MUITO ALÉM DA DISTÂNCIA E DO TEMPO...
Ela subiu e desceu a escadaria da Biblioteca várias vezes. Como sempre, chegara alguns minutos antes, pois detestava fazer os outros esperarem, como também não suportava esperar. Era pontual, mas já estava ali, nesse sobe e desce que refletia sua indecisão, por um bom tempo: 40 minutos.
Nessa espera, pensou em ir embora. Teve medo. Bateu insegurança. Afinal, não foram apenas vinte e seis dias de distância. Foram vinte e seis anos.
Um mês atrás, quando ouviu a voz dele do outro lado da linha perguntando por ela depois de duas décadas e meia de silêncio total, levou um grande susto. Ainda mais que lhe tinham dito que ele havia morrido. Talvez por isso ela emudeceu. Não conseguiu proferir uma palavra sequer, mesmo quando ele repetiu seu nome por várias vezes, na espera que ela respondesse. As pernas tremeram, as mãos suaram e, por fim, num solavanco só, ela disparou um “oi... tudo bem?” aparentemente frio, sem vida, quando o coração dizia exatamente o contrário.
Enquanto ele falava, ela lembrava... Há quanto tempo deixara de ouvir aquela voz que a acompanhou durante, praticamente, a sua vida. Conhecera-o ainda menina e ele, um quase-menino também. Foram amiguinhos, par constante nas festinhas promovidas pelos amigos de adolescência e ele sempre teve o poder de intimidá-la (sem que ela soubesse o porquê). Mas, mesmo com essa sensação, ele a encantava, porque era tímido e falante ao mesmo tempo, e dotado de muita inteligência (ela sempre se fascinava com pessoas inteligentes).
Até que, um dia, numa festa em casa de amigos, ele lhe pediu em namoro. Ela era uma adolescente mais tímida do que ele e muito, mas muito insegura. Aquele pedido tirou-a do chão. Custou a responder. Ray Conniff tocava “Os Brancos Penhascos do Dover” no aparelho de som existente na sala e, junto com o coral do maestro, a voz dele sussurrando ao seu ouvido a justificativa do pedido de namoro... E ela nunca havia namorado ninguém... O braço dele enlaçava sua cintura num aperto carinhoso e ritmado, e seu rosto, por fim, colou-se ao dela, à espera da resposta que custou a vir e que veio, na música seguinte.
Depois dessa noite, passaram a namorar num murinho de uma rua próxima. O beijo... foi roubado! Deliciosamente roubado depois de dois meses de namoro!
Mesmo depois que terminaram, continuaram amigos. Amigos que não podiam se tocar, amigos que se atraíam cada vez que se falavam, amigos que eram mais que amigos, mas que não queriam aceitar tal fato.
Ela casou e ele foi convidado, mas não compareceu.
E continuaram como amigos, distantes, mas sempre presentes em pensamento e em voz. Não perderam o contato telefônico.
O destino – se é assim que se pode chamar – uniu-os mais uma vez, num período difícil da vida dela e ele – o primeiro amigo, o primeiro namorado e depois novamente amigo – estava ao seu lado quando ela se separou do marido, para apoiá-la e orientá-la. Ele havia se formado em Direito.
Toda aquela resistência de ambos, depois da separação dela foi desaparecendo, e os dois não resistiram ao chamado daquela atração incrível que os acompanhava desde adolescentes. E começaram um novo relacionamento: audacioso, sensual, apaixonado, maduro, intenso. Tão intenso que não suportou uma tempestade interior que se formou, causando um grande estrago no coração dela e – quem sabe – no dele, também! E se separaram. Ele, cheio de raiva; ela, cheia de mágoa e de desconfiança, jurando nunca mais querer saber dele, fazendo de contas que nada havia existido e que toda a sua história com ele não tinha tido a menor importância em sua vida.
Até que, depois de duas décadas e meia, voltou a ouvir a mesma voz chamando pelo seu nome... e foi aí que percebeu que aquela história não havia terminado com a palavra “FIM”... que o livro estava inacabado...
Agora estava ali, no alto da escada, esperando o reencontro.
Viu-o acenar, sorrir. Não mudara muito. Ela o reconheceria, sem dúvida, se passasse por ele na rua. E ele também a reconheceu de imediato.
Seu coração não disparou. E não disparou porque, naquele momento, pareceu que os vinte e seis anos foram ontem e que nada havia acontecido para separar os dois. E nenhum dos dois lembrou do “adeus”, como se este não tivesse existido... como não existiu, de fato...
E ela ouviu dele o que jamais imaginou ouvir... a confissão de um amor que permaneceu, independente da distância e do tempo...
Ela subiu e desceu a escadaria da Biblioteca várias vezes. Como sempre, chegara alguns minutos antes, pois detestava fazer os outros esperarem, como também não suportava esperar. Era pontual, mas já estava ali, nesse sobe e desce que refletia sua indecisão, por um bom tempo: 40 minutos.
Nessa espera, pensou em ir embora. Teve medo. Bateu insegurança. Afinal, não foram apenas vinte e seis dias de distância. Foram vinte e seis anos.
Um mês atrás, quando ouviu a voz dele do outro lado da linha perguntando por ela depois de duas décadas e meia de silêncio total, levou um grande susto. Ainda mais que lhe tinham dito que ele havia morrido. Talvez por isso ela emudeceu. Não conseguiu proferir uma palavra sequer, mesmo quando ele repetiu seu nome por várias vezes, na espera que ela respondesse. As pernas tremeram, as mãos suaram e, por fim, num solavanco só, ela disparou um “oi... tudo bem?” aparentemente frio, sem vida, quando o coração dizia exatamente o contrário.
Enquanto ele falava, ela lembrava... Há quanto tempo deixara de ouvir aquela voz que a acompanhou durante, praticamente, a sua vida. Conhecera-o ainda menina e ele, um quase-menino também. Foram amiguinhos, par constante nas festinhas promovidas pelos amigos de adolescência e ele sempre teve o poder de intimidá-la (sem que ela soubesse o porquê). Mas, mesmo com essa sensação, ele a encantava, porque era tímido e falante ao mesmo tempo, e dotado de muita inteligência (ela sempre se fascinava com pessoas inteligentes).
Até que, um dia, numa festa em casa de amigos, ele lhe pediu em namoro. Ela era uma adolescente mais tímida do que ele e muito, mas muito insegura. Aquele pedido tirou-a do chão. Custou a responder. Ray Conniff tocava “Os Brancos Penhascos do Dover” no aparelho de som existente na sala e, junto com o coral do maestro, a voz dele sussurrando ao seu ouvido a justificativa do pedido de namoro... E ela nunca havia namorado ninguém... O braço dele enlaçava sua cintura num aperto carinhoso e ritmado, e seu rosto, por fim, colou-se ao dela, à espera da resposta que custou a vir e que veio, na música seguinte.
Depois dessa noite, passaram a namorar num murinho de uma rua próxima. O beijo... foi roubado! Deliciosamente roubado depois de dois meses de namoro!
Mesmo depois que terminaram, continuaram amigos. Amigos que não podiam se tocar, amigos que se atraíam cada vez que se falavam, amigos que eram mais que amigos, mas que não queriam aceitar tal fato.
Ela casou e ele foi convidado, mas não compareceu.
E continuaram como amigos, distantes, mas sempre presentes em pensamento e em voz. Não perderam o contato telefônico.
O destino – se é assim que se pode chamar – uniu-os mais uma vez, num período difícil da vida dela e ele – o primeiro amigo, o primeiro namorado e depois novamente amigo – estava ao seu lado quando ela se separou do marido, para apoiá-la e orientá-la. Ele havia se formado em Direito.
Toda aquela resistência de ambos, depois da separação dela foi desaparecendo, e os dois não resistiram ao chamado daquela atração incrível que os acompanhava desde adolescentes. E começaram um novo relacionamento: audacioso, sensual, apaixonado, maduro, intenso. Tão intenso que não suportou uma tempestade interior que se formou, causando um grande estrago no coração dela e – quem sabe – no dele, também! E se separaram. Ele, cheio de raiva; ela, cheia de mágoa e de desconfiança, jurando nunca mais querer saber dele, fazendo de contas que nada havia existido e que toda a sua história com ele não tinha tido a menor importância em sua vida.
Até que, depois de duas décadas e meia, voltou a ouvir a mesma voz chamando pelo seu nome... e foi aí que percebeu que aquela história não havia terminado com a palavra “FIM”... que o livro estava inacabado...
Agora estava ali, no alto da escada, esperando o reencontro.
Viu-o acenar, sorrir. Não mudara muito. Ela o reconheceria, sem dúvida, se passasse por ele na rua. E ele também a reconheceu de imediato.
Seu coração não disparou. E não disparou porque, naquele momento, pareceu que os vinte e seis anos foram ontem e que nada havia acontecido para separar os dois. E nenhum dos dois lembrou do “adeus”, como se este não tivesse existido... como não existiu, de fato...
E ela ouviu dele o que jamais imaginou ouvir... a confissão de um amor que permaneceu, independente da distância e do tempo...