NOVÉJIAS MERICANAS: A DESONRADA
NOVÉJIAS MERICANAS: A DESONRADA
Rangel Alves da Costa*
Belina Santalles era inigualável, sob todos os aspectos positivos possuídos por uma jovem, na comunidade onde vivia. Na flor de seus dezoito anos, de pele sedosa e clara, cabelos amigos do vento, corpo em sintonia com a natureza, feições angelicais. Doce, serena, suave, linda mulher...
Foram tais características que o milionário Augusto Fernando Antonio avistou assim que passou pela região numa bela tarde em busca de novas terras para comprar. Como era do seu feitio, primeiro oferecia qualquer valor miserável pelo único pedaço de chão da família, e se esta não aceitasse o negócio começavam as chantagens, as ameaças, as perseguições e até mesmo as mortes.
Acompanhado de um séquito de bajuladores, caminhava todo imponente em meio a moradias empobrecidas, pequenos pedaços de chão para a família cultivar seus meios de subsistência. Adquirindo uma daquelas pequenas propriedades, a vizinhança já podia se despedir do seu quinhão, pois logo seria despejado dali.
No melhor terreno que avistou mandou que batessem na porta, pois pretendia falar com o dono. Como os pais não estavam, a bela Belina Santalles abriu a porta para ver o que desejavam e se deparou com um olhar que a despia totalmente naquele mesmo instante. Tão forte e tão sádico era o olhar de Augusto Fernando Antonio que a mocinha estremeceu de medo e pavor.
Ele mesmo se adiantou e perguntou se poderia falar com seu pai, ao que ela respondeu que estava viajando juntamente com sua mãe e que só voltaria dali a dois dias. Então, astuciosa e maliciosamente o milionário perguntou pelos seus outros irmãos e recebeu a resposta que era filha única. Surgiu um sorriso lascivo na boca do poderoso.
No outro dia, no mesmo horário, montado num belo animal de muitos milhões e acompanhando somente por um guarda-costas, o homem riscou na porta e bateu na madeira. Se posicionando bem junto ao portal de entrada, assim que Belina abriu um pouco para ver de quem se tratava, Augusto Fernando invadiu a casa com a feição mais cínica do mundo.
Um pouco mais tarde, ao sair da residência deixou a bela jovem largada num canto da casa, sangrando, dolorida pelo estupro. Ela já conhecia a fama daquele homem, contudo jamais pensaria que algum dia iria se tornar vítima dos seus mandos e desmandos, das suas loucuras, dos seus insanos instintos sexuais.
Assim, estava ali estirada, deitada, totalmente despida e com marcas por todo o corpo, tendo algumas notas jogadas ao lado, como se aquele gesto absurdo pudesse ser pago com dinheiro sujo, e tão sujo quanto o seu dono. E no instante que ele foi saindo ainda teve de ouvi-lo dizer que voltaria a qualquer momento para levar dali o que lhe pertencia.
Nervosa, amedrontada, dolorida, silenciou sobre o ocorrido quando os pais retornaram. Eles a acharam diferente, assustada, pálida demais e insistiram para que ela dissesse o que estava sentindo. Mas com medo da religiosidade demasiada dos pais, da honradez que era o marco maior entre todos, e sabendo ainda que aquele verdadeiro animal retornaria, ela apenas disse que o senhor Augusto Fernando Antonio tinha aparecido por ali para ver se eles queriam vender aquele pedaço de terra.
Com efeito, três dias após ele desceu do seu animal, de espora na mão, todo sorridente. Nem precisou chamar, vez que o dono da casa logo apareceu. Nem cumprimentou o senhor nem o deixou falar nada, apenas disse que o seu objetivo maior era comprar aquela pequena propriedade, porém tinha desistido, pois estava interessado em adquirir, pelo preço que o homem quisesse vender, algo mais valioso. E perguntou por quanto ele vendia sua filha.
Nesse momento, ao ouvir tamanho absurdo, o trabalhador levou a mão ao peito que havia se enchido de dor. Foi quando a filha ouviu e correu para dizer que não precisava pagar preço nenhum, pois o acompanharia de graça para ser sua amante, pois havia gostado do que ele havia feito com ela há três dias atrás. E contou toda a história.
Os pais em prantos abraçaram a filha e ouviram dela, baixinho, bem ao ouvido, o compromisso que voltaria. Não sabia quando, mas voltaria. E subiu na garupa do animal com um punhal bem afiado escondido debaixo da roupa.
Poeta e cronista
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