Quando Tudo Diz Não o Amor Vence
Destino não é uma questão de sorte, mas uma questão de escolha; não é uma coisa que se espera, mas que se busca. _William Jennings Bryan
Na época eu tinha 14 anos de idade, e ele um rapazote com seus 22 anos, nos conhecemos na igreja, onde passávamos maior parte do nosso final de semana. Foi na fase de “eu quero mais do mundo” e “to descobrindo o universo colorido” que nos conhecemos.
Era mais um dia como outro qualquer não fosse eu dá de cara com alguém que há tempos eu não via alguém que eu gostava, mas que de alguma forma fiz de tudo para esquecê-lo. Ele continua lá, na mesma igreja com o mesmo grupo de amigos. Aquele olhar intenso e brilhante, seu jeito (único) de ser que despertaram em mim sentimentos adormecidos, lembranças que naquele momento me vem à tona, e eu sem saída resolvi encara-los de uma vez por todas e até hoje tento entender como alguém que eu mal conhecia e depois de tantos meses longe ainda despertava em mim sentimentos ocultos. Talvez seja o momento de viver um amor intenso e forte, meu primeiro e único.
Meu nome é Flávia, e o dele Ryan. Conhecemos-nos por acaso, em uma igreja que frequentávamos aos domingos, eu não tirava os olhos dele até o fim do culto, admirava aquele cara de aparência franzina, voz mansa, semblante sofrido de um idêntico trabalhador, mas que era o biótipo certo para alguém como eu, não fossem alguns detalhes como: a diferença de idade, uma religião rígida, meus pais, etc. Nossa maior aproximação foi quando uma das minhas colegas,Joana resolveu se “interessar” por ele. Como éramos um grupo muito unido resolvemos ajuda-la há ter alguns minutos a sós com Ryan, mas tinha dois problemas, o primeiro e o mais grave: eu gostava dele.
O segundo, no grupo éramos garotas com idade entre 10 e 14 anos no máximo, já ele era da galerinha dos quase adultos (18 a 25 anos), ‘beeeem’ mais amadurecidos do que nós que mal começamos o ensino fundamental. Eu sei você deve esta se perguntado – Como ela se interessou por uma pessoa bem mais velha? – Eu explico, apesar de andar com garotas da minha idade, sempre fui do tipo de pessoa que selecionava sinuosamente com quem dividir aqueles momentos mais íntimos, pessoa que eu sabia que poderia contar sempre, dividindo e somando experiências. E foi assim boa parte da minha adolescência, e até hoje divido meus momentos com pessoas mais velhas do que eu que eu. E foi por uma dessas pessoas que me interessei Ryan, não era nenhum príncipe, mas tinha lá sua beleza interior, uma inteligência fabulosa, eu aprendi muito com ele. Tinha todas as qualidades que me cativavam. Mas infelizmente ele era o próximo alvo daquela garota, sonsa e insolente que eu costumava chamar de amiga.
Ela não media as consequências para ter o que desejava, mesmo que isso custasse a enorme diferença de idade entre eles. Filha única, evangélica, destinada a ter um futuro brilhante, cabia a mim à responsabilidade de jamais me relacionar com um cara bem mais velho, e com pouquíssimos recursos para sustentar meus “mimos”, ele foi mais um batalhador que lutava para manter seu sustento com honestidade. Já eu uma filhinha de papai cheia de regalias sustentada pelos meus pais que decidiram que eu seria uma futura Doutora. Motivos não me faltavam para eu esquecer Ryan, ele seria naquele momento, um sonho “(im) possível”... Não fosse o amor mudar o rumo tudo. Era noite, em celebração de um casamento na mesma igreja. E eu fui a primeira a ajudar Joana a ficar frente a frente com Ryan. Para mim foi um momento de profunda tristeza a me ver naquela situação, ajudando outra pessoa a estar com ele, não eu, mas eu não poderia voltar atrás talvez fosse à hora de encarar Ryan nem que fosse pra isso. Criei coragem, e pela primeira vez, de uma forma que eu não planejei, cheguei até ele, claro com algumas amigas para não me sentir tão ridícula quanto já estava me sentindo, alias eu estava indo falar para o cara que eu amava que ele deveria conhecer uma garota que por acaso dizia estar apaixonada por ele, e tinha a mesma idade que eu. Ok era uma tentativa eu precisava tentar, também era uma forma que bem lá no fundo do meu coração eu sabia que seria a prova teste, se eu teria alguma chance, mesmo que mínima, afinal ele iria me perceber, notar que alem de uma garota tímida existia um coração que batia, por ele. Pronto! Ali estava eu, frente a frente com o amor da minha vida, aquele que fez meus dias mais intensos, e minhas noites tão longas.
-- Oi, Ryan tudo bem?
-- Tudo, e com vocês?
-- tudo certo. É... É... Sabe a Joana? -- sei o que tem ela? Aconteceu alguma coisa? -- não, não foi nada. É que, que... Algo me paralisou.
E eu só pensava: Porque eu falei? Porque eu não voltei atrás? Afinal era ele, o cara que EU gosto, não ela! Respirei fundo, e lá se foi...
-- Que, o quê Flávia? Fala logo, to ficando preocupado. O que vocês aprontaram? -- não aprontamos nada. A Joana quer saber se você aceita ir conversar com ela. Você aceita encontrar ela depois da festa? Ele sorriu, como se eu estivesse lhe contando uma piada das boas. O que para mim também era, afinal tudo parecia impossível de acontecer.
Pra começar, ele era da igreja e seguia a risca os mandamentos da bíblia, ainda tinha diferença de idade, e mesmo ela sendo uma garota linda, os sentimentos tem que existir, não era tão simples assim.
-- desculpa meninas. Mas acho que vocês são muito novas para falar sobre isso. Diga para Joana que me desculpe, mas não posso.
Ele me olhou profundamente, ali eu percebi que algo estava acontecendo. Então se foi. Meu coração bateu forte naquele momento.
Como da a noticia para Ela?! Também me sentir em cacos, afinal ali eu entendi que ele jamais me daria uma chance, já que não deu para a Joana, a mais bela do grupo. Ela era metida e seca (nada a abalava) só hoje vejo.
Como aguentei alguém assim por tanto tempo? Pessoas secas me destroem aos poucos. Foi fácil dizer pra ela que ele não poderia conversar. E o tempo passou com ele muitas mudanças uma delas, eu já não frequentava aquela igreja, não andava com aquelas “amigas”, estava conhecendo novas pessoas, outra igreja bem distante daquela. Apenas uma coisa não mudou meus sentimentos por Ryan. Incrível, eles continuavam intactos. Retornei depois de uma longa temporada distante, como não poderia ser diferente voltei com os mesmos sentimentos. Mais amadurecida, menos expectativas e mais realidade. Aquela garota bobinha de antes, já estava adormecida, não fosse o reencontro com Ryan. Ele foi o primeiro a vim me receber na porta da igreja. Quando o vi percebi que não havia mudado nada, o corpo magrelo de sempre, a barba por fazer, aqueles olhos castanhos de cílios grandes, seu olhar continuava sereno e intenso igualzinho o da ultima vez.
-- Flávia! Quanto tempo. Que bom que voltou. Espero que dessa vez seja pra ficar. Sentimos sua falta – bem, que ele poderia ter falado: EU, sentir sua falta –. Com um abraço rápido, nos cumprimentamos.
-- Pois é uma hora eu voltaria. E por acaso, foi hoje. Muito bom te ver de novo, é bom saber que fiz falta por aqui.
-- Fez muita falta. Vamos entre, sente-se aqui ao meu lado, o culto já vai começar. Sentei. E juntos assistimos ate o final do culto. Agradável domingo, ainda mais como os velhos tempos, mas agora com mais reciprocidade. Após algum tempo, frequentando a igreja novamente, era obvia a nossa aproximação e cada vez mais, assuntos surgiam todas as vezes que nos encontrávamos. O domingo se tornou especial para nós. Minha mãe nos observava, e nunca aprovou nossa amizade, justamente pela idade e aquela velha historia de um futuro brilhante para mim... Pensar que ela tentou por diversas vezes me subornar para esquecer Ryan, com presentinhos e chantagens baratas. Tudo em vão. Enfim, muitas coisas aconteceram nesse período de aproximação, um episódio marcante em nossa história foi o dia do acampamento que a igreja promoveu para todos os jovens da congregação. Eu não via a hora de estar naquele sitio, com ele, que tinha o dom de modificar meus dias e me fazer rir das coisas mais bobas, deus ele era muito engraçado. Chegando lá nossa aproximação era ainda mais constante, agora éramos o "casal 20" da igreja, talvez fosse o desejo de todos mesmo, e de alguma forma isso conspirava a nosso favor.
Depois de muitas conversas, troca de carinhos de dois amigos bem achegados. Alguém precisava se declarar a vontade de estar perto era cada vez maior. Depois quatro dias de convivência, conversas, carinho. Chega a hora de voltar pra casa. Sintomas de saudade. Muitas coisas mudaram após aqueles dias m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o-s. No dia seguinte já em casa o telefone toca, era Ryan.
-- Alô! -- Oi princesa. Tudo bem?
Agora eu era sua princesa e ele meu moço.
-- Oi, moço. Tudo sim, não fosse à saudade que sinto de você e nossas conversas. Chega a doer aqui dentro do meu coração.
-- Também sinto muito sua fala princesa. To te ligando para te falar uma coisa importante. Eu, assustada e ao mesmo tempo ansiosa, perguntei: -- o que é?
-- Acho que você vai gostar de saber. Estou um pouco nervoso, você sabe sou muito tímido, ta complicado de falar... Desculpa
-- Não se preocupe, o que quer que seja eu vou entender. Fique calmo, tá? Pensei, será que ele vai dizer que não podemos continuar com nossas conversas. Fiquei introspectiva e tensa naquele momento.
-- Princesa, você sabe que desde que no aproximamos muita coisa mudou, não sabe? Então, sei que seus pais tentarão impor no começo, mas mesmo assim quero correr o risco, porque eu descobrir que... Sem você meus dias não são os mesmos, sua beleza e meiguice me cativaram de uma forma que ninguém antes havia me conquistado. Descobrir que gosto de muito de você. E gostaria de saber se você aceita namorar comigo? Mesmo com tudo dizendo não, quero muito lutar por esse amor, pois você mudou minha forma de agir, me ensinou a sonhar e amar. Obrigada princesa, você me salvou! A voz de Ryan estava tremula, e um pouco engasgada. A emoção tomou conta de nós.
-- Só você, moço para me deixar assim. Claro que aceito. Eu sempre quis que esse momento acontecesse, porque você estava em meus pensamentos desde a primeira vez em que eu te avistei.
-- Sempre? – Ele perguntou
-- Sim, sempre. De uma forma ou de outra meu coração sempre foi seu. E quando ficamos longe aquela época só serviu para eu entender que o medo que eu tive de dizer o que sentia, o medo do que meus pais iriam pensar, não poderia nunca ser maior que o amor que sinto por você. Então eu que te agradeço por me esperar todo esse tempo. E não importam os oito anos de diferença de idade, o que meus pais irão falar... O que importa é que sentimos um pelo outro, o resto é consequência desse amor. Amo-te, muito, muito, muito!!!
Choramos. E assim decidimos lutar pelos nossos sentimentos e enfrentar tudo que estaria por vir em nome do verdadeiro sentimento que sempre nos uniu.
Não foi fácil, mas o amor venceu por nós.
Quando o tempo, a distancia, ou até mesmo as pessoas tentarem impedir o verdadeiro amor de acontecer. Não tema, é apenas o destino unindo vocês à maneira dele, do jeito dele. Não permita deixar de viver o que o seu coração anseia, pois muitas vezes o medo nos bloqueia, mas o amor nos liberta e nos ensina o sentido da vida.
O amor constrói pontes. Flávia e Ryan casaram-se tiveram dois filhos (um casal). Construíram uma empresa de sucesso e pode-se dizer que são felizes com tudo que conquistaram através do amor. Lutaram por um sonho, acreditaram no amor e venceram.
É melhor lutar e viver por um amor verdadeiro do que sacrificar uma vida inteira por medo de não conseguir.