré e do Sr. Aristeu. Os pais daquele menino de apenas quatro anos de idade, marcados por uma vida de luta intensa na dura espera por um transplante. Nascera com uma grave insuficiência em uma das artérias coronarianas que foi se agravando ao longo dos anos ao ponto dele agora já não mais poder respirar sem ajuda de aparelhos. Assim, a equipe médica que sempre o acompanhou desde o seu nascimento, já não tinha muitas esperanças de vida para aquele garotinho, caso ele não conseguisse um coração em no máximo quatro meses.
Numa espera apavoradora e cruel, a família aguardava assim por um milagre que pudesse salvar a vida de Davi e ele pudesse voltar à escola, a sorrir, a brincar e a jogar bola que era o seu maior divertimento. Era primavera, final de setembro, a professora de Davi, conversava bastante chateada com os pais do garoto, na portaria do hospital,quando soube que ele não voltaria mais a escola e que provavelmente não poderia passar o Natal em casa com a família, junto de seus outros dois irmãos. Sendo assim, a família decidiu que enfeitariam aquele quarto, para receber o papai Noel e que como ele não poderia voltar para casa, todos então reuniriam lá mesmo e fariam uma grande ceia para alegrá-lo um pouco mais.
Quando chegou a segunda quinzena de Dezembro, Dona Nazaré, se desesperou com o agravamento do quadro clínico de seu filho que estava ficando com a pele cada vez mais roxa por faltar oxigenação do sangue. Mesmo assim, com fé e esperança ela comprou uma linda árvore de Natal, adereços, bolas, lâmpadas coloridas, presentes, balas, chocolates e com muito carinho foi dando àquele quarto um toque especial e menos deprimente pra seu filho. Num pequeno aparelho de som, ela colocou CDs de belas canções Natalinas que embalavam as horas mais angustiantes de seu pequeno. Davi, com muita dificuldade para se sentar na cama, pediu a mãe que o ajudasse a escrever a sua cartinha para o papai Noel, pois, ele queria colocar o seu pedido em baixo da árvore e acreditava fielmente que o bom velhinho poderia atender o seu pedido. Escreveu a sua cartinha amavelmente assim:
_ Querido papai Noel, vou deixar aqui o meu pedido para a noite de Natal.
Quero ganhar um coração. Para que a minha mãezinha, o meu paizinho e meus irmãos possam voltar a sorrir e eu possa voltar para casa e todos vivermos juntos e felizes para sempre!
Um beijo do Davi.
Ele não pôde descer da cama para colocar a sua cartinha em baixo da árvore. Nem poderia comer nem beber nada. Mas o pai e a mãe com lágrimas nos olhos, a depositaram lá. Certos de que Deus poderia realizar aquele pedido tão caro, tão raro e que com certeza custaria também a vida de outra criança e a dor de outra família! Mas em nenhum momento duvidaram do poder de Deus. Oraram confiantes que Deus saberia dar o que o filho deles queria e que se assim fosse o merecimento de todos e a vontade do pai que está no céu, aquele desejo se realizaria.
A cidade se agitava já às vésperas do Natal e a família ali, revezando dia após dia, noite após noite. O quadro clínico do filho piorava gravemente. Aquela noite de vinte e três de Dezembro, estava fria e chuvosa. Quando por volta das vinte e três horas, uma freada brusca e um estrondo violento assustaram a todos nas redondezas daquela avenida que situava o Hospital onde Davi se despedia do mundo. Um grave acidente envolvendo dois carros que se chocaram de frente. Um em alta velocidade acabava de ferir gravemente uma linda garotinha de apenas quatro anos de idade que se encontrava no outro veículo! O motorista do outro veículo estava completamente alcoolizado, imprudente, incompetente, entrou na contramão a cento e dez quilômetros por hora, exterminando de vez a graça e a felicidade de uma família que voltava do shopping após terem ido levar a única filha para escolher o teu presente de Natal. Desesperados e também bastante machucados, deram entrada naquele mesmo hospital, com a filhinha nos braços, ensanguentada e desacordada. Mas precisavam ter forças para ouvir a notícia que nenhum pai e nem nenhuma mãe gostariam de ouvir em suas vidas:
_ Sua filha não resistira aos ferimentos. O óbito acabara de se confirmar.
Foram gritos e prantos de dor que rolaram pelos corredores daquele hospital. Até que mais calmos, foram instruídos pela equipe de transplantes que se doassem aquele coração da filha adorada, talvez pudessem devolver a vida, a um garotinho que naquele mesmo corredor, se despedia do mundo sem realizar o seu sonho de ganhar o seu maior presente de Natal.
Assim, Davi, deu entrada no bloco cirúrgico na manhã de vinte e quatro de Dezembro. O seu desejo tinha sido realizado. A cirurgia foi um sucesso e em alguns dias já voltava para casa com recomendações e prescrições médicas, mas com um forte propósito de poder levar uma vida normal para sempre!
Vinte e oito anos se passaram e hoje o Dr. Davi, graduou-se em medicina e fez doutorado em cardiologia. É um dos mais bem conceituados e respeitados cirurgiões do Brasil e trabalha na liderança de cirurgias cardíacas e transplantes infantis de um dos maiores hospitais do estado de São Paulo. Talvez, se aquela família num momento de grande dor, às vésperas do Natal tivesse preferido optar por não doar os órgãos da pequena Carolina, a única filha do casal, eles não teriam ajudado o Dr. Davi a salvar tantas vidas pela vida afora. Permitindo que tantas outras crianças, assim como ele um dia, recebessem um grande presente que vem do coração.
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