CARINHOS COMPRADOS
 
 
 
                            Sim. Comprei um pouco de carinho daquela mulher. Naquela hora eu necessitava muito. Estava carente.
                           No outro dia voltei ao mesmo local e comprei mais um pouco de carinho.
                           Os dias se passavam e cada dia eu precisava comprar mais carinhos.
                            Assim fiz todos os dias durante uns cinco ou mais anos. Na verdade nunca contei os dias e muito menos contabilizei os gastos. Sei que ia longe.
                            Um belo dia acabou-se todo o meu dinheiro. Mas nessas alturas eu já era totalmente dependente daqueles carinhos comprados.
                            Pechinchei e pedi que ela fizesse mais barato e que me esperasse por alguns dias até recompor o meu caixa.
                            Além disso, reclamei que depois de tanto tempo aqueles carinhos estavam bem caros.
                            Por dentro eu me remoia pela decisão e do que falei. Achava que dali em diante não conseguiria os carinhos de que tanto precisava. Mas me enganei.
                           Sem pestanejar ou esboçar qualquer contrariedade ela concordou de pronto com tudo o que eu falei e pedi.
                            Passados mais uns dias aquela bela e especial mulher disse-me sorrindo:
          - Tenho um presente para você. Espero que gostes. E também tenho um pedido a fazer:
          - Entrego-lhe primeiro o presente ou faço o pedido?
                    Apanhado de surpresa respondi mecanicamente:
          - Qualquer um.
          - então vou lhe fazer o pedido primeiro:
          - Quero que de hoje em diante você não vá mais embora. Peço que fique aqui comigo todos os dias e todas as noites. Se você achar que tenho esse direito estou lhe pedindo em casamento.
                           Minhas pernas bambearam e o meu coração deu um tremendo solavanco como se fosse sair de dentro do meu peito.
                          Enquanto eu a olhava atônito e boquiaberto ela complementou entregando-me uma maleta dizendo:
          - Abra essa mala e fique com todo o dinheiro que ela tem dentro. Não contei. Não imagino quanto tem. Mas é todo seu. Este é o meu presente.
          - Na terceira ou quarta vez que aqui você veio eu decidi que lhe queria como homem, como companheiro, como amante, como marido e fiquei esse tempo todo guardando nessa mala cada centavo que você me pagava.
          - Levei uma vida inteira de leviandade vendendo o meu corpo, mas decidi que não precisava de mais ninguém depois que nos conhecemos.
          - Assim aguardei por todo esse tempo sem nunca mais ter me relacionado com quem quer que seja a não ser você.
          - Quero me redimir. Por isso te peço que aceite pelo menos a restituição desse dinheiro, pois os meus carinhos e o meu amor nunca esteve à venda. Eu só queria estar com você e sabia que um dia far-lhe-ia essa surpresa.
          - Você me conquistou o coração, corpo e alma.
                         Abraçamo-nos e nos amamos como nunca fizemos antes. Aquela noite virou dia, que virou noite novamente, raiou o dia e seguimos de tal forma que jamais acabou para nós.
                         Mesmo comprando uns momentos de prazer e de carinhos é importante entender o mundo das pessoas que se vendem por necessidade. De repente ali tem um coração e uma alma bem mais carente do que nós.