Raquel VII
Raquel jogou-se na cama sem ao menos tirar o casaco grosso e molhado, ficara andando no frio, em linha reta durante duas horas. Queimava em febre embora nunca tivesse sentido-se tão fria antes. Ela sorria ao perceber que sempre respondia a pergunta ‘’Como estás?’’ com um ‘’Tudo bem’’, percebia, ali, que tudo fica bem quando termina bem, todas as coisas terminam bem, logo o bem é tão evidente que preocupar-se com o mal é perda de tempo. Tempo. Longe. Carlos.
Dizer “tudo bem" fazia com que pensasse em paz , e paz o trazia para perto. Como se Raquel pudesse forçar sua presença.
É só o frio, outra vez. Vieram os ventos sussurrando seus desafios, embalando-a em carinhos penetrantes e gélidos. Perguntava-se se haveria coração o deus dos ventos, ou se o espaço resumira-se a um buraco de onde brota todo o frio. Anunciava a chegada do inverno, o inverno que congela as flores às almas, mas que trás abraços quentes.
"Nunca houve tempo para você Carlos", repetia de forma constante até que a ideia fixe na mente e não saia. Uma lição, e lições deste tipo não devem ser esquecidas.
Os peitos que são abertos por romances de verão e são preenchidos pelas folhas do outono devem ser fechados quando a hora chega. E chegou, e foram fechados. Entretanto certos belos ventos fazem uma bagunça, causam a desordem e descobrem o peito. Dói o peito, dói meu peito, dói o peito de Raquel.